Chegou o dia tão esperado dos Jogos da Juventude, uma competição esportiva entre os alunos dos colégios da cidade. João Pedro com os seus 14 anos, alto e forte, sabia que tinha chance de ganhar, na corrida, a prova de velocidade. Mário, seu colega, era, porém, o seu maior adversário. Era mais baixo, mas muito rápido. Os pais dos alunos enchiam as arquibancadas do estádio e torciam para os seus filhos. A primeira prova foi dos 200 metros rasos. João Pedro correu bem e ganhou na frente de Mário. Ficou feliz pela medalha e os aplausos. Depois houve a prova dos 100 metros. João Pedro estava lá para correr e Mário também. De novo ele partiu bem e estava decididamente na frente, mas, quando faltavam poucos metros para a chegada, parou e deixou a corrida. Assim Mário ganhou. Depois da premiação, os pais de João Pedro lhe perguntaram: – Por que você fez isso? Teria ganho novamente! – Certo, mãe, mas eu já tinha uma medalha e Mário nenhuma! Palavras bonitas. Foi coisa de adolescente ou gesto singelo de amizade?

No evangelho deste domingo, Lucas, nos propõe uma grande lição de humildade de duas formas diferentes. A primeira, diz a respeito dos lugares dos convidados numa festa. Naquele tempo, como hoje, quem se achava importante queria, evidentemente, alguma posição de destaque. Queria, de fato, que todos os demais presentes reconhecessem o seu valor. No entanto, Jesus alerta que, num evento, sempre pode chegar alguém ainda mais importante e que os donos da festa lhe peçam de ceder a ele, ou a ela, o primeiro lugar, conforme os critérios mundanos da fama, do sucesso, da riqueza ou da posição social. Neste caso, com os lugares ocupados pela lógica da ambição, somente poderiam ter sobrado as últimas vagas. Será um rebaixamento vergonhoso para quem se considerava merecedor de atenção. Jesus sugere de agir de maneira contrária. Melhor escolher o último lugar, assim, se o dono da festa achar por bem colocar você mais na frente, este reconhecimento será uma honra. Autoestima é ter consciência do valor e da dignidade própria e de cada ser humano; não significa, porém, avaliar-se acima da realidade e, no fundo, ser obcecados pelo orgulho de si mesmo.

Na segunda parte do evangelho, Jesus continua o seu ensinamento. Um belo sinal da humildade verdadeira de uma pessoa aparece quando ela organiza, por exemplo, uma festa. Se convida os amigos ricos ou somente pessoas importantes significa que ela também se considera parte desta classe social “superior”. É fácil distribuir honrarias, elogios e favores quando se espera receber de volta tudo o que foi dado. Isto não tem nada a ver com generosidade, simplesmente foi um agradar quem poderá devolver até mais no momento oportuno. Para os seguidores de Jesus deveria ser diferente, eles não devem agir acompanhando os critérios deste mundo. Devem aprender com Deus, que é generoso com todos, e com ele mesmo, Jesus. O discípulo deve agir com gratuidade, sem esperar recompensa. Acontecerá assim somente se convidar para um almoço ou um jantar os pobres, os pequenos, os que nunca terão como lhe dar algo em troca.

Neste caso, sim, será pura generosidade porque o amor verdadeiro viaja de mão única. Se esperar algo em troca, terá mais o gosto de interesse que de doação. No entanto, o próprio Jesus fala em recompensa. Certo, mas esta “recompensa” não será a curto prazo e nem calculada. Será o prémio que Deus Pai reservará para os seus “filhos”, ou seja, aqueles que, de alguma forma, mesmo sem saber, doaram algo aos irmãos pela simples e maravilhosa alegria de fazê-los felizes. Humildade, portanto, é acreditar que somos muito amados sem merecer, que já recebemos muito e, por isso, procuramos aprender a doar, ao menos um pouco, do que nos foi derramado com largura no coração. Melhor perder uma medalha e ver o outro sorrir que estufar o nosso peito de orgulho. Uma “derrota” útil porque se transforma em grande vitória sobre a nossa inútil soberba.

POR Dom PEDRO JOSÉ CONTI

Bispo de Macapá - AP