Introdução:

Continuemos a nossa reflexão sobre o associacionismo eclesial iniciada no artigo anterior, mas com especial acento sobre a Pastoral Juvenil. O termo “associacionismo eclesial” se refere ao fenômeno da existência de muitas e variadas formas de associações de pessoas dentro da Igreja Católica.

Na Igreja, na verdade, nada fazemos isoladamente; é por isso que existem os movimentos, as pastorais, as associações, os grupos, as irmandades etc. É necessário aprofundarmos esse dinamismo da vida eclesial para que possamos melhor entender a importância deles na vida da Igreja. O associacionismo é uma forma de afugentar o individualismo pastoral e o intimismo espiritual que pode comprometer a verdadeira espiritualidade cristã e as boas atitudes do autêntico discípulo missionário de Jesus Cristo.

A experiência do mandamento do Amor a Deus e ao próximo nos convidam a viver a fé cristã em “sociedade”; portanto, quem não dilata a sua dimensão social não será capaz de praticar a caridade e nem viver em comunidade. Por isso tanto falamos de união, comunhão, solidariedade, corresponsabilidade, sinodalidade etc. A vivência desse dinamismo de vínculos alicerçados na caridade, promotor da unidade e da comunhão, segundo são Paulo, é sinal de consolo pessoal, conforto em Cristo, consolação, alegria para o discípulo de Jesus Cristo (cf. Fl 1,1-2). A experiência de vida em grupo nos ajuda a colocar em prática a nossa fé!

 

  1. Referências a grupos no Novo Testamento

Em toda a Sagrada Escritura há muitas referências a grupos relacionados à experiência religiosa. Isso não é diferente no Novo Testamento. No tempo de Jesus já havia diversos grupos dentro do judaísmo, como por exemplo, os fariseus, os saduceus, os zelotas, os essênios e os herodianos. Cada uma dessas “associações” tinha suas características específicas. João Batista tinha um grupo de discípulos que caminhavam com ele (cf. Mt 9,14; Jo 3,25).

Também Jesus adotou a dinâmica associativa formando o grupo dos Doze (cf. Mt 10,2; Mc 3,14-16). Essa primeira experiência associativa é o embrião da Igreja que depois vai se desenvolvendo e vivenciando o mesmo ideal, fundamento e missão. Encontramos também nos evangelhos a referência a um grupo de mulheres discípulas de Jesus e solidárias que o assistiam e os doze em suas necessidades (cf. Lc 8,2-3; Mc 15,50-41). Não há dúvidas que aí, encontramos o mais remoto germe das irmandades, profundamente marcadas pelas práticas de piedade e experiência da filantropia.

Não podemos esquecer a referência associativa presente na dinâmica do envio dos discípulos “dois a dois” (cf. Lc 10,1). A intenção de Jesus Cristo era aquela de que a experiência da evangelização deve ter uma dimensão comunitária e fraterna. Outro gesto significativo por parte de Jesus em relação à experiência de grupo, aconteceu no deserto quando, para alimentar o povo, mandou o povo se sentar em grupo (cf. Mc 6,39-40). Aqui a dinâmica de grupo nos estimula a pensar na importância da estratégia organizacional no enfrentamento dos problemas coletivos. A diversidade de grupos no interior da Igreja e, de modo particular, dentro da Pastoral Juvenil, nos convidam a pensar que a evangelização deve ter uma dimensão administrativa e ser orgânica.

Narra o evangelista João que certo ano, no tempo da Páscoa, apareceu em Jerusalém um grupo de gregos que se dirigiram a Felipe e, este, com André, os levaram a Jesus (cf. Jo 12,22-29). Filipe e André, que representam um grupo de discípulo, são instrumentos através do qual é promovida o encontro de pagão com Jesus Cristo. A finalidade do grupo na ação pastoral, ultrapassa o aspecto socioafetivo interno e se faz instrumento para uma evangelização mais forte, visível e efetiva.

 

  1. A experiência de grupos na Igreja Primitiva

Além dos relatos presentes nos evangelhos há também no Novo Testamento outras referências importantes sobre o associacionismo evangelizador que nos estimulam a aprofundar a importância da promoção de “grupos” como instrumento da animação pastoral nas paróquias, sobretudo dentro da pastoral juvenil. Todavia, essa experiência é muito bem-vinda também na promoção de processos educativos dentro das escolas Católicas.

No início de tudo, percebemos um processo evolutivo: o grupo dos doze, cresce e transforma-se numa comunidade. A comunidade primitiva não era constituída simplesmente pelos Doze, mas dela fazia parte algumas mulheres, outros homens e alguns parentes de Jesus (cf. At 1,13-14). Isso significa que o autêntico grupo eclesial, deve ser dinâmico, não deve fechar-se, isolar-se, envelhecer-se. Deve ser capaz de nutrir-se e crescer a ponto de ser força transformadora interna e externa. O grupo que não se renova, atrapalha, enfraquece o dinamismo da Igreja e morre! O grupo eclesial onde ninguém entra e ninguém sai, está fadado ao fracasso e nega a sua razão de ser!

Muitas referências de grupo encontramos na labuta missionária de Paulo, que não trabalhava sozinho! Muitos foram os seus colaboradores, tais como Urbano (cf. Rm 16,9), Timóteo (cf. Rm 16,21), Prisca, Áquila e Tito (cf. 2Cor 8,23), Timóteo (cf. 1Ts 3,2), Aristarco, Demas e Lucas (cf. Fm 1,24), Clemente (cf. Fl 4,3) etc. Paulo não só cita pessoas do seu grupo de colaboradores, mas também nos ajuda na reflexão sobre a significatividade pastoral dos grupos: no grupo todos colaboram e se afadigam na mesma obra para a edificação da Igreja, em vista do Reino de Deus e, assim se tornam colaboradores de Deus (cf. 1Cor 16,16; 2Cor 6,1). O grupo eclesial, na sua diversidade de sujeitos, não deve estar submisso ao carisma e nem caprichos de nenhum, pois “aquele que planta e aquele que rega são iguais; e cada um vai receber o seu próprio salário, segundo a medida do seu trabalho. Nós trabalhamos juntos na obra de Deus…” (1Cor 1,8-9).

Na primeira Carta a Timóteo, São Paulo acusa a existência do grupo das viúvas, o qual tinha critérios específicos para nele serem admitidas (cf. 1Tim 5,9), por outro lado, também nas comunidades primitivas havia outros grupos como o dos presbíteros (cf. 1Tim 5,7; 1Pd 5,1), diáconos (cf. At 6,1-6;1Tim 3,8-12), epíscopos (cf. Fl 1,1;1Tim 3,2).

 

  1. Referências a grupos negativos

Apesar dessas diversas referências positivas de grupos a serviços da causa do evangelho, é necessário também acenarmos para o fato de que tanto Jesus Cristo como os apóstolos, enfrentaram grupos causadores de problemas nas comunidades. No caso de Jesus, basta citarmos, por exemplo, as atitudes do grupo dos fariseus e saduceus abundantemente citados nos evangelhos e que sempre assumiam uma postura contrária a Jesus e até violenta (cf. Mt 23,1-36).

Na Comunidade de Roma havia um grupo provocador de divisão, discórdias e negação da doutrina ensinada (cf. Rm 16,17-18); em Corinto e Filipos havia falsos apóstolos, operários fraudulentos, disfarçados de apóstolos de Cristo (cf. 2Cor 11,13-15; Fil 3,2-3); Pedro acusou a existência de um grupo de falsos mestres semeadores de doutrinas perniciosas, dissolutas e apegados ao dinheiro (cf. 2Pedro 2,1-3).

Tudo isso significa que a ambivalência de cada indivíduo contribui para uma possível atitude e atividade ambígua de um grupo, pois cada pessoa é portadora de grandezas e misérias, defeitos e virtudes. Portanto, os líderes devem estar atentos a uma série de fatores para que cada grupo com sua ação edifique a Igreja de Cristo e promova o Reino de Deus. Esses fatores refletiremos no próximo artigo.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Qual é a função de um grupo eclesial?
  2. Jesus Cristo deu importância ao grupo?
  3. Como aparecem os grupos na Igreja Primitiva?