Foto de capa: Fabiane de Paula/Diário do Nordeste

Introdução

Daqui a poucos dias compareceremos às urnas para elegermos uma nova leva de cidadãos que deverão assumir os cargos de vereadores e prefeitos. Eles constituem a base daqueles servidores que deverão liderar os nossos municípios.

Como você se sente diante do atual quadro político brasileiro? Está contente, triste, indignado, revoltado, sereno, cheio de esperança…? É necessário olhar para frente e assumirmos a nossa responsabilidade de bons cidadãos. O ato de votar dura apenas alguns segundos, mas o tempo do mandato deles é de quatro anos!

Isso exige de todos os cidadãos um sério discernimento na hora da definição dos seus candidatos e também na participação responsável da vida da sociedade, assumindo um comportamento eticamente justo no dia a dia.

  1. O que é política?

Infelizmente devido à carência de formação cívica e os estímulos de maus exemplos de milhares de gestores na esfera do serviço público de governos em seus diversos níveis municipal, estadual e federal, a política passou a ser vista como coisa suja, área de corrupção, zona da mentira e dos interesses pessoais.

É urgente a recuperação da beleza, importância e da necessidade da política. Nesse âmbito infelizmente ainda há muita confusão de ideias, preconceitos e descaso.  O termo “política” vem da palavra grega “pólis”; a pólis era a cidade e a política era a arte de administrar o Bem Comum daqueles que lá viviam.

O político na sua origem está vinculado ao serviço de promoção da justiça social e da dignidade humana. Por isso a política está intimamente relacionada aos direitos e deveres da vida dos cidadãos.

A política enquanto arte e ciência da gestão e promoção do Bem Comum vai muito além do governo de uma cidade. Por isso podemos falar também em outros campos, como, por exemplo, “política partidária”, “política empresarial”, “política eclesial”, “política educacional”, “política econômica”, “política esportiva”, etc.

A política da qual nós nos referimos neste pleito eleitoral diz respeito ao zelo pelo cuidado na promoção dos bens de todos, a saber, a educação, a saúde, a habitação, a economia, a segurança, o saneamento, etc. Portanto, a política deve interessar a todos nós!

  1. Os jovens e a política

Segundo dados oficiais das eleições de 2014, a maioria dos políticos que foram eleitos naquele ano tinha idade acima dos 50 anos. Trata-se um dado muito significativo que está em queda.

Todavia, os jovens, por causa da forte insatisfação quanto à política partidária e de governo, estão ainda relativamente distantes das responsabilidades públicas. As bandeiras ideológicas políticas entraram em crise e muitos líderes acabaram fracassando nos desvios de verbas públicas e alguns presos!

Mas é bem verdade que muitos jovens, indignados e críticos, estão alimentando ideias sólidas e bons ideais para o serviço público seja no legislativo, quanto no executivo. O distanciamento dos jovens dessa responsabilidade tem sérias consequências negativas, que é a consolidação dos “profissionais da política” no poder, que fazem da arte de promover o bem comum, um meio de vida, de enriquecimento ilícito, assumindo uma atitude de frieza diante dos clamores sociais e das demandas dos empobrecidos.

O descrédito na política partidária e das instituições governamentais tem sido alimentado pela frustração das expectativas populares. Ora, isso não aconteceria se aqueles que foram eleitos, com tanta esperança, fossem de fato, portadores de uma profunda consciência ética e de cidadania, capazes de promoção do Bem Comum.

É hora de renovação! A questão mais grave não é aquela de ordem etária, não se trata da idade cronológica dos políticos, mas da mentalidade egoísta, imoral, espertalhona, populista que vê cargos públicos como status e não como serviço social.

  1. Fé e política

A Igreja Católica, sem apontar partidos e nem candidatos, defende a necessidade e a bondade natural da política como esforço conjunto de busca da promoção do Bem Comum. “A política é uma das mais altas formas de prática da Caridade” (Papa Francisco).

A Caridade, ou Amor sem limites, leva o verdadeiro político a propor formas de promoção da dignidade humana, sobretudo, com atenção aos mais pobres. A corrupção, não é política, é egoísmo! Os leigos cristãos devem se envolver na política, pois quem assimilou os valores do Evangelho luta para ser “sal e luz” na sociedade! (cf. Mt 5,13-15).

Quero convidá-lo, a ler o capítulo IX do livro dos juízes; de modo particular o trecho (Juízes 9,7-15). Trata-se de uma fábula sobre a necessidade da disponibilidade de pessoas virtuosas para assumirem cargos de líderes. Caso contrário, não reclamemos da violência dos espinheiros assassinos quando assumem o poder! (cf. Jz 9,15.24).

No Êxodo, Moisés é aconselhado por seu sogro, a saber, escolher os seus colaboradores: “escolha entre o povo homens capazes e tementes a Deus, que sejam inimigos do suborno… Eles administrarão regularmente a justiça para o povo…” (Ex 18,21-23).

  1. Critérios em quem votar
  • Vote em quem você conhece e, em consciência reconhece seu caráter, seus valores e seu perfil de seriedade e amor à sociedade.
  • Vote em quem é “ficha limpa”! Testemunha de valores éticos na vida pessoal e pública.
  • Vote em quem tem ideias e propostas equilibradas! Todo extremismo gera divisão e guerra e depõe contra o Estado Democrático baseado no respeito aos direitos e deveres institucionalizados.
  • Vote em quem tem respeito e sensibilidade para com os mais pobres e excluídos da sociedade!
  • Vote em quem propõe-se a governar ou legislar com meios lícitos e justos. Um fim bom não justifica o uso de qualquer meio; fim bom, exige meios éticos!
  • Vote em quem acolhe, respeita e deseja promover a família e seus bens como patrimônio sagrado da sociedade! Bem como acolhe, defende e respeita as religiões e seus valores e símbolos!
  • Vote em quem tem foco sobre a pessoa humana em todas as suas fases: fetal, infantil, juvenil, adulta e senil! É falsa toda promessa de transformação que não leva em conta a pessoa!
  • Vote em quem tem um plano de governo sério, amplo e que não esteja preso à categoria de pessoas, pois se eleito, deverá servir a todos igualmente!
  • Vote em quem tem ampla e profunda visão dos problemas sociais com suas exigências e estratégias para resolvê-los. Não acredite em soluções mágicas para problemas complexos.
  • Vote em quem tem mentalidade preventiva, sobretudo, paixão pela educação integral e propostas de inclusão para a juventude no mundo do trabalho! Boas eleições!

 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Como você tem acompanhado este tempo de campanha?
  2. Qual análise você faz do perfil dos candidatos?
  3. Sintetize esses critérios em 5 grandes valores.

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2