por Vívian MarlerPascom CNBB N2

Ao longo de seis meses a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB Regional Norte 2 e a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, através do Curso Amazônia no Caminho Sinodal, levaram os cursistas não apenas a entenderem, e se profundarem na encíclica Laudato Si – o documento final do Sínodo da Amazônia, mas a discutir os caminhos para uma Igreja sinodal.

A busca pela conversão integral, pelo clamor que vem dos povos da Amazônia, e por um rosto amazônico de uma Igreja missionária segundo o espírito de Jesus; envolveu-se com a conversão cultural, dos valores culturais dos povos amazônicos e com a Igreja aliada dos povos nos seus territórios. Sem deixar que a conversão ecológica não fosse empecilho para que a dimensão socioambiental da evangelização, pudesse apoiar a conversão pastoral da Igreja em saída missionária e de uma missão de perspectivas decolonizadora.

O sínodo da Amazônia levou aos cursistas a nova experiência da escuta para que pudessem discernir os novos caminhos para o Bem Viver, e o compromisso de assumir e praticar o exemplo da ecologia integral, levando-os a terem um cuidado especial com a ‘casa comum’, a defesa cultural da Amazônia, e a beleza e os riscos de seus povos.

Mas foi sonhando em mutirão que as direções para a defesa da vida foram apontadas. Sob os quatro subtemas ‘Um sonho social’, ‘Um sonho cultural’, ‘Um sonho ecológico’ e ‘Um sonho eclesial’. O encontro desses sonhos instigou os alunos a reconhecerem a realidade existente em cada um, fazendo-os observar o sentido comunitário da fé o que os despertou para o diálogo e prática do perdão, e da fraternidade.

Diante da apresentação da professora Fátima Fonseca alguns pontos foram levantados pelos cursistas, como o destaque sobre o clima de ameaça que ainda existe sobre as pessoas que dedicam sua vida à defesa das culturas tradicionais; da existência, da parte de grupos agressores, de um mapeamento das realidades locais e onde são identificadas as pessoas que atuam nessa defesa e fortalecimentos das populações tradicionais; e dentre outros foram citadas as instituições degradadas, como a própria que Igreja precisa prestar uma atenção especial à procedência de doações ou outros tipos de benefícios, assim como os investimentos realizados pelas instituições eclesiásticas ou cristãos.

Dom Raimundo Possidônio, bispo coadjutor da Diocese de Bragança, lembrou do processo, que desde 1952 foi sonhado até chegar ao Sínodo Especial para a Amazônia. Naquela época, já se pensava em uma Igreja com características próprias no território da Amazônia, e compartilhou o sonho eclesial do Papa Francisco na exortação sobre Querida Amazônia. Ainda em sua explanação, comentou sobre a necessidade de identificar como Jesus Cristo está presente nas estruturas indígenas e que o querigma e o amor fraterno constituem a grande síntese de todo o conteúdo do Evangelho “Devemos ser conscientes que antes do missionário chegar o Espírito Santo já está presente e que a graça supõe a cultura e Dom de Deus encarnando-se na cultura de quem o recebe” disse, fazendo com que os presentes observassem o risco dos evangelizadores que chegam a um lugar e observam que não devem só comunicar o Evangelho, mas também a cultura em que cresceram.

Mas foram nas raízes de nossa fé, que o padre da Congregação Xaverianos, Saul Alvarez, encontrou a revelação do sentido de nossa existência “A fé implica em uma procura e na procura se dá uma revelação; a fé e a revelação têm uma mútua implicação. Cada pessoa é de alguma forma obrigada a se perguntar pelo sentido da sua existência, e dar alguma razão ou motivo que o leve a responder por que vale a pena viver. Na procura dessa resposta a pessoa se depara com testemunhos de outros que encontraram um motivo profundo para viver, encontraram um tesouro ou uma pérola de grande valor a tal ponto que isso se tornou seu absoluto, aquilo pelo que valia a pena dar a vida. Na sua procura Deus lhe saiu ao encontro, como aconteceu com Moisés, um dos maiores fundamentos da fé de Israel”, disse deixando os cursistas reflexivos.

Para a cursista Diana Lourenço as pessoas precisam olhar a Amazônia com os olhos da fé “Precisamos olhar com os olhos da fé para os povos da Amazônia, precisamos conhecer e ouvir estes povos com respeito e empatia. Sentir um chamado maior para ouvir o que os bispos e o papa estão propondo. É um convite a amar o próximo como a nós mesmos. É um convite a valorização e inclusão dos povos originários. Um convite à compreensão do cosmo visão dos povos que vivem de forma integrada com a floresta, sua fauna e flora, seus saberes e cultura. Francisco faz o mundo entender que a Amazônia é um território ocupado por povos com diversidade de cultura, dons e saberes”, disse Diana.

E o desafio para o caminho sinodal foi lançado, aos presentes no último final de semana (1º a 3/9), quando os representantes da REPAM, Dorismeire Vasconcelos e Felício Pontes encerraram o último módulo do curso, apresentando a doutrina social da Igreja, através da evangelização e da justiça social; assim como o Documento de Santarém, que é a encarnação na realidade e na evangelização libertadora.

A abordagem a questão da doutrina social da Igreja, partindo do documento do encontro de Santarém, que reflete o direito dos povos e da natureza, foi um dos pontos muito importantes colocado por Dorismeire Vasconcelos “Dentro do contexto amazônico é necessário refletir sobre o direito dos povos e da natureza não apenas a partir do Documento de Santarém [que é a expressão viva de enraizamento das decisões sinodais], mas também dos outros documentos sinodais, como a encíclica Laudato Sí” e continuou “A Igreja na Amazônia é uma Igreja que ao mesmo tempo que anuncia, é servidora, é uma Igreja que dialoga e é testemunha missionária que vai ao encontro dos povos. Assim vamos tecendo toda uma memória, uma caminhada de uma Igreja com rosto amazônico” disse Dorismeire, que acredita que os participantes do curso Amazônia no Caminho Sinodal serão multiplicadores, ecoando esses ensinamentos a todas a comunidades.

E Felício Ponte concluiu “Eu diria que é necessário, que todos os presentes difundam o Documento de Santarém + 50 para que seja incorporado nos planos pastorais, como uma espécie de Laudato Sí aplicado especialmente à Amazônia”.