Introdução

O mês Mariano nos estimula a aprofundar a mariologia, ou seja, o conhecimento objetivo da identidade de Maria, a mãe de Jesus Cristo. Na Exortação Apostólica “Marialis cultus” do Papa São Paulo VI (1974), temos orientações para o reto desenvolvimento do culto à bem-aventurada Virgem Maria; nela encontramos o convite para darmos a devida atenção à dimensão bíblica da devoção à Nossa Senhora.

Se de um lado há a tendência devocionista por parte de fiéis católicos, por outro, no meio neopentecostal encontramos a incoerência do vazio em relação à referência à Maria; esse vácuo de reflexão bíblica e teológica sobre a figura de Maria tem causado graves danos na vida religiosa de muitos fiéis tais como: manifestando-se na incoerência em relação aos dados bíblicos, na seletividade contraditória de personagens bíblicos (por exemplo, ressaltando Abraão, Moisés, Gideão, Salomão… mas ocultando radicalmente a grandeza de Maria), na ignorância sobre o impacto de uma distorcida mariologia sobre a identidade de Jesus Cristo, na agressividade por causa da ignorância, implícito sentimento de orfandade materna! 

Um fato que resume tudo isso é, por exemplo, a famosa sentença: “Maria é uma mulher como as outras”. A resposta objetiva e crítica sobre esse equívoco preconceituoso é uma necessidade, uma vez que trata da profunda relação existente entre a pessoa do Filho de Deus e sua mãe. Uma mulher como outra qualquer também teria tido um filho como os demais homens. Mas não é isso que encontramos nas referências bíblicas. É preciso ser honesto!

  1. A quantas mulheres foi enviado por Deus o anjo Gabriel? (cf. Lc 1,26). Quantos anjos ou quantas vezes Gabriel, o mensageiro de Deus, já apareceu para as mulheres deste mundo? Já pareceu para você, para sua mãe, para a sua avó, para a sua bisavó, para as suas irmãs? Sabe de alguém que viveu essa experiência? Não!? Pois é isso mesmo, só sabemos de um caso! Por aquilo que sabemos, por coerência histórica, não foi algo comum. Maria, a mãe de Jesus, então, não foi e nem é como as outras mulheres!
  2. Quantas mulheres em sua experiência mística, em sua oração pessoal ou comunitária, recebeu esta saudação de um anjo: «Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!» (Lc 1,28)? Saudada como cheia de Graça? Cheia da presença de Deus, portanto, sem espaço para o pecado! Por aquilo que sabemos nenhuma outra mulher ouviu essas palavras direcionadas a si mesma por um dos habitantes do céu, mensageiro de Deus, mas a Mãe de Jesus, sim. Então, será que ela é como as outras?
  3. Quantas mulheres já receberam de um dos mensageiros celeste esta notícia: “Eis que você vai ficar grávida, terá um filho, e dará a ele o nome de Jesus. Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo” (Lc 1,31-32; Mt 1,25).). Normalmente, a notícia da gravidez vem pela medicina, através de exames, ou ainda pela própria grávida quando percebe mudanças em seu dinamismo ginecológico. Por outro lado, a qual das mulheres recebeu a notícia que seu filho seria Filho do Altíssimo, por Ele gerado? Sobre isso a história não nos revela outros dados, só aconteceu com uma mulher, chamava-se Maria de Nazaré! Então, será que ela é como as outras?
  4. Continuemos o nosso diálogo! Se alguns insistem em dizer que “Maria é como as outras mulheres”, então, por honestidade mais uma questão pertinente nos vem à mente: quantas mulheres recebeu a informação que ficaria grávida por ação do Espírito Santo? Assim lhe disse o anjo: «O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra” (Lc 1,35). Por aquilo que sabemos, naturalmente, a gravidez de uma mulher requer a participação de um homem. Ainda hoje no interior amazônico, há os “filhos de boto”, expressão que significa crianças de pais desconhecidos, ocultados pela mãe por causa da vergonha, da violência e outros motivos. Mas na verdade, boto não engravida mulher! Mas aquela jovem de Nazaré, ficou grávida por ação do Espírito Santo! Por isso o seu Filho, é o Santo, Filho de Deus, o Salvador da humanidade por ser Deus encarnado. Então é justo afirmar que Maria é como as outras? Isso não cheira a orgulho?
  5. Outro fato que nos chama atenção com total sintonia com os dados bíblicos diz respeito às palavras de Isabel a Maria; quando estava grávida foi lhe visitar para dar-lhe a sua ajuda (cf. Lc 1,39-47). O evangelista Luca afirma: “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1,41). Maria, com Jesus Cristo em seu ventre, é também portadora do Espírito Santo! Tendo sido saudada como “cheia de Graça” pelo anjo Gabriel, ela é portadora do Espírito Santo e por isso gera impacto em sua prima! Você já ouviu alguma mulher receber esse elogio sendo portadora do Espírito Santo por trazer no seu ventre o Salvador? Então, a história de Maria é extraordinária, não é como as outras mulheres!
  6. Continuemos aprofundando o perfil de Maria seguindo os dados bíblicos comuns tanto na Bíblica Católica quanto na protestante. Agora recordemos o grito de Isabel movida por grande alegria declarando à grávida jovem visitante: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42). A declaração de Isabel é fantástica, única, poética e real; recheada de senso de meditação sobre o mistério de Deus, de humildade diante da outra e de fé. Para Isabel Maria é a bem-aventurada (agraciada) entre todas as mulheres do mundo e o menino Jesus é por Isabel reconhecido como o Bendito fruto do seu ventre. O Bendito é Deus! Só Deus é o Bendito, como nos afirma o profeta Daniel: «Bendito sejas tu, Senhor, Deus de nossos pais, tu és digno de louvor e o teu nome é glorificado para sempre!” (Dn 3,26-27). O Filho de Maria é o Bendito aclamado como Rei e Senhor (cf. Lc 19,38). Alguma outra mulher já recebeu uma declaração de tal calibre? Então, Maria não é como as outras mulheres!
  7. Outro fato é digno de ser ressaltado que faz de Maria a mais extraordinária das mulheres. No seu hino no qual proclama a grandeza de Deus reconhecendo-o como o Senhor da história, ela profeticamente afirma: “Daqui para frente todas as gerações me felicitarão, porque o Todo-poderoso realizou grandes obras em meu favor” (Lc 1,46-48). Aquilo que os fieis católicos nutrem para com a Mãe do Senhor, é hoje no mundo, obediência a essa profecia, realizando e atualizando a mesma. Qual outra mulher ao longo da história da humanidade já ousou dizer: daqui pra frente todas as gerações me chamarão bem-aventurada? A história da humanidade está cheia de grandes mulheres, místicas, teólogas, mártires, santas, filósofas, cientistas, escritoras, líderes etc., todavia, para nenhuma delas se deve a consideração à semelhança de Maria, a Mãe do Mestre de Nazaré.

Então, Maria é como outra qualquer?

O honesto reconhecimento dos dados da Sagrada Escritura a respeito de Maria é necessário para que não se desqualifique a identidade de Jesus Cristo. Não se pode atacar a mãe sem atingir o Filho, muito menos acolher o Filho e desprezar sua mãe. Há uma relação íntima entre Cristologia e Mariologia, entre Mãe e Filho, entre o Filho e sua Mãe.

Continuaremos…

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Você já ouviu alguém afirmar: “Maria é uma mulher como as outras”? Como você reagiu?
  2. Por que algumas pessoas pensam dessa forma e quais as consequências?
  3. Elenque outros motivos pelos quais Maria, a Mãe de Jesus, não é uma como as outras mulheres?

 

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA

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Artigos de Dom Antônio Ribeiro sobre Nossa Senhora:

1 – Maria, mulher como as outras? (1)

2 – Maria, mulher como as outras? (2)

3 – Grávida por obra do Espírito Santo (3)