Desde sexta feira, dia 17 de maio, as estradas do Brasil estão com uma movimentação diferente da que normalmente recebem. Caravanas de pescadores e pescadoras artesanais saíram de suas comunidades e seguem com destino à Belém do Pará, onde acontece nessa semana, o Congresso de 50 anos do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP).

Comemorando seu Jubileu, o CPP realiza o Congresso para trazer sua trajetória de apoio aos trabalhadores e trabalhadoras da pesca desde a sua criação, nos anos 1960, até os dias atuais e apontar caminhos para a continuidade da luta. O CPP nasceu no período da ditadura militar, quando as forças populares lutavam por cidadania e dignidade humana. Nessa luta, os movimentos sociais sofriam perseguições porque contrariavam os rumos da política nacional adotada no país. Para o Frei Alfredo Schnuettgen, fundador do CPP, era necessário investir na ação pastoral, na resistência, profetismo e esperança da Igreja do Brasil junto aos pescadores e pescadoras. Esse foi o caminho seguido por Frei Alfredo, que recebeu o apoio de Dom Helder Câmera, para a criação do CPP.

Deu certo! 50 anos depois, esse caminho continua sendo trilhado e o Congresso contará sua história, mostrando que “a força libertadora do Evangelho transforma as estruturas geradoras de injustiça, tornando pescadores e pescadoras agentes de sua história e construtores de uma nova sociedade”. Assim descreve o texto orientador do Congresso, que também revela que a organização destes profissionais da pesca avançou na luta e trouxe importantes conquistas. Especialmente na década de 1980 com a formação da Constituinte da Pesca e suas incidências na Constituição Federal de 1988.

Tempos de renovação das esperanças

Em todos esses anos, a resistência e a esperança foram forças que moveram a luta dos pescadores e pescadoras artesanais. Hoje, em um momento em que as políticas nacionais retrocedem e se voltam contra os direitos conquistados, é hora de renovar as esperanças resistindo a tais ataques. Os cerca de 500 pescadores e pescadoras que chegam a Belém para o Congresso do CPP vêm animados pelo lema que enaltece esses sentimentos: “CPP 50 anos: Celebrar a Resistência, Profetizar a Esperança”,

O pescador Carlos Alberto Soares, mais conhecido como Carlinhos, de 62 anos, mora na comunidade Ilha do Capim, em Abaetetuba, no Pará. É integrante do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) desde o início das organizações. Ao relatar os problemas de sua região, Carlinhos diz que os conflitos são grandes e ocasionados pelas empresas portuárias que estão se instalando nos territórios pesqueiros de Barcarena, Abaetetuba, Mosqueiro e outros municípios: “Essas empresas colocam em risco o ambiente, o pescado e os pescadores porque estão contaminando as águas com o lastro das embarcações que são despejados nos rios. Degradando o ambiente, o pescado não sobrevive. Sem pescado, o pescador deixa de existir”, diz Carlinhos com a voz revelando grande preocupação com o futuro das comunidades impactadas pela ação das empresas.

Assim como Carlinhos, os pescadores e pescadoras que vêm ao Congresso trazem na bagagem os problemas que enfrentam em seus territórios pesqueiros. Mas, também trazem resistência e, aqui, junto com os companheiros e companheiras revitalizarão as esperanças para continuar a luta.

Ormezita Barbosa, secretária executiva do CPP, fala dessa animação: “Estamos animadas com as notícias que chegam das caravanas que vêm de várias partes do Brasil. Esse Congresso está sendo muito celebrado por nós, pelas comunidades, pelos parceiros. É um sentimento misto de alegria e preocupação. Queremos acolher a todos com muita festa, debater nossos problemas e apontar caminhos de solução para sairmos daqui fortalecidos para as lutas que teremos que enfrentar em nossos territórios”.

Por: Lígia Apel – CPP Nacional