Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém

O pedido de Filipe, um dos Apóstolos de Jesus, como alguns chamam de “santa ingenuidade”, tornou-se oportunidade privilegiada da revelação da face do Pai, vista em Jesus, com quem os discípulos de todos os tempos têm acesso à plena comunhão com Deus. Em Jesus, caminho, verdade e vida entramos na vida da Trindade, nas limitações de nossa vida nesta terra e na plenitude da eternidade (Cf. Jo 14,1-11). E agora a comemoração do Dia dos Pais e a abertura da Semana Nacional da Família oferece-nos a oportunidade para pedirmos a plena comunhão com a vida da Santíssima Trindade, envolvendo a Sagrada Família e nossas próprias famílias, lugares privilegiados para o cultivo e amadurecimento de todas as vocações na Igreja.

Pai eterno, Deus todo-poderoso e misericordioso, dá-nos a graça de viver voltados para ti, olhando para a frente e para o alto. Faze-nos descobrir cada dia, ao rezar o Pai nosso, o caminho para a plena comunhão contigo. Ajuda-nos a compreender que és Pai nosso, de todos os irmãos e irmãs. Aprendemos nestes dias com o Papa Francisco a repetir “todos, todos, todos”! Arranca de nosso coração os preconceitos e as defesas diante de quem quer que seja, para que todos se sintam membros da mesma família. Pai nosso, que estás nos Céus! Pedimos a graça de levantar a cabeça, olhando para o que existe de melhor na Igreja, na humanidade inteira e em cada pessoa. Com tua graça e teu amor pensemos na eternidade e nos valores que nos conduzem a ela, para termos a certeza de que fomos feitos para glorificar-te e louvar-te. Pai nosso, santificado e reconhecido seja o teu nome santo. Que todas as pessoas venham a reconhecer-te como a fonte da vida e da felicidade plena nesta terra e na eternidade! Venha a nós o teu Reino, Reino de Paz, de justiça, de amor e de alegria. Que saibamos buscar este reino com todas as nossas forças, pois todo o resto será dado por acréscimo, como nos revelou teu filho amado. E seja feita a tua vontade, pois só ela purifica e realiza o que existe de melhor para a humanidade. Dá-nos a coragem e a ousadia de viver na Terra como se vive no Céu, para prepararmos e anteciparmos a vinda gloriosa de Jesus Cristo!

Ao invocar-te como Pai, dá-nos a graça e acolher o magnífico mistério da paternidade, realizado nesta terra, nos pais que geraram nossa vida e pelos quais rezamos nestes dias. Acolhemos com alegria ensinamentos de um pai visível nesta terra, o Papa Francisco, dirigido aos jovens: “Talvez a experiência de paternidade que tiveste não seja a melhor: o teu pai terreno talvez se tenha mostrado distante e ausente ou, pelo contrário, dominador e possessivo; ou simplesmente não foi o pai que precisavas. Não sei! Mas o que posso dizer-te com certeza é que podes lançar-te, com segurança, nos braços do teu Pai divino, do Deus que te deu a vida e continua a dá-la a cada momento” (Christus vivit 113). Tira de todos nós a incapacidade de ver tua paternidade nos pais de hoje em nossa terra. E dá a todos eles a capacidade de olhar para o alto, encontrando em ti, Pai de amor, o modelo da paternidade nesta terra. E concede a muitos jovens a graça da vocação de esposo e pai, para que a vida se multiplique e a fecundidade seja acolhida como alegria e responsabilidade!

Pai nosso! Dá-nos hoje o pão de cada dia, o pão do corpo, e junto com ele a saúde e as forças necessárias para viver nesta terra. Dá-nos hoje o pão da vida eterna, a Eucaristia! Faze-nos redescobrir a cada dia o valor da Santa Missa, a família reunida em torno da palavra e do Pão Vivo, que é Jesus, no dia que te pertence e é também o dia dos filhos de Deus, o Domingo!

Perdoa-nos as nossas ofensas, como nós perdoamos a quem nos tem ofendido! Diante de ti, sabendo que somos pecadores, pedimos perdão, com toda a confiança, diante de teu amor misericordioso! Aqui, queremos também pedir a purificação da memória, com todas as eventuais lembranças negativas de nossas experiências com os pais da terra! Reveste-nos totalmente da misericórdia e do perdão, para alcançar as pequenas ou grandes falhas que cometeram! Faze-nos agradecidos pela vida, quando teu amor infinito e eterno nos deu uma alma que viverá por toda a eternidade, no momento do encontro de células humanas, vindas do pai e da mãe que nos geraram. Diante de ti, queremos enxergar na plena luz este encontro que supera todas as dificuldades da vida, porque naquele instante tu fizeste entrar nesta terra uma nova vida, cada um de nós que hoje se coloca em oração!

Não nos deixes cair em tentação, quando o maligno quer conduzir-nos a nos imaginar como seres soltos, sem laços, individualistas e egoístas, muitas vezes desejosos de uma falsa e frustrante autonomia, quando nos fizeste envolvendo-nos de amor e para amar. Faze-nos entender que as separações e o isolamento nunca podem ser a melhor solução para as muitas crises familiares. Que estas sejam, mais do que perigo, oportunidades de novos passos em vista da felicidade e da realização das famílias! Estabelece, ó Pai, novos vínculos entre nós, começando por nossas famílias. Cura, ó Pai, as feridas das divisões entre esposo e esposa, pais e filhos, irmãos e irmãs. Livra-nos, sim, de todo mal que ruge em torno das famílias, desejando destruí-las!

Se nos dirigimos a ti, ó Pai, foi com as palavras e os sentimentos de Jesus Cristo, teu Filho amado, e conduzidos pelo Espírito Santo, que nos fez clamar “Aba, Pai” (Rm 8,15). Trindade Santa e Eterna, fonte de amor e vida, pedimos a graça de passar pela porta, que é Jesus, o Filho amado, que nos conduz à eternidade feliz, passando pelos caminhos da terra! Dá-nos a graça de que em nossas famílias, os pais sejam parecidos com o Pai do Céu e com aquele que recebeu a missão de cuidar da Sagrada Família da Terra, São José. Que todos os que somos filhos sejamos parecidos com Jesus de Nazaré. Que as mães encontrem em Maria, a Virgem Mãe de Nazaré, seu modelo de vida e santidade.

Enfim, Trindade Santa, Pai e Filho e Espírito Santo, com Maria e José nós pedimos que nossas famílias sejam celeiros de santas vocações para o matrimônio, o sacerdócio, o diaconato, a vida religiosa e missionária, para as novas formas de dedicação a Deus e para a presença laical e apostólica no mundo. Com todas as famílias possamos dizer: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém!