O pecado entrou no mundo pela desobediência humana diante de Deus. Não foi Deus, mas o ser humano o responsável pelo pecado. No entanto, Cristo Jesus, o enviado do Pai, reconciliou-nos com o Ele, dando-nos vida em abundância. Sendo o pecado como a causa das doenças, ganhamos forças, porém, pelo fato de que o Senhor caminha conosco, como o médico das almas. Neste sentido, a graça de Deus age no mundo pelas pessoas que desejam a paz e o amor. Vejamos estes dados em alguns padres da Igreja, os teólogos da Igreja antiga.

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, dos séculos IV e V, afirmou que os pecados são a causa de todos os males, porque pelas limitações humanas e é claro pelo pecado entraram as dores, as guerras, e as doenças. Assim como os melhores médicos examinam não só os sintomas das doenças, mas também as suas causas, assim também o Salvador da humanidade, Jesus Cristo, querendo demonstrar que o pecado é a causa dos males que afligem o ser humano, exortou ao paralítico que estava curado, para que não caísse de novo no pecado, para assim não acontecer coisa pior (Jo 5, 14). O médico das almas via a paralisia da alma antes mesmo que aquela do corpo[1]. São João Crisóstomo também falou que a origem do mal reside na vontade humana ruim em superar o pecado. Por exemplo, a bebedeira em uma pessoa só irá superar se ela der um freio a todas essas coisas. Da mesma forma o vício quando não é freado, e eliminado ao nascer[2], ele toma forma, mas com a graça de Deus, é possível a sua superação.

São Jerônimo, presbítero nos séculos IV e V, afirmou que Jesus é o verdadeiro médico de todos os médicos. Como nos relatam os evangelhos, sobretudo em Marcos, a sogra de Simão estava de cama, com febre, de modo que Jesus aproximou-se dela e ergueu-a tomando-a pela mão e a febre a deixou (Mc 1, 30-31). O presbítero Jerônimo destacou que devemos rezar para que Jesus venha a nós e toque a nossa mão, porque se a sua mão nos tocar, logo a febre é afastada. Se Moisés foi médico, assim como os profetas, os santos foram médicos, mas Jesus é o médico dos médicos, porque somente Ele sabe tocar com cuidado as veias, sabe examinar os segredos do mal[3]. Ele sabe tocar com a mão, não com outro órgão, porque cura as pessoas de suas doenças.

São Basílio Magno, bispo de Cesareia no século IV, tinha presente que Deus não é o autor do mal, mas sim os seres humanos. Ela é a origem do bem, do amor. As pessoas humanas pecaram e se afastaram de Deus. Mas em Jesus Cristo temos a reconciliação. Se são humanas, as aflições do corpo e as enfermidades externas, Deus, no entanto, com o seu poder elimina os males, mas não é a origem e o principio do mal. Assim tudo que constitui um mal – isto é, o pecado – não depende de outro que não seja da nossa vontade da qual depende também a decisão de não aceitá-lo[4]. Deus deu ao ser humano a vontade, que quando é dada na graça possa superar o mal e o pecado.  Ainda este bispo afirmou que a origem do mal deve ser procurada nos seres humanos. No entanto, o bispo levantou uma pergunta por que se o mal não provem de Deus, como se explica a sua natureza? O fato de existir o mal, nenhuma pessoa possa negá-lo dos participantes da vida. Ele é uma disposição da alma, contrária à virtude, que provem do abandono do bem, tendo o seu princípio nas aberrações livremente consentidas, porque se o mal fosse involuntário e não dependesse das pessoas, as leis não fariam tanto medo aos culpáveis, os tribunais não infligiriam os inexoráveis castigos que dão aos criminosos a pena que eles merecem[5].

Santo Agostinho, bispo de Hipona nos séculos IV e IV, afirmou a necessidade amar os inimigos como o Cristo nos diz, suportar os maus, para que a nossa bondade possa fazer progressos. Amemos, portanto os inimigos (Mt 5,44)[6]. Às vezes o mal é desmedido, mas o bem é maior que o mal. Vivamos bem e os tempos serão bons. As coisas que Deus criou são boas, e são ruins os seres humanos pelas suas atitudes, fazendo ruim o mundo. Pelo fato de que é quase impossível o ser humano estar livre das pessoas ruins até quando estivermos neste mundo, porque somos pecadores, suplicamos, disse Santo Agostinho, ao Senhor nosso Deus que nos conceda a graça de suportar o mal, para alcançar o bem. Ele sabe isto que ordenou e espera isto que prometeu[7].

[1] Cfr. Giovanni Crisostomo, Omelie sulla penitenza, 7,6. In: La teologia dei padri, Città nuova editrice, v. I, 1981, Roma, pg. 364.

[2] Cfr. Giovanni Crisostomo, Omelie sulla prima lettera ai Tessalonicesi, 9, 4. In: La teologia dei padri, pg. 345.

[3] Cfr. Girolamo, Commento al Vangelo di San Marco, 1,30. In: La teologia dei padri, pg. 364.

[4] Cfr. Basilio, Il Grande, Omelia Dio non é l´autore del male, 2-3,3. In: Teologia dei padri, pg. 343.

[5] Basilio il Grande, Esamerone, 2,4-5. In: La teologia dei padri, pg. 346.

[6] Cfr. Agostino, Esposizioni sui Salmi, II, 54,9. In: La teologia dei padri, pg. 352.

[7] Agostino, Dircorsi, 80,8. In: La teologia dei padri, pgs. 352-353.

POR Dom VITAL CORBELLINI

Bispo de Marabá - PA