por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá
– A doença de seu filho não tem cura. Não há mais nada a ser feito. Disse o médico à mãe do menino. Ela sabia das condições do seu filho. Por isso aproximando-se dele, lhe perguntou qual era o seu maior sonho. Ele respondeu: – Eu gostaria de poder andar num carro de bombeiros. A senhora foi até o Corpo dos Bombeiros e expôs a situação ao comandante. – Vamos torná-lo bombeiro por um dia. Disse o chefe. Na data marcada alguns bombeiros vestiram a criança com uma uniforme do seu tamanho e o levaram juntos para as atividades marcadas naquele dia. Os olhos do menino brilhavam de tanta alegria. No final da tarde, o devolveram para o quarto do hospital. Dias depois, o menino estava muito mal. A mãe avisou o comandante que o amigo deles “estava partindo”. De pressa o chefe dos bombeiros foi para o hospital com um grupo de colegas. Colocou uma escada do lado de fora do prédio; entrou no quarto pela janela e abraçou o menino. Ele abriu os olhos e perguntou: – Eu sou mesmo um bombeiro? – Sim, você é um bombeiro de verdade! Respondeu o comandante. Com o semblante feliz e sereno, a criança deu o seu último suspiro.
O evangelho de Marcos do 5º Domingo do Tempo Comum nos apresenta, as ocupações de uma jornada de Jesus: até o pôr do sol ele expulsa demônios e cura doentes. Muitas pessoas – “a cidade inteira”- se reúnem em frente da casa onde Jesus estava. “Todos estão te procurando” lhe dizem os discípulos. Ele atende a multidão, mas levanta de madrugada para rezar sozinho num lugar deserto e, em seguida, decide resolutamente de continuar o seu caminho andando pelas aldeias da redondeza e pregando nas sinagogas. Novamente o evangelista não explica o ensinamento de Jesus e dá a preferência àquilo que ele faz: curar de diversas doenças. A novidade do Reino deve ser explicada, mas também, ou antes, experimentada: o Deus Pai que Jesus anuncia é o Deus da vida, da saúde, da alegria, da libertação de tudo o que prende e entristece o ser humano.
Pode ser que a nossa primeira reação ao refletir sobre páginas evangélicas como esta seja pensar que, afinal, certas coisas somente Jesus podia fazer. Curas? Só ele. Nós podemos admirá-lo, chegar até a invejar aquele povo que não tinha hospital, mas tinha Jesus que resolvia qualquer tipo de doença. Chegamos à conclusão que tudo isso talvez seja mais propaganda que verdade e, portanto, não nos toca de perto. Hoje as coisas funcionam de maneira diferente. Na realidade o evangelista Marcos quer nos conduzir a perceber outro tipo de “milagre” que todos podemos praticar quando decidimos seguir Jesus e entendemos que o “extraordinário” dos evangelhos faz parte daquele anúncio de vida nova que busca transformar o nosso coração de pedra num coração de carne, mais humano, amoroso e solidário. Jesus nos ensina a gastar tempo e energias em favor dos irmãos mais pobres e sofredores, com dedicação e paciência. Facilmente delegamos o compromisso de fazer o bem – incluindo muitas obras de assistência e caridade – a alguns encarregados religiosos ou não. O importante é que os pobres não nos incomodem e não fiquem na frente da porta da nossa casa. Não queremos ver e nem saber. A desculpa é aquela de sempre: não podemos fazer milagres e nem ajudar todo mundo. Também fomos enganados tantas vezes com casos lacrimosos que agora duvidamos quase sempre da palavra de quem pede socorro. O resultado é que, talvez, deste jeito não ajudamos mais ninguém. Temos medo de nos envolver. Aqueles que pedem sabem muito bem que não vamos resolver todos os problemas deles, mas, muitas vezes, um gesto de compaixão, de solidariedade, de paciência para escutar uma história mal contada, já é algo diferente que quebra o gelo da nossa indiferença. Esquecemos que um sorriso pode ser precioso para alguém que todo dia experimenta a rejeição ou mesmo o desprezo. Jesus cura a nossa falta de amor, dando o exemplo e também ensinando, cobrando o amor ao próximo para que não seja falso o nosso amor a Deus. Os bombeiros não salvaram o menino da morte, mas, por um momento, o fizeram feliz. Também isto é milagre de amor.
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