Por Dom Antônio de Assis Ribeiro, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA

 

Introdução

A pastoral juvenil (PJ), por ser um serviço de promoção da formação humana integral e evangelização dos jovens, inseparavelmente, é um eficiente remédio contra muitos males que vitimizam as juventudes. A PJ, com suas múltiplas dimensões e atividades, é uma segura contribuição da Igreja para com a prevenção contra o aumento dos dissabores juvenis.

A sensibilidade para com a preventividade vem cada vez mais se fortalecendo e se expandindo por diversos campos da vida da sociedade. Hoje se fala de preventividade na área da administração, do meio ambiente, da política, da economia, do direito, da medicina, das tecnologias etc. Nenhuma categoria de profissionais fica insensível quando seus males atingem a sociedade e a desafia. É natural que haja um esforço conjunto para que certos males sejam evitados ou seus impactos suavizados da melhor forma possível; isso também vale para vida pastoral da Igreja.

 

  1. Preventividade pastoral

Diante de tantos problemas sociopastorais que perduram, somos chamados a pensar a pastoral numa perspectiva preventiva. Toda ação pastoral tem uma dimensão preventiva porque é sempre resposta a tudo aquilo que se opõe ao Evangelho. Considerando o chão da realidade, com seus problemas, sempre almejaremos bons efeitos pastorais, pois o Evangelho é força transformadora!

Promovendo o Reino do Pai, Jesus foi ao encontro dos pobres, doentes e sofredores e desprezados do seu tempo. Por isso, mandou este recado a João Batista: “Digam a ele que os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e os pobres recebem o evangelho” (Mt 11,5). A ação pastoral da Igreja não visa propagar uma ideia, mas tem como meta a promoção do Reino de Deus; isso significa a transformação da realidade.

Assim com o Messias assumiu uma postura transformadora dos males do seu tempo, da mesma  forma deve ser o agir pastoral da Igreja. Com as metáforas sal, luz, fermento, semente… Jesus fez seus discípulos entenderem que a fé tem um inevitável potencial transformação de que não deve ser domesticado. No próprio mandato missionário a dimensão transformadora é explícita:  “Vão e anunciem: ‘O Reino do Céu está próximo’. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios” (Mt 10,7-8).

Toda pastoral é sempre uma resposta profética à tudo aquilo que atenta contra o dinamismo do Reino de Deus. Uma autêntica atitude preventiva pressupõe uma dupla visão: aquela da realidade concreta, com suas limitações e aquela transformada com seus males superados como sinal do Reino de Deus, vitória do Amor e do Senhor da Vida.

A preventividade é preocupação presente com a promoção daquilo que se almeja assegurar no futuro; isso, para qualquer área se exige investimentos seletivos, processos de acompanhamentos, esforço em vista da obtenção de bons resultados. Essa preocupação foi presente na pregação de Jesus; bem clara aparecem na parábola da casa construída sobre a rocha (cf. Mt 7,24-37), das demandas da construção de uma torre (cf. Lc 14,28) e das condições para o enfrentamento de um exército inimigo (cf. Lc 14,31-32). Nessas parábolas Jesus educa seus discípulos para a necessidade de olharem para frente e se questionarem sobre os possíveis resultados. Tomemos em consideração quatro áreas de problemas: aquela relativa ao sentido da vida, a consciência vocacional, a fidelidade religiosa e o testemunho profético do discípulo missionário na sociedade.


  1. Preventividade pastoral e sentido da vida

A questão do sentido da vida é um dos assuntos mais delicados no mundo juvenil atualmente. Muitos são os dramas nesse campo que geram múltiplas consequências como, por exemplo, a automutilação, a criminalidade, a drogadição, os vícios, a violência, o vazio existencial, do desânimo, o isolamento, a hipocondria, a solidão, a depressão, suicídio, enfim, o adoecimento mental juvenil com suas muitas formas.

A pastoral juvenil preventiva é profundamente sensível a essa dramática realidade promovendo reflexões, atividades, experiências e processos que tenham como finalidade estimular a paixão pela vida, o reconhecimento da beleza dos recursos humanos, o aprofundamento da dignidade humana, a experiência da amizade, a proposta do voluntariado como estratégia do despertar para a filantropia e da solidariedade. O despertar para o sentido da vida dos jovens demanda uma pastoral juvenil profundamente marcada pela dimensão socioafetiva.

Hoje não pode faltar na pastoral juvenil o compromisso de propor aos jovens atividades interativas em vista do desenvolvimento da importância da vivência da caridade e da partilha, por exemplo, através dos esportes, da música, da dança, do teatro, da convivência etc. Para isso a promoção do oratório festivo continua sendo uma experiência fascinante.

 

  1. Preventividade pastoral e a questão vocacional

Outra questão desafiadora para a pastoral juvenil é a reflexão e propostas de exercícios relativos à dimensão vocacional dos jovens, por causa de males sociais como o presentismo, o imediatismo, o subjetivismo, o voluntarismo, a libertinagem, o tecnicismo, o hedonismo, o empirismo etc. Essas ideologias promovem o enfraquecimento e até o desaparecimento da importância da compreensão de vocação como dom de Deus que precisa de discernimento, acompanhamento e resposta pessoal.

A frustração vocacional por causa da ausência de preocupação para com o discernimento é uma seria realidade. Os dados estatísticos relativos aos problemas e fracassos de matrimônios e da família são assustadores. Muitos problemas existenciais relativos ao sentido da vida brotam das opções de vida sem o devido discernimento. Educar para a cultura do discernimento, projeto de Vida, processo de acompanhamento vocacional continuará sendo uma estrada para poucos.

 

  1. Preventividade pastoral e discipulado

Outro grande desafio da pastoral juvenil é a promoção da sólida formação do discípulo missionário de Jesus Cristo de modo que os jovens, devidamente catequisados, adquiram profundas convicções religiosas capazes de levá-los à fidelidade dinâmica e criativa na Igreja e se tornem verdadeiros evangelizadores de outros jovens.

Estamos atualmente diante de sérios problemas no que diz respeito à dimensão religiosa dos jovens: o crescente números dos “desigrejados”, dos indiferentes, dos descrentes, dos agnósticos, dos ateus (teóricos e ativistas), dos migrantes religiosos.  Soma-se a esses grupos aqueles que vivem a própria fé de modo privado e ocasionalmente sem nenhuma forma de sentido de pertença à Igreja. Por outro lado, a ignorância doutrinal de muitos que já fizeram a primeira comunhão e a crisma é muito inquietante. Como a pastoral juvenil poderá, em seus diversos níveis, contribuir para a diminuição desses problemas?

 

  1. Preventividade pastoral e testemunho profético

Outro obeso bloco de desafios para a pastoral juvenil preventiva diz respeito ao testemunho profético dos jovens católicos na sociedade capaz de estimulá-los à superação do intimismo religioso, do anonimato, da timidez, do tradicionalismo etc.

A pastoral juvenil preventiva pode estimular os jovens à assimilação da Doutrina Social da Igreja para que possam fazer a experiência do exercício da cidadania como sal e luz na sociedade, no serviço de liderança na política, no mundo dos negócios e das comunicações, na vida profissional transparente e honesta, na sensibilidade para com os mais sofredores da sociedade (direitos humanos) e novas fronteiras existenciais, na consciência da responsabilidade social que brota da fé etc. “Enamorados por Cristo, os jovens são chamados a dar testemunho do Evangelho em toda parte, com a sua própria vida” (CV, 175).

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. O que você entendeu sobre pastoral preventiva?
  2. É possível que uma ação pastoral de torna irrelevante, quando isso pode acontecer?
  3. O que pastoralmente a frase de Jesus nos inspira: “Vão e anunciem: o Reino do Céu está próximo. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios” (Mt 10,7-8)?