Introdução

O contexto sociocultural em que vivemos desafia profundamente a educação católica para que não perca o seu fervor, brilho e identidade. O forte pessimismo nas múltiplas dimensões da vida pessoal e da sociedade constituem grandes desafios a serem enfrentados pela escola católica. Esta é chamada a ser laboratório das relações humanas para a transformação da pessoa e da sociedade.

 

  1. A cultura niilista

Muitos pensadores da era contemporânea tem contribuído com significativas reflexões sobre o fenômeno do niilismo e o esgotamento do sentido do humano nas relações interpessoais. O niilismo (do latim nihil, nada) é uma corrente de pensamento marcada pelo pessimismo no ser humano. Isso gera muitas consequências.

O filósofo alemão, Karl-Otto Apel, nos alertou para esse fato dizendo que estamos imersos num mundo de crises e a matriz de todas as crises é a crise de identidade do ser humano (cf.  APEL, OTTO, 1994,193-208). A crise de identidade gera impacto sobre a qualidade das relações da pessoa. A concepção niilista da vida ameaça a visão e a exploração das suas riquezas, potencialidades, capacidades, ofusca a esperança, estimula o negativismo, reduz a visão de futuro.

O niilismo é uma atitude de descrença no ser humano. É ausência do exercício da subjetividade, é miopia da razão que não possibilita o enxergar a consistência da vida como é, cheia de naturais valores, possibilidades e desafios a serem enfrentados.

O niilismo também se manifesta através do medo do novo, da pouca resistência, do cansaço existencial, do desânimo, da falta de sonhos. A educação integral deve enfrentar essa realidade social e infundir firmeza de ânimo, esperança, visão integral da pessoa e seus recursos.

 

  1. Múltiplas expressões de violência

Um dos mais profundos desafios a serem continuamente enfrentados pela educação católica é a questão do sentido da vida que passa fundamentalmente pela formação para as relações humanas saudáveis. O bom cidadão é o ser humano que foi educado para saber relacionar-se. Essa experiência educativa começa na família. Mas bem sabemos, nem sempre os pais tem essas possibilidades por causa da situação existencial deles.

A fragilidade da formação humana favorece o crescimento da violência porque não estimula o desenvolvimento da dimensão socioafetiva. Por causa desse mal, há hoje, múltiplas formas de violências na sociedade e a primeira delas é o atentado contra a dignidade da própria pessoa humana através da automutilação, alcoolismo, drogadição, criminalidade em geral.

Também é uma forma de violência e injustiça, em relação ao ser humano, a ausência das possibilidades para o seu desenvolvimento integral. Para a educação católica isso significa a manutenção dos ideais de uma sociedade mais justa e fraterna e, ao mesmo tempo, o dever da promoção da educação moral.

 

  1. Escola católica: laboratório de relações humanas

Os violentos não são bem-vindos à sociedade porque não sabem conviver sadiamente! Para que saibamos ser capazes de bem conviver é necessário que passemos por um processo de desenvolvimento de uma série de habilidades humanas: a reflexão para não agir por impulso; o respeito que é uma espécie de parada moral diante das manifestações do outro sem agredi-lo; a paciência que é capacidade de esperar, de percorrer processos e obedecer regras; o diálogo como instrumento de interação e enriquecimento com o outro; a solidariedade como reconhecimento de igualdade e senso de responsabilidade uns pelos outros; a justiça como reconhecimento de tudo aquilo que pertence ao outro, bens materiais e direitos;  o projeto de vida  e o esforço para conseguir honestamente o que se deseja pois nada na vida é automático e gratuito; a firme e serena gestão das emoções.

Diante do sombrio quadro das relações humanas na atualidade, onde a violência se manifesta nas mais variadas dimensões da vida e das estruturas institucionais (corrupção), a escola católica é chamada a ser perita na reflexão sobre a humanidade e laboratório de relações humanas. Deve portanto, ser capaz de refletir e aprofundar os valores humanos e promover entre seus educadores e educandos uma sadia experiência de relações humanas. Dessa forma, com intervenções pedagógicas baseadas na interação afetiva, promove o amadurecimento dos estudantes e colaboradores para não serem violentos.

 

  1. Relançar o uso das “palavras mágicas”

E por onde começar? Com as “boas maneiras”! Boas maneiras onde? Antes de tudo na comunicação. É preciso estimular o uso das palavrinhas mágicas na família, na escola, na rua… Isso quer dizer exercício cotidiano das gentilezas básicas: o “bom dia”, “boa tarde”, “por favor”, “com licença”, “desculpe”, “muito obrigado”! São pequenas chaves que abrem grandes portas: a porta dos corações, a porta das mentes, a porta da serenidade, a porta do sorriso, a porta da amizade…

Quem não tem boas maneiras é chamado de “mal-educado”. Quem não tem boas maneiras é taxado de grosso, ignorante, rude, seco…  As boas maneiras, na sociedade se chama “etiqueta” ou seja, ética pequena. Significa um comportamento bom, correto, justo, agradável, equilibrado, honroso.

A educação é relação! Por isso não acontece a verdadeira educação onde, entre os sujeitos, não existe uma relação harmoniosa, respeitosa, delicada e de confiança. Sendo assim, a primeira habilidade do educador deve ser aquela de qualificar-se nas relações humanas. O educador que, por suas atitudes violentas se faz antipático e promove a frieza nas suas relações interpessoais, ameaça e amedronta, perde a força educativa e a capacidade de influenciar positivamente os outros. Dessa forma suprime a própria autoridade educativa e pedagógica.

 

  1. A escola católica e Jesus Cristo

Uma escola católica que não zela pela harmonia nas relações interpessoais entre todos internamente (direção, estudantes, professores, colaboradores e prestadores de serviço, do porteiro ao diretor) vive uma profunda crise de identidade. A dimensão humana, que significa atenção à pessoa, deve ser a primeira e mais forte característica da escola católica. Estamos falando de zelo para com a dignidade humana. Sem esse compromisso básico, o resto fica sem sustentabilidade.

Nos Evangelhos contemplamos Jesus Cristo profundamente comprometido num processo de formação integral dos seus discípulos dando prioridade à questão das relações humanas como reflexo do autêntico amor a Deus e ao próximo (cf. Lc 10,25-37).

Para Jesus a educação é, acima de tudo, transformação da pessoa que a capacidade para  conviver. Por isso Jesus educa para a necessidade do perdão (cf. Mt 18,21-35); alerta os discípulos para a importância da tolerância falando da convivência entre o joio e o trigo (cf. Mt 13,25-40); estimula seus seguidores para a paciência diante dos males recebidos, sem atitude de vingança  (cf. Mt 5,38); incentiva o sentido da corresponsabilidade nas relações humanas (cf. Mt 18,15-19); corta radicalmente a possibilidade da atitude justiceira defendendo a dignidade humana (cf. Jo 8,1-11); com dureza chama a atenção de um dos seus discípulos quando age por impulso e se faz violento (cf. Mt 26,51-53); não suporta que alguém despreze os mais pobres e simples (cf. Mt 18,11), etc. Esse é o horizonte mestre da escola de Jesus: formar pessoas para serem autenticamente humanas, capazes de amar o próximo.

 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. O que você entendeu sobre a “cultura niilista”?
  2. Você concorda que hoje há muito pessimismo e fragilidade nas relações humanas, por quê?
  3. Você concorda que a Educação Católica pode ser “laboratório das relações humanas”?