Introdução

Durante o mês de janeiro ou fevereiro muitas escolas particulares, sobretudo confessionais, reservam especiais dias para a reflexão, estudo e programação das suas atividades educacionais. É a chamada “Semana Pedagógica”.

A Semana Pedagógica é um tempo oportuno para que os educadores (cristãos) aprofundem o significado dos valores, a importância da missão e os princípios fundamentais da Educação Cristã Católica. Os educadores cristãos não podem, de forma alguma, educar com mentalidade e atitudes secularistas, agnósticas, tecnicistas, materialistas… A escola católica tem uma identidade específica com seus valores, prioridades pedagógicas, sensibilidade, princípios fundamentais e metas. Por isso, neste início de ano vale apena refletirmos sobre essa questão com nossos educadores católicos.   

 

  1. A contribuição da Escola Católica

 A Escola Católica tem uma nobre missão na sociedade e na Igreja! Tem um testemunho a dar e uma missão a cumprir! A educação cristã católica se caracteriza por sua profunda sensibilidade humanista, ética e religiosa.

Hoje, diante do forte mercado educacional, as escolas confessionais (religiosas) são chamadas a testemunhar e a aprofundar seus princípios fundamentais que fazem a diferença em relação às empresas laicas da educação.

Princípios e valores fazem a diferença em nossa vida e também no dinamismo cotidiano de uma escola: no seu clima educativo, nas relações humanas, no tratamento dos problemas, na formação dos educadores, na orientação educacional, no conteúdo curricular, na gestão do ensino, na sensibilidade ética e religiosa, na forma de abordagem dos problemas da sociedade, nos desafios e ideais propostos aos estudantes, etc.

Para muitos a educação é um negócio lucrativo! Todavia, para a Igreja Católica, a educação é uma sagrada missão! Vale a pena então, refletirmos sobre os princípios fundamentais que compõem o nosso credo de educadores cristãos católicos! Nesta série de reflexões queremos oferecer aos educadores católicos uma oportunidade para o aprofundamento das características fundamentais da Educação Católica. Acompanhe as reflexões.

 

  1. A dignidade da pessoa humana

Somente o ser humano é capaz de ser educado! “Educar”, partindo do significado do verbo latino “educere”, quer dizer estimular o processo de desenvolvimento das potencialidades que estão dentro da pessoa. Educar é fazer emergir, com paciência e com delicadeza, as riquezas do ser humano! Educar é humanizar!

Os animais irracionais são “adestrados”, “endireitados”, “domados”, “amansados”, condicionados pelo homem para poderem assumir um determinado comportamento. É preciso uma força coercitiva, que vem de fora; mas para o ser humano a sua potencialidade vem de dentro para fora! Está nele! Mas deve ser estimulada a manifestar-se! É daí que vem a ideia de desenvolvimento; estender o que está enrolado e concentrado.

A dignidade humana é a natural grandeza do ser humano. Fomos dotados de muitos dons que nos distanciam da condição natural dos demais seres vivos. Somos portadores de inteligência, vontade, liberdade, consciência, senso de responsabilidade, capacidade de amar (afetividade), capacidade de conviver (sociabilidade), espiritualidade, etc.

Por isso, a pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, tem uma incomparável dignidade (condição de grandeza, superioridade, transcendência…), é rica de potencialidades que devem ser incondicionalmente acolhidas, respeitadas, protegidas e promovidas. Esse diferencial acusa a sublime missão humana, sua responsabilidade de cuidar… mas deve ser educado!

 

  1. Educar é crer no ser humano

Educar é crer no ser humano; ser educador é ser portador de uma visão otimista sobre a humanidade por causa da beleza da sua transcendentalidade. Daí a verdadeira educação se identifica como processo de desenvolvimento integral das potencialidades latentes em cada pessoa. Quem não crê no ser humano, faz “bico” na educação!

Educar é um ato de fé; é plantar e semear na mente e no coração humano certo de que algo extraordinário vai surgir! Por isso a educação está intimamente relacionada à virtude da Esperança. Um educador pessimista contraria a essência da sua missão. Consequentemente, o educador católico, por ser movido pela esperança, é otimista, alegre, criativo, estimulador de mentes, persistente, paciente, formador de consciências, sensibilizador do coração humano (afetividade). Assim, inspira sempre a paixão pela vida.  

A Declaração Universal dos Direitos Humanos concebe a pessoa humana como sujeito, dinamicamente, livre e responsável. É uma perspectiva otimista do ser humano e por isso propõe a educação como direito fundamental e inalienável.

 

  1. Consequências Educativas

O agricultor pessimista não prepara a terra, não semeia, não planta e nem espera frutos. Assim também pode acontecer com aquele educador que está nesse serviço por força das circunstâncias econômicas, porque não encontrou outro emprego. A partir da minha experiência de educador e gestor de escolas posso dizer que isso ocorre com mais frequência do que se possa imaginar.

Por isso recai sobre os gestores de cada instituição a necessidade do zelo para com o perfil dos próprios educadores. Se de um lado não podemos selecionar os educandos, é sinal de seriedade e honestidade que a gestão faça isso com a admissão dos seus educadores.

Então, nos perguntamos, quais podem ser as consequências pedagógicas (ou educacionais) do primado da dignidade humana por parte dos gestores e educadores de uma escola católica? Vejamos algumas pistas:

– Evidenciar com clareza a visão holística da pessoa humana no projeto político pedagógico da escola;

– Educar para o tratamento respeitoso dos estudantes entre si, dos educadores e estudantes, dos educadores entre si, da instituição e a pessoa em todas as circunstâncias;

– Educar para promoção da compreensão da complexidade, fragilidade e grandeza do ser humano;

– Combater no ambiente escolar, radicalmente, tudo aquilo que é ofensivo à dignidade humana (bullying, furtos, violências, abusos, indiferença…);

– Promover um clima humano agradável no ambiente escolar, clima de família e bem-estar;

– Educar para o sentido da vida estimulando os estudantes a organizarem o próprio projeto de vida e a cultivarem uma visão otimista da sua existência;

– Estimular nobres ideais, de modo que ninguém se contente com a mediocridade;

– Educar para a acolhida e solidariedade aos mais necessitados;

– Incentivar a assimilação de valores humanos, morais, cívicos, éticos e religiosos;

– favorecer a abertura à transcendência (espiritualidade, abertura a Deus, experiência de fé…);

– Apresentar a pessoa de Jesus Cristo como ser humano perfeito, integrado, plenamente realizado que viveu sua vida neste mundo fazendo o bem (cf. At 10,38).

 

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Você já participou de alguma “Semana Pedagógica”?
  2. Como é a dinâmica pedagógica de uma escola movida pela visão mercantilista e tecnicista da educação?
  3. Por que para a Educação Católica é importante a visão da dignidade da pessoa humana?

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2