Certa vez, por ordem do Papa, S. Filipe Neri visitou um mosteiro onde tinha uma religiosa que era considerada santa. Quando Filipe, que entendia muito bem de santidade, chegou naquele lugar, tirou os sapatos sujos de lama. Com um sorriso, ele disse para aquela freira que tinha ido ao encontro dele: – Irmã, por favor, pode limpar estes meus sapatos? A famosa monja foi embora indignada, reclamando. Filipe voltou com o Papa e lhe falou baixinho no ouvido: Santidade, nada de santidade!

Mais uma anedota de um santo conhecido pelo bom humor e a alegria. É bom também lembrar que os Papas são chamados de “Santo Padre” ou “Santidade”, só para não confundir um título de respeito ao Papa com a “santidade” que, na Solenidade de Todos os Santos e Santas, queremos celebrar. Apesar de tantas explicações, muitos cristãos e cristã acham que falar em santidade seja algo que não lhes diz a respeito. Isto porque a Igreja, continua a nos propor, justamente e com a devida propaganda também, exemplos extraordinários de batizados e batizadas que viveram heroicamente muitas das virtudes propostas a todos os cristãos. Simplesmente a Igreja nos convida a olhar para os melhores, aqueles e aquelas que sobressaíram pela generosidade, o desprendimento, o serviço ao Evangelho e aos pobres. Aqueles e aquelas que, acreditamos, podem nos ajudar com aquela maravilhosa e inesgotável riqueza de amor que se chama “comunhão dos santos”. Isto porque, nenhuma santidade verdadeira é simplesmente individual, sempre tem consequências e frutos na comunidade humana, sejam conhecidos ou não estes reflexos luminosos. Deveríamos estar convencidos que se todo mal tem, antes ou depois, consequências nefastas, igualmente o bem produz resultados impensáveis e imprevisíveis. Semente boa, em terra boa sempre produz cem, sessenta, trinta por um (Mt 13,8). Não devemos estranhar, portanto, se nos escritos do Novo Testamento, Paulo e os demais autores, chamem os cristãos de “santos”. Esta é a grande vocação à qual cada batizado é chamado.

O contrário da santidade não é a maldade, mas sim a mediocridade, ou seja, o desistir de sermos melhores, o fato de nos conformar com os defeitos e as limitações e achar impossível superar as dificuldades. Temperamento pessoal, educação, circunstâncias especiais, encontros com testemunhas extraordinárias, podem ajudar no caminho da santidade, mas ninguém nasce santo ou santa. Todos e todas, mais ainda os famosos, enfrentaram tentações, lutaram contra as forças do mal, tiveram medo, passaram por momentos intermináveis de escuridão, nos quais tudo parecia inútil e sem sentido. No entanto, eles e elas nunca deixaram de confiar, de pedir misericórdia Àquele que é “O Santo” (três vezes, Ap 4,8) e que nos quer santos (Lc 6,36). Estou convencido que todos os Santos e Santas, canonizados ou não, tiveram duas qualidades em comum: a humildade e a alegria. A humildade nos ajuda a confiar mais em Deus e na misericórdia dele que nas nossas capacidades. Quem quiser crescer em santidade deve estar muito consciente das suas fraquezas e, portanto, admitir, sem medo os seus pecados. Deve pedir perdão, deve saber reconhecer quando errou, deve preferir o último lugar aos primeiros, a simplicidade e o escondimento aos elogios e às honrarias. De outra forma, já teria recebido a sua recompensa (Mt 6,2). Contudo, o segredo mais bonito dos Santos é Santas, foi com certeza a alegria, pela simples razão de viver com plenitude a sua fé e o seu serviço aos pequenos e pobres. Ajudar alguém com impaciência ou por mera obrigação, não tem alegria nenhuma. Somente se sabemos reconhecer o próprio Jesus nos irmãos caídos nas estradas da vida, podemos atende-los com carinho e solicitude. Todos os Santos e as Santas também choraram. Foi porque teriam gostado fazer mais ou porque se solidarizaram com os aflitos da vida, souberam “choraram com quem chora, para se alegrar com quem está alegre” (Rm 12,15). Os que souberam consolar, foram consolados, enxugando lagrimas de irmãos ou limpando sapatos sujos de lama, felizes.

Dom PEDRO JOSÉ CONTI

Bispo de Macapá-AP