por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar na Arquidiocese de Belém do Pará
Uma das mais significativas propostas da pastoral juvenil salesiana é a promoção da experiência do voluntariado. Tem crescido em todo o mundo, sobretudo nas novas gerações, o desejo de fazerem a experiência do voluntariado. Trata-se de um fenômeno profundamente humano, muito significativo que merece ser aprofundado. A palavra “voluntário” deriva do termo latino “voluntas” que significa vontade, e do verbo “volere”, que quer dizer “querer”. O voluntário é aquela pessoa que, por livre e espontânea vontade, decidiu fazer a experiência de servir aos outros gratuitamente, sem remuneração nenhuma e com generosidade. Por isso só o ser humano pode ser verdadeiramente voluntário.
A expressão “voluntariado” é carregada de elementos positivos porque nos fala de consciência de si, de liberdade, amor ao próximo, serviço, sensibilidade, doação, generosidade; a experiência do voluntariado nos fala de disponibilidade pessoal, coragem, superação da infantilidade egoísta, altruísmo, solidariedade… Por isso, o voluntário não está fazendo um favor a quem serve; não age por pressão (interna ou externa), nem por interesse pessoal; age livremente. É uma atitude de amor, pois o amor é gratuito!
A experiência do voluntariado revela excelência humana, consciência humanista, maturidade sócio-afetiva e ética! Mais que uma ação, é importante cultivarmos a “cultura do voluntariado”, a virtude da voluntariedade, ou seja, da gratuidade. Diz a Sagrada Escritura: “Cada um dê conforme decidir em seu coração, sem pena ou constrangimento, porque Deus ama quem dá com alegria” (2Cor 9,7).
Compromisso moral
Quem quer servir por amor, gratuitamente, deve servir com alegria. As atitudes do voluntário devem comprovar a vivência de profundos valores humanos ou, ao menos, seu desejo de experimentá-los. Por isso, o voluntário se predispõe ao sacrifício de si mesmo, como oferta altruísta e generosa. Não impõe condições para ser, não exige nada e nem espera recompensa! A recompensa maior é o sentimento de felicidade em poder fazer a experiência de gratuidade. Essa atitude de oferta é fruto de um processo de amadurecimento humano que nos leva a entender o núcleo central do Sentido da Vida, que não está no Ter e nem na segurança pessoal. Com suas atitudes o voluntário comunica: “Estou aqui para servir! Eu vim para servir e dar a vida”! (cf. Mc 10,45; Jo 10,10).
Experiência de compaixão
Alegria e compaixão são sentimentos constantemente presentes no coração e nos lábios de um bom voluntário. A compaixão é ação proativa, promotora do bem ao outro que, por sua vez, produz alegria e bem-estar. O voluntário é alguém movido por uma grande compaixão. Era esse o mais forte sentimento de Jesus (cf. Mt 9,36; Mt 20,34; Mc 6,34). A compaixão é uma profunda virtude carregada de dinamismo positivo e propositivo. De fato, sempre após a manifestação do sentimento de compaixão em Jesus, segue uma ação proativa.
O serviço gratuito, mas prestado com frieza e “cara feia”, não é autêntico voluntariado humanista, muito menos cristão. A compaixão e a bondade combinam com a alegria, o entusiasmo, a serenidade edificante. Falando das características da caridade cristã, São Paulo estimula os fiéis de Roma dizendo que quem exerce a misericórdia, deve fazê-lo com alegria (cf. Rm 12,7).
Um voluntário triste é uma contradição! Um voluntário preguiçoso, murmurador e que vive reclamando de tudo, errou em sua decisão, está sendo, na verdade, pressionado a fazer algo pelos outros, não está sendo livre. Há pessoas que, erroneamente, se decidem ao “voluntariado” para fugir de algo, para preencher o próprio tempo livre… Quando falta a compaixão como motivação básica, o voluntariado se esvazia.
A gratuidade tem um preço
O voluntário não só abraça o serviço gratuito (o trabalho), mas também aceita as exigências inerentes ao serviço, e deve acolher com serenidade as circunstâncias desagradáveis ou desfavoráveis. As dificuldades provam a consistência das convicções do voluntário. É muito fácil fazer o bem quando tudo está favorável; desafio é manter a mesma convicção quando temos dificuldades.
Dentro desse contexto, vale a pena recordarmos a parábola do bom samaritano que Jesus contou quando estava falando do amor ao próximo (cf. Lc 10,25-37). Quem não sente compaixão, olha, vê e passa adiante pelo outro lado. A causa dos desvios do pobre caído no chão não era a agenda dos atarefados, nem a urgência dos seus compromissos, mas a falta de compaixão: “Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu e teve compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas suas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele” (Lc 10,33-34).
Se não sentisse compaixão, se não fosse sensível, o viajante samaritano teria possivelmente todas as desculpas para não servir. Mas não foi isso que aconteceu. A sequência dos verbos é maravilhosa: viu, aproximou-se, sentiu, agiu… ele fez a sua parte!
Artigos Anteriores
Dom Antônio: DESAFIOS PARA A PASTORAL JUVENIL:revitalizar a sensibilidade existencial (Parte 2)
Introdução O princípio da encarnação do Filho de Deus, que o fez assumir a totalidade da realidade humana, nos convoca a refletir sobre a exigência de uma pastoral juvenil profundamente encarnada no mundo dos jovens. Quando pensamos na vida dos jovens, não...
Dom Antônio de Assis: Aprofundar a identidade da Pastoral Juvenil (Parte 1)
A partir da lista dos desafios apresentados no artigo anterior, iniciemos a aprofundar o primeiro grande desafio para a Pastoral Juvenil, refletindo sobre o que isso significa. O que implica a pastoral juvenil? De quais realidades e meios de hoje não podemos...
DOM ANTÔNIO ASSIS: GRANDES DESAFIOS PARA A PASTORAL JUVENIL
Introdução Em todas as dimensões e áreas da vida pastoral da Igreja encontramos grandes desafios. Isso significa que o processo de evangelização não é gratuito. O ato de semear a Palavra de Deus exige esforço do evangelizador para conhecer a realidade em que trabalha,...
Dom Antônio Assis: EUCARISTIA E COMPROMISSO DE VIDA
Introdução Celebrando solenemente a Festa de Corpus Christi somos convidados a aprofundar o sentido e as consequências do Sacramento da Eucaristia em nossa vida. Para sermos mais estimulados consideremos as preocupações do apóstolo Paulo presentes na primeira...
IGREJA NA AMAZÔNIA – 1972: ENCARNAÇÃO NA REALIDADE E EVANGELIZAÇÃO LIBERTADORA
Por Dom Antônio Assis Bispo de Belém Introdução De 06-09 de maio de 2022 aconteceu em Santarém o IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, para a celebração dos 50 anos do Encontro dos bispos da Amazônia acontecido na mesma cidade de 24-30 de maio de 1972. Ao...
DOM ANTÔNIO ASSIS: O ESPÍRITO SANTO DEFENDE, EDUCA, REJUVENESCE A IGREJA
Introdução A celebração da Solenidade de Pentecostes nos estimula a revisitar e meditar o mistério da identidade do Espírito Santo e sua missão. É Ele quem impulsiona a Igreja e a mantém em permanente estado de missão para ir ao encontro das Galileias nos tempos...
DOM ANTÔNIO ASSIS: PASTORAL JUVENIL E SINODALIDADE.
Introdução O tema sinodalidade tem sido objeto de constante e de mais intensa reflexão nos últimos anos. Na Constituição Apostólica Episcopalis Communio o Papa Francisco afirma que Cristo fala através de todo o povo de Deus, na totalidade dos fiéis, que receberam a...
DOM ANTÔNIO ASSIS: A EDUCAÇÃO CATÓLICA E PREVENTIVIDADE (Parte 20 – Final)
Introdução O conceito de “educação preventiva” foi gestado a partir da reflexão crítica sobre muitos dramas humanos começando na Europa. No final do século XIX havia de modo geral em alguns países europeus uma grande preocupação para com a assimilação de lições...
DOM ANTÔNIO ASSIS: a educação católica no ensino superior (Parte 19).
A EDUCAÇÃO CATÓLICA NO ENSINO SUPERIOR (Parte 19) Introdução O perfil do Ensino Superior Católico está vinculado ao conceito de educação que a Igreja traz consigo, focado na dignidade da pessoa, na ciência em prol do desenvolvimento humano integral, inspirado nas...
Dom Antônio: Educação Católica: A DIMENSÃO ÉTICA DA EDUCAÇÃO CATÓLICA (Parte 18)
Introdução A identidade da educação católica traz consigo um modo próprio de se expressar; uma das suas mais profundas características é a dimensão ética. Na verdade, há uma natural relação entre educação e ética porque o desenvolvimento humano pressupõe...
Dom Antônio: Educação Católica: A ESCOLA CATÓLICA E A PROMOÇÃO DAS SADIAS RELAÇÕES HUMANAS (Parte 17)
Introdução O contexto sociocultural em que vivemos desafia profundamente a educação católica para que não perca o seu fervor, brilho e identidade. O forte pessimismo nas múltiplas dimensões da vida pessoal e da sociedade constituem grandes desafios a serem...
Dom Antônio: Educação Católica: O Pacto Educativo Global e o impacto social da educação (Parte 16)
Introdução Continuemos a nossa reflexão sobre o Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco. Esse desafio nos estimula a aprofundar a dimensão social da educação que brota da consciência da missão de promoção do Reino de Deus. A educação católica tem um...
Dom Antônio: Educação Católica: o Pacto Educativo Global e seus horizontes (Parte 15)
Introdução A Igreja, desde a sua fundação, sempre se mostrou muito sensível para com a educação. O ser humano é vocacionado, ou seja, chamado ao desenvolvimento integral e sem a promoção da educação, isso não é possível. A Igreja é educadora e sempre...
DOM ANTÔNIO ASSIS:EDUCAÇÃO CATÓLICA: Educar para o humanismo solidário (Parte 14)
Introdução Continuemos a nossa reflexão sobre o documento “Educar para o humanismo solidário”. Recordemos as principais ideias apresentadas anteriormente para podermos assim, continuar a reflexão sobre o referido texto. A base inspiradora desse documento é a...
DOM ANTÔNIO ASSIS:EDUCAÇÃO CATÓLICA: Educar para o humanismo solidário (Parte 13)
Introdução Em 2017, por ocasião da celebração dos 50 anos da encíclica Populorum Progressio (PP), sobre o desenvolvimento humano dos povos, escrita pelo Papa Paulo VI em 1967, a Congregação para a Educação Católica lançou um documento com o título...
DOM ANTÔNIO ASSIS: EDUCAÇÃO CATÓLICA: O educador, Bom Pastor dos seus educandos (Parte 12)
Introdução Encontramos na Sagrada Escritura uma abundância de referências sobre a figura do pastor e das ovelhas. A economia dos povos da bíblia era baseada na agricultura e na pecuária. Daí se entende a abundância de referências à figura das ovelhas,...
DOM ANTÔNIO ASSIS: EDUCAÇÃO CATÓLICA: Fraternidade e Educação – Texto Base Agir (Parte 11
Introdução A terceira parte do texto-base da Campanha da Fraternidade nos estimula a traduzir em ações concretas as provocações da realidade contida na primeira parte (o Ver) e as inspirações presentes no discernir (II parte). Por se tratar de uma realidade...
DOM ANTÔNIO ASSIS: FRATERNIDADE E EDUCAÇÃO: Texto Base – Discernir (Parte 10)
Introdução O exercício da escuta é importante para a tomada de decisões em nossa vida. Mas para que o discernimento seja seguro, precisamos ser formados, pois a formação nos proporciona a assimilação de critérios e parâmetros que nos possibilitam analisar com...
DOM ANTÔNIO ASSIS: CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2022 “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Parte 9)
Introdução Estamos iniciando mais um tempo quaresmal e, com ele, somos chamados a promover a Campanha da Fraternidade (CF). O tempo quaresmal nos estimula à conversão, à melhoria de nós mesmos, e isso não é possível sem revermos a qualidade da nossa relação com os...
DOM ANTÔNIO ASSIS: Educação católica – Fundamento Cristológico. Jesus educador, por excelência (Parte 8).
Introdução Continuemos nossa reflexão sobre a identidade da educação católica centrando o nosso olhar sobre a pessoa de Jesus Cristo. O fundamento cristológico é determinante para a educação católica, porque Jesus Cristo é a pedra angular, o Mestre e o Senhor...