Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

Todos os anos a Igreja Católica dedica uma jornada de reflexão sobre as Comunicações Sociais que acontece no IV domingo do mês de maio, e tem um tema específico cada ano comentado numa mensagem do Papa. O tema da 57a. Jornada Mundial das Comunicações Sociais deste ano é «Falar com o coração. Testemunhando a verdade no amor” (Ef 4,15). O Papa Francisco convida os cristãos a refletirem sobre a importância da dimensão ética e afetiva da comunicação. A mentira nunca comunica o bem, só confunde, engana, gera pânico e divide as pessoas. É o que provocam as tais “fake news”.

A nossa dimensão afetiva nos move a ir ao encontro das pessoas de coração aberto nos estimulando à experiência da escuta que favorece a comunicação acolhedora e autêntica. Isso exige paciência, simplicidade, abertura ao diálogo, partilha cordial. Sem o encontro com o outro não há comunicação; pode haver informação, mas a comunicação pressupõe uma relação de reciprocidade.

Francisco afirma que “se escutarmos o outro com coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no amor” (cf. Ef 4,15). Somos chamados a comunicar a verdade sem medo, mas com amor. Jesus nos recorda que a árvore boa produz bons frutos (cf. Lc 6,44). Da mesma forma «o homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o que é bom; e o mau, do mau tesouro, tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração» (Lc 6,45).

O Papa afirma que “para se poder comunicar testemunhando a verdade no amor, é preciso purificar o próprio coração. Só ouvindo e falando com o coração puro é que podemos ver para além das aparências, superando o rumor confuso que, mesmo no campo da informação, não nos ajuda a fazer o discernimento na complexidade do mundo em que vivemos”. A comunicação cordial além de passar pela experiência da escuta, requer empatia para acolhermos o outro com suas alegrias e dores, dando-lhe espaço para a liberdade de expressão.

Foi assim que Jesus ressuscitado, a caminho de Emaús, falou ao coração dos seus discípulos desorientados, abrindo-lhes amorosamente a mente à compreensão do sentido profundo dos acontecimentos de Jerusalém. Ao final eles comentaram entre si: “não ardia o nosso coração, enquanto Ele conversava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).

A verdade é a base da ética na comunicação. Somos chamados a procurá-la e a dizê-la, mas fazendo-o com amor. Reflete o papa Francisco: “De modo particular nós, cristãos, somos exortados a guardar continuamente a língua do mal (cf. Sl 34,14), pois com ela – como ensina a Escritura – podemos bendizer o Senhor e amaldiçoar os homens feitos à semelhança de Deus” (cf. Tg 3,9). Da nossa boca, não deveriam sair palavras más, «mas apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma graça para aqueles que a escutam» (Ef 4,29).

Quando a comunicação não é pautada pela verdade, se torna uma arma que atormenta, gera crise na convivência social, envenena os corações e intoxica as relações. Segundo o patrono das comunicações, São Francisco de Sales, bispo de Genebra (1567-1622), «somos aquilo que comunicamos»! Atualmente, na era da facilidade do uso dos meios de comunicações, sobretudo das redes sociais, somos chamados a rever nossos critérios de publicação e aquilo que divulgamos. Aquilo que a ninguém edifica, não vale a pena publicar. O Papa Francisco conclui sua mensagem com esta prece: “Que o Senhor Jesus, Palavra de verdade e caridade, nos ajude a dizer a verdade no amor, para nos sentirmos guardiões uns dos outros”.