O Sínodo da Amazônia está se aproximando cada vez mais e isto é motivo de alegria e amor para todo o povo de Deus desta região expressiva no planeta terra, e na vida eclesial. No entanto não estaria sendo bem visto por alguma parte do governo federal. Sabemos que os novos caminhos de evangelização para a Amazônia devem ser feitos com o povo de Deus
que vive na Amazônia, sobretudo os povos indígenas. O texto preparatório coloca que a floresta Amazônica é muito importante para toda a humanidade com a sua rica biodiversidade e, sobretudo com os seus povos indígenas, mas que se tornou local de cobiça, de cultura do descarte (LS 16). A Igreja deve encontrar meios para um novo vigor à evangelização. Os povos indígenas vivem sob ameaça desde o período da colonização, no entanto as comunidades amazônicas procuram se
organizar e lutam pelas suas vidas, territórios e direitos. É claro que os mais vulneráveis são os povos indígenas em situação de isolamento voluntario, pois os seus territórios estão sendo muitas vezes, invadidos. É preciso valorizar os
povos indígenas e os povos não indígenas porque todo o esforço como afirmou o Papa Francisco em Puerto Maldonado é pouco pela vida dos povos amazônicos.
Nesses dias saiu uma comunicação que parte do Governo Federal estaria preocupado pelo papel da Igreja na Amazônia, sobretudo nas coisas que se refeririam ao Sínodo, caso os bispos não falasse bem da Amazônia no próprio Sínodo. A Igreja, seguidora de Jesus Cristo não pode ficar calada diante de situações que desfavoreçam a vida humana, vegetal e florestal. Devemos saber que estamos dentro de uma ecologia integral, como nos fala o Papa Francisco. Sabemos que as terras da Amazônia são cobiçadas pelo agronegócio, por grandes empresas mineradoras, que buscam sempre mais explorar as terras, ocasionando poluição de rios, nascentes, invadindo muitas vezes terras dos povos indígenas, e outros povos. Muitas vezes as
barragens construídas em nossa região oferecem riscos à população. O papel da Igreja é seguir o Evangelho de Jesus Cristo que amou a todos mas sobretudo os pobres, e ela tem sempre uma palavra crítica em relação às atitudes dos governos em
relação aos povos da Amazônia, porque Cristo por primeiro fez a opção pelos pobres, pelos abandonados na sociedade. O texto preparatório do Sínodo coloca que o evangelho nos impulsiona aos outros, a promoção humana (EG 178). Se
aceitarmos o amor trinitário em nossas vidas, devemos promover em cada ser humano a ação evangelizadora, sendo sempre no cuidado com os outros (cf. EG 178). Evangelizar compromete a pessoa aos outros, a vida da comunidade, a
caridade, a promoção no mundo pela vida, porque tudo deve estar submisso a Cristo (Ef 1,10). Seja para qualquer governo tem a Igreja uma posição profética no sentido da preservação da vida, das pessoas que vivem neste chão amazônico,
sobretudo os povos indígenas, da natureza, do qual tem atraído as atenções dos olhares de muitas pessoas do Brasil e do mundo. É preciso que as autoridades políticas ouçam os clamores dos povos da Amazônia. Haja mais vida e menos
destruição. Nós também devemos ouvir os clamores do povo amazônico, porque o Sínodo deve partir das angústias e esperanças dos povos que vivem na Amazônia.
A Igreja é instrumento da graça de Deus.
Como tema central do Conselho de Pastoral Diocesano realizado entre os dias 09 a 11 de novembro no centro de Pastoral da Diocese de Marabá, debateu o Sínodo da Amazônia. Nós vimos a necessidade de ir ao encontro de todos os povos tradicionais, quilombolas, ribeirinhos. Deixar de excluir, conhecer os povos indígenas e buscar a realidade amazônica. Respeitar e tomar partido com a dor do nosso povo. Ser uma igreja em saída e formando novas comunidades. Em relação à ecologia integral na Amazônia é preciso não adotar defensivos agrícolas para a ecologia integral, não usar agrotóxicos,
pressionar as autoridades para cuidar do saneamento básico, defender os cocais, abraçar o reflorestamento, que é a causa da floresta viva, adotar energias alternativas, pensando em ecologia como um todo é saber que não conseguiremos
alcançá-los da noite para o dia, devemos começar aos poucos com pequenas mudanças de hábitos, nos conscientizando de todas essas coisas, e ir influenciando as pessoas ao nosso redor da importância da ecologia integral. As políticas públicas necessitam de objetividades. É preciso ter relação de respeito ao desenvolvimento integral e ecossistema. É preciso a conversão ecológica, trabalhar tal consciência dentro da Igreja, para a edificação do Reino de Deus.
A Igreja procura ser instrumento do Reino de Deus vivendo neste mundo tão dilacerado por interesses que não são os do evangelho. Ela denuncia os pecados da ganância pela terra, pelos bens econômicos sobre aqueles que são os humanos e divinos. Ela também precisa se converter sempre ao Senhor, o Pastor dos Pastores, e ouvir os clamores dos sofredores e pobres da sociedade. Ela nunca deixará de dar a sua palavra diante das injustiças cometidas contra os povos indígenas, povos ribeirinhos. Estamos na Amazônia, pulmão do mundo, onde Cristo aponta para a Amazônia, como dizia
São Paulo VI e onde o Reino de Deus crescerá com a nossa participação. A missão da Igreja é viver bem este período do Sínodo influenciando para que as pessoas rezem pelo Sínodo e os debates sobre questões do Sínodo levem em conta os povos indígenas, os pobres, e a nossa participação como Igreja é seguir a Cristo, caminho, verdade e vida.
Dom Vitall: Hoje lembramos os 14 anos da morte de Irmã Dorothy Stang, mártir pela causa do Reino de Deus,
pela terra, em Anapu, Pará, em 12 de fevereiro de 2005. Ela pertencia à Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur. Ela testemunhou com a sua vida, o amor de Cristo Jesus derramando o seu sangue em favor dos povos da Amazônia,
sobretudo aqueles que são os pobres, os necessitados. Assim como o martírio ocorreu nos primeiros séculos do cristianismo, hoje, o martírio dá-se pela causa da terra, da justiça e do amor. É uma vocação o martírio de modo que é um
chamado do Senhor e uma resposta generosa ao seu amor por cada um de nós. É a caridade perfeita. Irmã Dorothy passou pela nossa Diocese de Marabá, onde estava ao lado dos povos sofredores, dos povos do campo, e com movimentos
sociais. O testemunho de vida de Dorothy ajude-nos a seguir a Cristo, até às últimas consequências, num amor dado para a vida do mundo, assim como Jesus fez para a sua Igreja e para todos.
Por Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá – PA