A humanidade já venceu diversas pandemias que desafiaram nossa fé, nossa ciência e nossa capacidade de organização sociopolítica. Mas, na contemporaneidade nos deparamos com duas Pandemias que acendem o sinal de alerta: AIDS E COVID-19. Geralmente, é em momentos-limite de dor ou medo que nossa fé é provada, que nosso sistema é posto em “cheque”. São oportunidades de revisar a vida, é mais um tempo de conversão. A ressureição de Cristo já aconteceu, contudo muitos persistem na pouca fé. Porém, Jesus permanece em nosso meio a repetir: “No mundo tereis aflições. Mas, tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33).

Há alguns meses nos deparamos diante da covid-19. Mas, a Pandemia da Aids precede ao novo coronavírus. E os conselhos preventivos são diversos, entretanto, muitos permanecem teimosos, duvidosos, insensíveis. Falta de fé? Ausência de Compaixão, empatia, alteridade? Talvez!

A Igreja, sempre materna, orienta aos fiéis, para ser e estar ao lado dos que mais sofrem, os pobres. Tal prática é uma constante, seja no enfrentamento da covid-19 ou de outros temas que desafiam nossa vida pastoral. Por isso, nasceram a Campanha da Fraternidade no Brasil e as Pastorais Sociais na CNBB. São diversos os serviços organizados para uma ação sociotransformadora, prática da dimensão social da fé que constrói o Reino de Justiça e Paz.

Dentre os serviços da Igreja Católica, está a Pastoral da Aids – com o objetivo de “Evangelizar, de forma solidária, promovendo a vida como bem maior por meio de ações de prevenção, incidência política, acompanhamento de pessoas que vivem e convivem com HIV, contribuindo no enfrentamento da epidemia do HIV, do estigma e da discriminação”.

A aids é uma pandemia iniciada nos anos 80. Já temos controle biomédico do vírus HIV, agente causador da aids. Mas, a pandemia persiste. Pois, a aids é uma realidade biopsicossocial. Ou seja, envolve o biológico, o psicológico e o social. São saberes que precisam caminhar juntos com eficiência. Com isso, a Pastoral da Aids soma forças juntamente a outras Organizações da Sociedade Civil, que dialogando com o governo, traçam estratégias na luta contra Aids. E você faz parte deste projeto em favor da vida!

Desde o ano de 2002, a Pastoral da Aids está organizada a nível nacional, presente em todos os regionais da CNBB e presidida por Dom Eugênio Rixen. É um grande desafio lidar com pandemias, mas a Pastoral da Aids tem muito a colaborar nestes 18 anos de experiência. Que isto sirva de luz para iluminar nosso caminho marcado com a covid-19.

Na CNBB – Regional Norte 2, Pará e Amapá, a Pastoral da Aids atua desde de 2004. Com mais de 15 anos de serviço na Amazônia, e atualmente acompanhada por Dom Irineu Roman, buscamos desenvolver diversas estratégias de prevenção ao HIV e acompanhamento das pessoas infectadas em suas complexas realidades seja no campo ou na cidade.

Orientação para testes de HIV. Ação pastoral em Abaetetuba. (Enfermeira Ana Pontes, Agente da Pastoral da Aids e usuário do SUS).

De 1980 a junho de 2019, cerca de 37,9 milhões de pessoas no mundo vivem com HIV. O Brasil tem registrado, até dezembro de 2019, 900 mil pessoas com HIV: 594 mil fazem tratamento com antirretroviral e 554 mil não transmitem o HIV. E segundo o Ministério da Saúde “135 mil pessoas no Brasil convivem com o vírus HIV e não sabem”. O Pará lidera os casos de gestantes infectadas por HIV, que somam 4.379 casos. E os casos de Óbidos já são mais de 10.000. O Estado também lidera o ranking da região norte nos casos de HIV, que entre os anos de 1980 a 2019, somam 28.655. Comparando as Unidades Federativas, o Amapá é o segundo Estado com maior índice composto, e o Pará é o terceiro. Belém, por sua vez, é a segunda capital no Brasil com maior número de casos de HIV notificados.

Apesar desta realidade desafiadora, acreditem: seria bem pior se não houvessem trabalhos comprometidos com a promoção da vida, como a Pastoral da Aids. Mesmo durante o isolamento social horizontal, reconhecido dentre as diversas práticas de prevenção combinada ao covid-19, nossos trabalhos pastorais continuam pelos meios virtuais. Buscamos sensibilizar as pessoas para o fato de que os impactos sociais não são iguais para todas as estratificações sociais, para os diversos grupos de pessoas. Por tanto, a população que vivem com HIV é uma das que são mais expostas a situações de vulnerabilidades diante da covid-19.

E para construir novos tempos, buscamos fortalecer nosso trabalho profético e solidário: no aconselhamento e incentivo ao diagnóstico precoce; no acompanhamento das pessoas que vivem com HIV – PVHIV (atualmente acompanhamos 1.400 pessoas oriundos das (arqui)dioceses de Belém, Abaetetuba, Castanhal, Bragança, Marabá, Santarém e Itaituba); na distribuição de cestas básicas (média de 50 por mês pelo projeto “Vertical” em Santarém e Itaituba); na campanha do leite (média de 200 crianças soropositivas beneficiadas em Parauapebas); nas lives (in)formativas partilhadas na mídias sociais.

Até o momento, realizamos três edições de lives, conversais virtuais mediadas pelo agente de pastoral, Eduardo da Amazônia, e intituladas “Pastoral da Aids em tempos de coronavírus”. As transmissões foram realizadas as quartas-feiras, e teve como objetivo abordar o tema do HIV num cenário de pandemia, com um envolvimento direto de cerca de 2 mil pessoas. A primeira, realizada no dia 08 de abril, teve como convidada a médica infectologista Dra. Helena Brígido que vem atuando desde o início da aids e atualmente também está envolvida no enfrentamento do coronavírus no Pará.

Diego Calisto foi o segundo convidado no dia 15 de abril. O jovem que vive com HIV e foi diagnosticado com COVID-19, contou um pouco sobre as situações biopsicossociais vividas durante o período que esteve com coronavírus e alguns estigmas comuns na soropositividade. Na terceira transmissão, Maria das Graças e Francisco Crisóstomo (Thiesco), ambos da equipe técnica da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança, abordaram sobre solidariedade ativa e direitos humanos com enfoque me Saúde.

Sobre o enfrentamento da Pandemia causada pelo Covid-19, partilhamos as seguintes luzes:

  • Reze todos os dias – louvando, agradecendo e pedindo o fim da pandemia da Aids e da covid-19;
  • Ouça o que diz a Organização Mundial da Saúde e demais organizações competentes;
  • Cuide bem de você e de todos que você ama;
  • Não haja com preconceito, discriminação ou prejulgamento;
  • Só compartilhe informações confiáveis;
  • Seja solidário e fraterno. Compaixão também se aprende;
  • Celebre a beleza de cada dia;
  • Guarde a memória dos que morreram de Aids e de Covid-19;
  • Participe dos espaços de decisão das políticas públicas de saúde;
  • Defenda o Sistema Único de Saúde;
  • Valorize todos os profissionais que estão na linha de frente durante o isolamento social e que atuam na equipe multidisciplinar na luta contra Aids;
  • Ajude a sustentabilidade pessoal e financeira das Organizações da Sociedade Civil;
  • Reflita e perceba que tipo de lição as Pandemias tem a te ensinar.

No mais, não há mal que dure eternamente! Renovemos nossa fé no ressuscitado para que “todos tenham vida, e vida em abundância!” (Jo, 10,10). Na certeza de que a Rainha da Amazônia, Nossa Senhora de Nazaré, caminha ao nosso lado na alegria ou na dor.

Por Eduardo da Amazônia e Francisco Araújo, OFS

•••

Confira as lives já transmitidas.

Pastoral da Aids em tempos de coronavírus

Dia 08 de abril: https://www.facebook.com/pastoralaidsn2/posts/1962255743899359

Dia 15 de abril: https://www.facebook.com/pastoralaidsn2/videos/697905754359452/

Dia 22 de abril: https://www.facebook.com/pastoralaidsn2/videos/704338790342605/