Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá – PA

 

Na última ceia, Jesus pediu ao Pai para que Ele enviasse o Espírito da Verdade, o Outro de modo que continuasse a obra da salvação e da evangelização do Senhor Jesus. Ele não iniciaria uma nova obra de salvação, porque Ele tomará do próprio Senhor para assim transmiti-lo aos outros (Jo 16, 14-15). Ele veio em Pentecostes para confirmar a obra da redenção de Jesus dada agora aos seus discípulos e discípulas. Ele impulsiona as pessoas para a vivência do Evangelho de Jesus Cristo, à unidade na Igreja, à superação de práticas tradicionais em vista da verdadeira tradição que vem de Jesus Cristo e dos apóstolos, à missão junto a todos os povos, ao martírio, à prática do mandamento do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. Uma visão será dada a partir dos padres da Igreja a respeito da obra da evangelização começada pelo Filho em comunhão com o Pai e continuada pelo Espírito Santo na Igreja e no mundo.

O Espírito Santo esteve em Jesus

Santo Ireneu de Lião, bispo no século II disse que o Espírito Santo desceu sobre Jesus como uma pomba (Mt 3,16; Lc 3,22; Jo 1,32). É o mesmo Espírito no qual Isaias disse que repousava sobre ele o Espírito de Deus (Is 11,2), porque Ele o consagrou (Is 61,1; Lc 4,18). Será o Espírito do Pai dos discípulos que falaria neles (Mt 10,20. O Espírito desceu sobre o Filho de Deus, tornando-se Filho do Homem para habitar em meio ao gênero humano e a repousar (Is 11,2; 1 Pd 4,14) ao modelo formado por Deus; Jesus Cristo. Ele impulsionou à realização da Vontade de Deus e fez o ser humano passar da antiguidade à novidade de Cristo[1]. O Espírito impulsionou a obra da evangelização iniciada por Jesus, continuada pelos apóstolos e todas as pessoas comprometidas com a denúncia e o anúncio do Reino de Deus no mundo de hoje.

É dito Santo

São Basílio de Cesareia, bispo do século IV disse que o Espírito é dito Santo como o Pai é santo e como Filho é santo. A santidade é integrante de sua natureza, de modo que ele não é santificado, mas santificador. É reto (Sl 91,16) como o Senhor Deus é reto, sendo imutável por natureza. Recebe as denominações de Espírito que governa, e Espírito de verdade, Espírito de sabedoria. Ele atua em vista da evangelização das pessoas e daqueles que são pobres[2], necessitados.

O milagre da única língua, o amor

Santo Agostinho de Hipona, Bispo nos séculos IV e V, afirmou que com a vinda do Espírito Santo todos ficaram cheios do Espírito de Deus, nas quais eles começaram a falar em outras línguas de todas as gentes que não conheciam e nem tinham aprendido, mas que era a linguagem do amor. As pessoas foram batizadas pelo Espírito Santo, falando nas línguas de todos os povos. O fato foi que aquela pequena Igreja falava nas línguas de todos os povos, significando que a grande Igreja desde o nascer do sol até o seu ocaso, fala nas línguas de todas as gentes, cumprindo-se o mandamento do amor do Senhor[3].

A trombeta do evangelho

São Leão Magno, Papa no século V afirmou que no dia de Pentecostes ressoou a trombeta da pregação evangélica, tendo a chuva de carismas, rios de bênçãos a irrigarem no deserto e a terra árida porque o Espírito de Deus veio para renovar a face da terra, assim como Ele pairou sobre as águas no início da criação (Gn 1,2). Ele veio para dissipar as trevas das coisas e conceder uma nova luz, pois pelo esplendor das línguas brilhantes, foi concebido o verbo luminoso do Senhor para iluminar e superar o pecado[4], dando forças à evangelização do Senhor na Igreja e no mundo.

A Invocação do Pai e do Filho

São Leão Magno disse também que do Espírito Santo provém à invocação do Pai. Ele falou também da presença do Filho. As lágrimas das pessoas penitentes têm presentes que ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão no Espírito Santo (1 Cor 12,3). São Paulo pregava que a onipotência do Espírito Santo é igual à do Pai e à do Filho, pois uma só é a divindade ao afirmar que há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo: há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera em tudo em todos (1 Cor 12, 4-6)[5].

O Espírito santifica a Igreja em vista da evangelização

O Papa ainda disse que é preciso celebrar Pentecostes na alegria e no amor, porque ele santifica toda a Igreja católica em vista de tornar viva a evangelização, também porque ele instruiu todos os espíritos racionais, as pessoas na missão. Ele é inspirador da fé, doutor da ciência, fonte do amor, causa de todas as virtudes. Os corações das pessoas alegram-se porque no mundo inteiro é louvado e confessado por todas as línguas o Deus único, Pai e Filho e Espírito Santo. O significado da figura do fogo persiste por sua operação e por seu fogo[6].

O Espírito Santo dá a remissão dos pecados

O Espírito Santo concede às pessoas fieis a remissão dos pecados. Além disso, ele concede a graça da oração para estar em comunhão com o Senhor Jesus em vista do anúncio do evangelho, pois o fiel não sabe o que deve pedir como convém; mas com o Espírito que implora pela vida do fiel vem em seu socorro com gemidos inexprimíveis (Rm 8,26). Se a pessoa privar-se do Espírito Santo, ela não merecerá o perdão, segundo o Papa Leão, pois ela abandonaria a prece do intercessor divino, o Espírito de Deus. No entanto, os apóstolos receberam o poder de perdoar os pecados, quando após sua ressurreição, o Senhor soprou sobre eles ao dizer que eles receberiam o Espírito Santo de modo que aqueles que perdoarem os pecados receberiam o perdão; mas aqueles a quem os retiverem, eles seriam retidos (Jo 20,23)[7].

A missão dada aos apóstolos.

Com a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, estando repletos da nova abundância de dons do Espírito, começaram a querem com mais ardor e poder com eficácia, a missão dada pelo Senhor, progredindo na ciência de mestres até a tolerância nos sofrimentos, pois já sem medo diante de qualquer tempestade, pela fé calcavam as ondas do século e a soberba do mundo, e desprezando a morte, levavam a todas as nações a verdade do Evangelho de Jesus Cristo e da Igreja[8].

A festa de Pentecostes eleva a natureza humana.

São Leão Magno afirmou que a festa de Pentecostes elevou, regenerou a natureza humana, porque pelo Espírito Santo é possível alcançar uma eternidade feliz de alma e de corpo, confessando com o apóstolo São Paulo que o Senhor Jesus Cristo, subindo as alturas, levou cativos consigo, distribuiu dons aos seres humanos (Sl 67,19). O Papa desejou que o Evangelho de Deus, pregado por todas as vozes humanas e “toda a língua proclame que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fl 2,11)[9].

O Espírito Santo é o continuador da obra da evangelização para que todas as pessoas vivam o mandamento do amor do Senhor Jesus em vista da glória do Pai no mundo de hoje, na família, na comunidade e na sociedade. Sob a sua luz o mundo torna-se melhor, viva em paz e no amor.

[1] Cfr. Ireneo di Lione III, 17,1-2. In:  Spírito di Dio. Milano, Paoline, 1987, pgs. 49-50.

[2] Cfr. Basílio de Cesareia. Tratado sobre o Espírito Santo 19,48. São Paulo, Paulus, 1998, pg. 147.

[3] Cfr. Agostino d`Ipona. Sermone 267,2-3. In: Ogni giorno con i Padri della Chiesa, A cura di Giovanna della Croce, Presentazione di Enzo Bianchi. Milano, Paoline, 1996, 161.

[4] Cfr. LXXV. Primeiro Sermão de Pentecostes. In: Sermões. Leão Magno, São Paulo, Paulus, 1996, pg. 179.

[5] Cfr. Idem, pg. 182.

[6] Cfr. Idem, pg. 182.

[7]  Cfr. LXXVI Sermão. Segundo Sermão de Pentecostes. In: Idem, pg. 185.

[8] Cfr. Idem, pg. 188.

[9] Cfr. Idem, pg. 191.