por CTP Nacional
foto Julia Barbosa / CPT Nacional

Para dar início à celebração dos seus 50 anos, a Comissão Pastoral da Terra – CPT reuniu 102 de seus/suas agentes, de todos os cantos do país, com parceiros e assessores e assessoras, no Encontro Nacional de Formação, de 19 a 22 de junho de 2024, no Centro de Pastoral Dom Fernando, em Goiânia, onde ela foi criada há exatos 49 anos. O tema e o lema do encontro, acima enunciados, foram os mesmos do seu V Congresso Nacional, a se realizar em São Luís – MA, de 21 a 25 de julho de 2025, quando serão concluídos os 50 anos.

O percurso histórico-geográfico da CPT foi recordado e revivido com a dinâmica dos “rios da vida”, na qual agentes das suas seis Grandes Regiões – Norte, Noroeste, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul –, trouxeram símbolos, imagens, fotos, artesanatos, nomes, falas e cânticos que plasticamente contaram dos vários serviços prestados aos diversos campesinatos brasileiros nestes decênios. Nestes rios correram e correm as águas de inúmeras e incansáveis lutas, das várias organizações e movimentos sociais criados e incentivados, rearticulados em “teias”, de tanta vida generosa doada, dos sangues derramados nos martírios e lágrimas vertidas nas derrotas, das alegrias das conquistas celebradas nas festas, das rezas em todos os momentos, pedindo e agradecendo ao Deus de Jesus, a Nossa Senhora, aos Santos e Santas, aos Encantados e Orixás. As bases bíblico-teológicas, as espiritualidades, as religiosidades e as eclesialidades subjacentes a tanto feito foram o segredo e a marca. O olhar para trás nos encantou, emocionou e fortaleceu, mas é o agora e o amanhã que nos desafiam.

A CPT foi criada em 1975, sob a Ditadura Empresarial-Militar, no enfrentamento ao latifúndio que massacrava posseiros e peões “aprisionados por promessas”, na fronteira agrícola da Amazônia. Logo estava espalhada por todo o país, onde se manifestava a questão agrária brasileira com suas várias e recorrentes violências contra os povos da terra e seus territórios, essencial à manutenção do poder dominador do Capital, a despeito da formal democracia. E este processo não para.

As cercas de sempre hoje estão multifacetadas, com a mesma usura avassaladora, agora fazendo-se também “economia verde”. Quer seja sob a socialdemocracia ou o ultra-neoliberalismo, sob governos de Direita ou ditos de Esquerda, as corporações capitalistas-financistas do agro, que não é pop nem é gente, se tornam hidro-minero-econegócios, ampliam a invasão de territórios, campos, florestas e bacias hidrográficas, incorporam o sequestro de carbono e a exploração dos ventos e da luz solar, numa ilusória transição energética e insuficiente enfrentamento das emergências climáticas. Mais difícil do que ontem está em identificar os inimigos e traçar as estratégias corretas da luta de sempre, pela vida, a justiça e a dignidade na “terra de Deus, terra de irmãos”.

Diante de passado tão frutuoso e do presente tão inquietante, impõe-se para nós reinventar-se e redizer-se com a mesma e renovada presença no meio das comunidades camponesas e povos tradicionais, no serviço educativo e transformador junto a eles, reafirmando a memória subversiva do Evangelho da vida e da esperança, germinal da CPT. Fortalecer, na expectativa da ressurreição, a espiritualidade da cruz, em diálogo com todas as legítimas expressões religiosas. 

Reconhecemos a necessidade de retomar e aprimorar nosso modo de atuar, a metodologia do trabalho de base, a prática precípua do respeito e reconhecimento do protagonismo dos povos e comunidades, das mulheres e das juventudes. Colaborar na recriação das estratégias para democratizar o acesso e a permanência na terra, o trabalho digno e a produção agroecológica e agroflorestal. Aperfeiçoar as táticas de formação de agentes e de lideranças e de comunicação que enfrentem o assédio, tão brutal quanto sedicioso, da concorrência desinformativa e deformativa que grassa no mundo atual. Reaproximar-nos das nossas Igrejas e de novo comprometê-las na solidariedade com os povos e comunidades destinatários da nossa missão evangelizadora comum, restituindo nosso ecumenismo cristão enfraquecido.

Nesta caminhada jubilar, a CPT precisa reassumir, revigorada, as causas da vida nos campos, águas e florestas, contra as ameaças e mortes engendradas pelos velhos e novos projetos do Capital. Insistir na denúncia de tudo o que fere e mata os povos e comunidades e a Mãe Terra. Empenhar-se pela recriação e revitalização dos movimentos sociais do campo e por novas articulações entre eles, como as Teias dos Povos. Reforçar as incidências para a construção de políticas públicas de enfrentamento e combate à violência no campo e de erradicação do trabalho escravo. Abraçar para valer a “conversão ecológica” e a “economia da vida”, proposta pelo Papa Francisco.

No sábado, dia 22, aniversário da CPT, externamos publicamente o início da nossa celebração jubilar, com uma caminhada, sob o toque dos tambores-símbolos deste jubileu, da Praça Universitária à Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Auxiliadora, no centro da cidade, onde uma celebração eucarística deu graças a Deus por esta trajetória sofrida, virtuosa e vitoriosa dos 50 anos da CPT. 

“Lutar e crer, vencer a dor, louvar ao Criador! Justiça e paz hão de reinar e viva o amor!” (Zé Vicente)