por Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

A reflexão sobre amizade social entre as pessoas físicas e grupos, nos estimula a estendê-la ao nível das instituições. Quando o Papa Francisco lançou o Pacto Educativo Global foi motivado pela perspectiva da necessidade da ação conjunta, em diversos níveis, envolvendo muitos atores sociais, como instituições privadas e governamentais, trabalhando em sintonia buscando dar respostas para os problemas da sociedade através da Educação. A resposta conjunta para os problemas sociais pressupõe a experiência de proximidade, diálogo e amizade entre as instituições. As instituições eclesiais por força da missão evangelizadora devem continuamente se exercitar na abertura, no bom relacionamento e interação com outras instituições.

  1. A função social das instituições

Toda instituição, legitimamente constituída, tem uma dimensão e função social. Na sociedade, além das pessoas físicas, reconhecidas como seres vivos e sujeitos de direitos e deveres, há também as pessoas jurídicas, ou seja, as instituições criadas e legalmente reconhecidas. São pessoas no sentido análogo ao ser humano, considerando que elas são também sujeitos de direitos e deveres com personalidade portadora de características próprias, missão, valores, estrutura de funcionamento etc.

Enquanto sujeitos, as instituições devem interagir com a sociedade e as demais instituições, sobretudo, com aquelas da mesma categoria. Assim como as pessoas vivas, revelam sua subjetividade interagindo com os outros, a mesma coisa acontece com as instituições. A sociabilidade das instituições brota do papel social que cada uma delas tem. As instituições, em geral, não nascem por capricho humano, mas para dar uma resposta às necessidades da natureza, da sociedade ou de uma categoria de pessoas especificamente. É dentro desse contexto relacional que entra o importante compromisso da amizade institucional. Toda instituição, sobretudo filantrópica, que se fecha em si mesma, perde a sua razão de ser na sociedade.

  1. O magistério da Igreja e a amizade entre as instituições

Todas as instituições da sociedade, públicas ou privadas, são chamadas a serem inspiradas no ideal da justiça social (cf. Mater et Magistra (MM), 40), uma vez que as tomadas de decisões mais influentes para a vida da sociedade são aquelas de caráter institucional (cf. MM, 99). O ser humano é o princípio de base, o sujeito que dinamiza e, ao mesmo tempo, é o fim de todas as instituições sociais. A promoção, tutela e defesa da dignidade humana, de modo direto ou indireto constitui o eixo fundamental das instituições (cf. MM, 218-219).

O Concílio Vaticano II refletiu sobre a necessidade e a importância das instituições na sociedade. Reafirmou a verdade que o ser humano deve ser o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais. “Entre os laços sociais, necessários para o desenvolvimento do homem, alguns, como a família e a sociedade política, correspondem mais imediatamente à sua natureza íntima” (GS, 25); afirmou a necessidade das instituições estarem a serviço da dignidade humana e combatendo tudo aquilo que lhe é contrário para suprimir a ética individualista (cf. GS,25.29).

A Igreja, reconhecendo com respeito o que há de bom, verdadeiro e justo nas instituições, declarou querer ajudá-las e promovê-las, na medida em que isso dela dependa e seja compatível com a sua própria missão (cf. GS,42). Os cristãos são chamados a cooperar com as instituições internacionais para que sejam consolidadas somando para a edificação da comunidade dos povos, na paz e fraternidade… A eficácia desse apoio depende do diálogo coletivo (cf. GS, 92).

Também a encíclica Populorum Progressio reconheceu a necessidade da amizade entre as instituições que propicia a interação em vista de darem respostas aos problemas humanos, pois o desenvolvimento integral do homem não pode realizar-se sem o desenvolvimento solidário da humanidade… É necessário trabalhar juntos para construir o futuro comum da humanidade… é preciso “a busca de meios de organização e de cooperação, concretos e práticos, para pôr em comum os recursos disponíveis e realizar, assim, uma verdadeira comunhão entre todas as nações” (PP,43). A solidariedade e ação conjunta entre as nações é consequência da fraternidade dos povos (cf. PP,44).

Na encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco estende a reflexão sobre amizade social também para o nível das instituições em vista de somarem para a resolução dos problemas sociais. O sumo pontífice denunciando o desvios de muitas instituições, afirma que quando elas perdem a consciência de estarem a serviço da sociedade tornam-se violentas, insensíveis, correm atrás dos seus interesses ocultos e caem num círculo vicioso (cf. FT,75). “Sentimo-nos também abandonados pelas nossas instituições desguarnecidas e carentes, ou voltadas para servir os interesses de poucos, fora e dentro” (FT, 76).

A Caridade é capaz de envolver pessoas, recursos e instituições para promover a boa samaritanidade como sinal de amor ao próximo transformando a vida das pessoas (cf. FT,165). “O amor ao próximo é realista, e não desperdiça nada que seja necessário para uma transformação da história que beneficie os últimos” (FT,165). A ação conjunta voltada para a promoção da fraternidade Universal deve também envolver as organizações internacionais das Nações Unidas (cf. FT,173-174.189). O Amor que reúne e integra, promove a caridade política que se expressa também na abertura a todos. A caridade política estimula o encontro, a escuta, a busca de convergência, a renúncia, a paciência, negociações, intercâmbio de dons a favor do bem comum (cf. FT, 190).

  1. Ações da Amizade entre as instituições

A amizade entre as instituições deriva do caráter coletivo e social delas, pois elas têm uma dimensão e função social. A missão das instituições legalmente reconhecidas, está em razão das necessidades da sociedade ou da nossa Casa Comum que naturalmente beneficia o próprio ser humano. Da vocação social das instituições deriva o compromisso de interação com as demais, sobretudo, aquelas presentes no mesmo território.

A Amizade entre as instituições exige delas o constante exercício de abertura, diálogo, relacionamento, interação, colaboração recíproca, parceria, união de esforços em vista do enfrentamento dos desafios comuns e problemas sociais. Desse esforço brota o compromisso de manter-se em sintonia com a sociedade, sua cultura, se enriquece com as conquistas, deixa-se orientar por parâmetros legais, acolhe as autênticas exigências dos tempos, cultiva postura ética, zela por sua responsabilidade social; a instituição que perde sua sensibilidade social, se esfria, perde brilho e morre.

A amizade entre as instituições, pode se concretizar de muitos modos, como por exemplo: através de parcerias em apoio técnicos ou ações conjuntas, de programas de responsabilidade social interinstitucional, da articulação de ação conjunta em resposta a problemas sociais (clamores humanos do território), de ações preventivas integradas com as políticas públicas e de governo, do diálogo, estudo e discernimento de propostas em vista de dar resposta a problemas emergentes. É muito triste constatarmos que, muitas vezes, diante de graves dramas sociais (como pandemias, surto de doenças e catástrofes climáticas) surgem instituições insensíveis, desonestas e que se aproveitam da miséria e do sofrimento humano.  Por outro lado, como é consoladora a rede de solidariedade que espontaneamente é formada a partir das boas instituições, porque na verdade, sempre estiveram abertas às necessidades humanas.

Em nível eclesial a missionariedade é a fonte inspiradora do constante esforço de abertura e saída para todas as instituições católicas. É nessa dinâmica que o Papa Francisco pensa a paróquia; ela “é presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração” (EG, 28). “A Paróquia não é uma estrutura caduca” (EG, 28); e por isso está em contínua interação com o território que é o mesmo ambiente de outras instituições.

A instituição católica que não interage com seu contexto e nem se relaciona com as outras instituições afins, mas está debruçada sobre si mesma, está com um coração anêmico e sem paixão pelo Reino de Deus. A sociabilidade e a afetividade de uma instituição que a leva a se relacionar com outras, a torna profundamente significativa onde ela está presente. Por outro lado, muitas instituições já foram fechadas e desapareceram sem mesmo a sociedade perceber!

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que as instituições tem uma dimensão e uma função social?
  2. Quais podem ser outras ações da amizade entre as instituições?
  3. Por que uma instituição perde a sua significatividade social quando se fecha?