“Evangelizar educando e educar evangelizando”:
um binômio inseparável (Parte 2)

Introdução
Continuemos a nossa reflexão sobre a relação entre Evangelização e Educação. Na primeira reflexão apresentamos a justificativa pela qual a Igreja se interessa pela educação.
Neste texto queremos considerar os fundamentos da inseparabilidade entre evangelização e educação para a Igreja católica. Isso significa que a atividade educativa da Igreja não vem após a ação evangelizadora, mas simultaneamente. O “Anúncio de Jesus Cristo” tem uma carga educativa! Sem isso não acontece o testemunho do seguimento de Cristo que, por sua vez, comporta a reflexão, o entendimento, o crescimento nas virtudes para haver compromisso moral que é o testemunho de vida. Isso só é possível através de um processo educativo.
O anúncio da pessoa de Jesus Cristo tem um potencial transformador, porque é também proposta de compromisso com a promoção do Reino de Deus. O anúncio da pessoa de Jesus Cristo não é uma mera notícia do passado.

A evangelização tem uma dimensão educativa, transformadora, porque o fiel é um sujeito chamado a fazer o seu caminho de santidade. E assim, sempre estará em processo de evangelização e educação; dessa forma, só poderá testemunhar que foi evangelizado, através da educação, ou seja, de sua mentalidade renovada.

  1. Binômio inseparável

“Evangelização e Educação” é um binômio inseparável para a missão da Igreja. Essa perspectiva é do Papa Paulo VI, proposta na exortação apostólica “Evangelii Nuntiandi”.
“Educar evangelizando” significa “atingir e, como que modificar pela força do Evangelho, os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação” (EN, 19).

A Igreja, portanto, não é uma agência de notícia que traz fatos do passado e anuncia no presente. Jesus não anunciava por anunciar, o projeto do Pai, mas para promover o Reino de Deus, a Salvação da humanidade. Foi nessa perspectiva educativa que Jesus convidou seus discípulos a se tornarem sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-14). Onde há “escuta” sem educação, nada acontece, não há consequências (cf. Mt 7,21).

No final da parábola do semeador, as sementes que deram frutos foram aquelas que caíram em terra boa. Diz Jesus que representam aqueles que acolhem e entendem a Palavra de Deus (cf. Mt 13,23). De fato, todo aquele que ouve a palavra do Reino de Deus mas não a compreende é como a semente caiu à beira do caminho; vem o Maligno e rouba o que foi semeado no seu coração (cf. Mt 13,20).

  1. Evangelização e dignidade humana

A inseparabilidade entre evangelização e educação exprime o nosso modo próprio de conceber o dinamismo da missão da Igreja, que tem como meta a promoção do Reino de Deus que não pode ser pensado, de modo algum, sem a dignidade humana. A inseparabilidade desse binômio está ligada à dignidade do ser humano com sua totalidade unificada de corpo e alma com todas as suas expressões. Há uma íntima relação entre corpo e espírito.

A relação inseparável entre evangelização e educação também se fundamenta nas duas necessidades fundamentais da pessoa humana em suas dimensões horizontal e vertical. A humanização exige o desenvolvimento da espiritualidade, da paixão por Deus que nos traz o sentido para a vida; quando se separa Evangelização e Educação, não é possível alcançar do desenvolvimento do ser humano na perspectiva da fé cristã que é aquela de
“formar bons cristãos e honestos cidadão” (Dom Bosco).

A integração entre evangelização e educação leva o evangelizando não só a conhecer a pessoa de Jesus Cristo, mas também a assimilar e a abraçar a proposta do seu Reino com sua dimensão pessoal, comunitária e a luta pela justiça social.

Evangelização e Educação é consequência do compromisso de amar a Deus e ao próximo. A evangelização deve também educar os fiéis para a experiência da filantropia (amor e cuidado para com o semelhante). Quando ela está fundada na fé, transforma-se em Caridade assumindo um dinamismo sem fronteiras.

  1. Fé e sentido da vida

A Igreja “evangeliza educando e educa evangelizando” porque há a vocação última da pessoa humana é a vida eterna. De nada valeria para o ser humano todo e qualquer investimento que não estimulasse a busca da Salvação. O próprio Jesus alertou seus discípulos dizendo-lhes que de que adiantaria ao homem ganhar o mundo inteiro se vier se perder a sua alma (cf. Mt 16,26). Por isso, tanto a evangelização quanto a educação têm o mesmo fim último que é a felicidade plena e eterna do ser humano. Não basta que o ser humano tenha o sucesso terreno, é necessário que busque a salvação eterna.

A inseparabilidade da relação entre evangelização e educação também reside na necessidade do sentido da vida. A pessoa evangelizada, se foi educada na fé, dá sentido para sua vida alicerçado na fé, na esperança e no amor. De nada serviria um processo de educação ou de evangelização que não favorecesse à pessoa a descoberta e a vivência do sentido da vida.

A tragédia do suicídio, nega tanto a educação quanto a evangelização. A evangelização assimilada e profunda leva a pessoa a cultivar, em todas as circunstâncias, uma profunda paixão pela vida, e a cuidar dela como dom sagrado. Nessa perspectiva de Amor à vida (biofilia) encontramos também a importância da paixão pela ética, paixão pela santidade, retidão de vida, consciência ética, prática da justiça.

  1. Anúncio e diálogo

Estamos vivendo num mundo pluralista. Isso significa que cada vez mais devemos estar e ter educadores convictos da nossa identidade e de sermos capazes de dialogar para testemunhar ao razões da nossa esperança (cf. 1Pd 3,15). A pluralidade ideológica e religiosa deve nos incentivar a sempre estarmos aprofundando os valores da nossa identidade de discípulos missionários de Jesus Cristo.

Num mundo cada vez mais tentado pelo ateísmo e materialismo, os educadores cristãos são chamados a zelar pela inseparabilidade entre educação e evangelização, promovendo nos educandos a importância da experiência da oração e da mística. É daí que brota e se firma o sentido da vida. Sem a dimensão mística desenvolvida não defendemos a sacralidade da vida e a dignidade do bem viver.


PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
1. Por que educar e evangelizar é um binômio inseparável?
2. O que significa “formar bons cristãos e honestos cidadãos”?
3. Por que a evangelização educa para o sentido da vida?