por Dom Antonio de Assis Rineiro, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

1. Vocação e felicidade

Indagar-se sobre a própria vocação é muito mais do que pensar no que fazer com a própria vida; é, antes de tudo, reconhecer a vida como dom de Deus e que Ele, desde a nossa concepção, nos escolheu, abençoou e nos predestinou para darmos um sentido à nossa existência vivendo conforme a vida do seu Filho Jesus, sendo capazes de amar e servir (cf. Ef 1,4-5).

Portanto, questionar-se sobre a própria vocação é reconhecer que Deus é nosso Pai e que Ele tem um projeto de vida para nós. Da dinâmica fidelidade ao projeto divino, dependerá a qualidade da nossa existência e nossa felicidade. Vocação e felicidade são inseparáveis.

Como identificar os sinais da nossa vocação? Como podemos reconhecer para onde Deus nos chama? Eis a questão! É necessário reconhecer que não existe uma fórmula para se chegar à descoberta da própria vocação, porém, as descobertas humanas são consequências de um processo de identificação de sinais. Os sinais são como balizas que nos apontam o caminho a seguir.

2. Sinais vocacionais  

  • Atração: o primeiro sinal de vocação é a inclinação que sentimos para assumir um determinado modo de vida. Essa atração se manifesta através do interesse pessoal para com uma determinada vocação. Se alguém não sente atração por uma determinada vocação significa que não é chamado a abraçá-la.
  • Admiração: a atração tem como ingrediente a admiração pelo dinamismo daquela vocação; quem é chamado a uma vocação específica, passa a admirá-la por meio daqueles que a assumiram. Quem deseja ser sacerdote, admira o sacerdócio!
  • Gosto: a atração e a admiração contribuem para que a pessoa goste daquilo que é típico de uma determinada vocação. Toda pessoa feliz em sua vocação, gosta daquilo que faz!
  • Sintonia: toda a vocação tem suas exigências naturais, seu dinamismo, suas cruzes, suas renúncias, seus desafios próprios. Quem é chamado ao matrimônio viverá a vida matrimonial assumindo suas exigências, quem opta pela vida sacerdotal acolhe os deveres próprios do sacerdócio, quem escolhe a vida religiosa e consagrada assimila também suas exigências específicas! Deus dá a cada um os dons necessários para que viva em sintonia e com alegria a sua opção vocacional; por isso, nada lhe será pesado.

3. Atitudes importantes

Oração: Deus é a fonte da nossa Vida, então é a Ele que devemos recorrer pedindo-lhe que nos revele a sua vontade, seu projeto para conosco. Foi isso que fez o adolescente Samuel dizendo: “Fala, que o teu servo escuta” (1Sm 3,10). O alimento da oração é a Palavra de Deus, pois Ela nos sensibiliza, educa, orienta, forma para a vida.

Acompanhamento espiritual: a revelação da vontade de Deus sobre nós é gradual. Por isso, para que o discernimento seja sério é preciso que seja acompanhado por alguém maduro que possa nos ajudar a discernir a vontade de Deus.

Fazer processo: nada acontece automaticamente; é preciso evitar a pressa que se manifesta, muitas vezes, através do presentismo e do imediatismo que rejeitam a experiência de uma caminhada que exige o percurso de etapas, de processo de amadurecimento, de experiências várias até se chegar a uma decisão vocacional.

Não ter medo: no processo de discernimento vocacional não deve haver espaço para o medo. O medo é sinal de desconfiança e inimigo da vontade de Deus. Buscar a própria vocação é sinal de amor à Vida, dom de Deus; e “no Amor não há temor!” (cf. 1Jo 4,18). Por isso, coragem, não tenha medo de ser Feliz!