por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

A cruz tem um grande valor para os cristãos porque ela é a condição essencial para seguir a Jesus e receber a dignidade de se unir com Ele. A sua palavra direciona a vida no sentido da liberdade humana: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16, 24). Numa outra ocasião, o Senhor também disse que quem não toma a sua cruz e o siga, não é digno dele (Mt 10, 38). São Paulo tinha presentes que “A palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que são salvos, para nós, ela é poder de Deus” (1 Cor 1,18). O Apóstolo também dizia que a pregação do Cristo crucificado era escândalo para os judeus e era loucura para os gentios (1 Cor 1, 23). A cruz é sinal de vida, de salvação, porque o Senhor deu a sua vida para toda a humanidade, passando pela cruz e assim ele chegou à glória da ressurreição. O valor da cruz esteve presente na teologia dos padres da Igreja. É importante ver as suas considerações em vista da vida verdadeira que vem da cruz do Salvador.

A cruz como glória e força humana e divina

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, nos séculos IV e V afirmou a importância da cruz como glória e força pela realidade humana e pela realidade divina. Ele dizia que nenhuma pessoa se envergonhe dos sinais sagrados e veneráveis da nossa salvação, da cruz que é o vértice dos bens humanos, pelos quais as pessoas vivem e são aquilo que são. Ele convidava as pessoas para carregarem a cruz de Jesus como uma coroa, porque tudo se consome nela. Tanto o batismo, porque a pessoa é regenerada por causa da presença da cruz como também os fieis se alimentam do místico alimento que é o corpo de Cristo, são impostas as mãos para serem consagrados pelos ministros do Senhor, sempre é dado pelo símbolo da vitória, que é a cruz[1].

Em tudo é dado a cruz, sinal de salvação

São João Crisóstomo continuou o seu pensamento afirmando que a cruz é conservada sobre as casas, é desenhada sobre as paredes, é gravada sobre as portas, é impressa sobre a cabeça, e na mente, é carregada no coração humano. A cruz é de fato o sinal da salvação humana e da comum liberdade do gênero humano, sendo também o sinal da misericórdia do Senhor que por amor de todas as pessoas deixou-se conduzir como ovelha ao matadouro (At 8,32)[2]. Quando a pessoa faz o sinal na fronte, lembra todo o mistério da cruz e apaga nela as limitações e os pecados. O Apóstolo São Paulo afirmou que as pessoas foram compradas por alto preço por causa da cruz e do sangue do Senhor (1 Cor 7,23), chamando a cruz com preço do resgate[3]. São João afirmou que é preciso abraçar a cruz, a qual deve a salvação das almas humanas. Era a cruz que salvou e ela converteu o mundo do erro, estabelecendo a verdade em Jesus[4].

A cruz no seu mistério e dimensão maior

São Gregório de Nissa, Bispo no século IV afirmou que a cruz contem o mistério, pois na morte de Jesus existiu o lado humano, e na maneira de morrer, existiu o elemento divino. O Bispo disse que aquele que sobre a cruz se estendeu no momento oportuno, segundo o plano da salvação, através da morte é o mesmo que estreitou a si mesmo o universo, reunindo mediante a sua Pessoa as diversas naturezas dos seres vivos numa só harmonia[5]. A cruz englobou segundo São Gregório a dimensão maior, de amor a Deus e a toda a humanidade na sua radicalidade[6].

A cruz, como forma do seguimento a Jesus

São Jerônimo, Padre da Igreja nos séculos IV e V, afirmou a cruz como forma de seguimento a Jesus porque como o Evangelho diz que se a pessoa não carrega a sua cruz e não segue a Jesus não pode ser seu discípulo (Lc 14,27). A pessoa deve se atrair pela cruz para ser discípulo do Senhor, pela prática das boas obras. Por isso São Jerônimo disse que é feliz o fiel que carrega no seu intimo a cruz, a Ressurreição, a Ascensão do Senhor, porque a cada dia Ele vem à pessoa pela cruz[7].

A cruz, a obra maravilhosa de Deus em Jesus

São João Damasceno, Padre da Igreja, nos séculos VII e VIII afirmou que a cruz foi a obra maravilhosa de Deus em seu Filho, Jesus, a sua venerável cruz. Foi graças a ela que a morte foi eliminada, porque Jesus a venceu com a sua morte redentora, pois, o pecado das origens recebeu sua expiação, o inferno foi derrotado, a ressurreição foi concedida, e através da cruz foi elevada a humanidade à direita de Deus, através de Jesus[8]. Segundo São João, a morte de Cristo, isto é, a cruz revestiu o ser humano do autêntico poder e sabedoria de Deus, porque a vitória sobre a morte foi mostrada pela cruz, unindo em si, no Cristo Jesus toda a dimensão humana, material e invisível[9].

A cruz, instrumentos da graça

Segundo São João Damasceno a cruz trouxe muitas graças para todas as pessoas. Ela foi escudo, a couraça e o troféu contra o demônio, sendo também o bastão dos enfermos, para conduzir o rebanho, o progresso dos fieis dos sacramentos da iniciação à vida cristã, a saúde da alma e do corpo, o remédio de todos os males, a fonte de todo o bem, a morte do pecado, a planta da ressurreição, a árvore da vida eterna[10]. Esta madeira preciosa e digna de veneração, sobre a qual Jesus se sacrificou para toda a humanidade, seja objeto da adoração de toda a pessoa, uma vez que foi santificada pelo contato com o santíssimo corpo e sangue do Senhor[11].

A cruz, a grande glória

São Cirilo de Jerusalém Bispo do século IV afirmou que a cruz foi grande glória de vida para a humanidade. Ela iluminou quem era cego da ignorância, libertando todas as pessoas prisioneiras do pecado e levando a redenção à humanidade inteira[12]. O universo inteiro foi redimido na sua totalidade porque aquele que morreu sobre a cruz era o Filho Unigênito de Deus. Se o pecado de um só reinou sobre a humanidade, também pela graça de Deus, em Jesus reinou a vida de uma forma abundante (Rm 5,17). Se o primeiro homem foi a causa da morte universal, o segundo homem, Jesus foi a causa da vida universal, através de sua doação na cruz e ressurreição (Jo 14,6). Assim a cruz do Salvador é para todas as pessoas que o seguem, salvação[13].

A cruz é sinal de vida e de salvação, porque Jesus a assumiu e ele quer que todas as pessoas que o seguem renunciem a si mesmas, assumam a cruz e o sigam de fato. Ela possibilita a unidade da pessoa com Jesus para passar da cruz à glória da ressurreição. Jesus morreu na cruz para a vida de todas as pessoas e do mundo inteiro para assim chegar á vida eterna com o Senhor Jesus.

[1] Cfr. Giovanni Crisostomo. Commento al Vangelo di San Matteo, 54, 4-5. In: La teologia dei padri, v. 2. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pg. 140.

[2] Cfr. Ibidem, pg. 140.

[3] Cfr. Ibidem, pg. 140.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 141.

[5] Cfr. Gregório de Nissa. A grande Catequese, XXXII, 5-7. Paulus, SP, 2011, pgs. 359-360.

[6] Cfr. Ibidem, 361.

[7] Cfr. Girolamo. Commento al Salmo 95. In: La teologia dei padri, v. 2, pg. 143.

[8] Cfr. Giovanni Damasceno. Esposizione della fede ortodossa, 4,11. Idem, pg. 144.

[9] Cfr. Ibidem, pg. 144.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 144.

[11] Cfr. Ibidem, pg. 144.

[12] Cfr. Cirillo di Gerusalemme. Catechesi battesimali, 13, 1-13. In: Idem, pg. 146.

[13] Cfr. Ibidem, pg. 146.