Em vista do Natal, a vinda do Salvador.
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
O Natal aponta para a vinda do Salvador na vida de cada um de nós e de toda a humanidade. A presença de Jesus traz vida e salvação. O Filho de Deus assumiu a carne humana, vindo habitar em nossa tenda (cfr. Jo 1,14). Deus está no meio de seu povo (cfr. Sf 3,17). A alegria é incomensurável, é infinita pelo fato de que o Messias é também Filho do Homem. O Enviado do Pai, ele vem ao mundo para redimi-lo e reconciliá-lo com Deus. Os seres humanos que somos nós exultam de fervor e de júbilo. As profecias se realizaram em Cristo Jesus de modo que a palavra de Deus torna-se carne, gente, igual a nós em tudo, menos o pecado (cfr. Hb 4,15). Nós somos chamados a viver o Natal do Senhor, como oportunidade para o crescimento da fé, da esperança e da caridade. Vejamos como os padres da Igreja vivenciaram o nascimento de Jesus no meio da humanidade, tendo em vista a realização da salvação, porque Jesus é o Salvador de todas as pessoas.
Jesus, o realizador das profecias.
Eusébio de Cesaréia, bispo da Palestina no século IV afirmou que Jesus realizou todas as profecias proclamadas no AT. Após o pecado da desobediência humana, o Senhor prometeu o Salvador da humanidade. O Senhor não deixou que os seres humanos tomassem uma vida desregrada. O Verbo divino que preexistia a tudo se revelou a todos. Somente ao nosso Salvador dá-se o nome de Verbo de Deus que no principio estava com Deus (cfr. Jo 1,1) devido à encarnação recebeu o nome de Filho do Homem[1].
O plano de Deus para restaurar a humanidade.
São Leão Magno, Bispo e Papa, século V afirmou a importância da alegria espiritual porque raiou para todas as pessoas o dia de uma redenção nova, dia longamente preparado, dia de felicidade eterna. O nascimento de Jesus elevou os corações humanos, de modo que todos são chamados a adorar o mistério divino, para que se celebre com grande júbilo, aquilo que procede de um grande dom de Deus. O Deus todo-poderoso e clemente determinou que levasse aos mortais seu primeiro estado, esmagaria a cabeça da serpente com a vinda de Cristo na carne, de modo que o Senhor Deus e Homem nascido de uma virgem condenaria com o seu nascimento sem mancha, o profanador da raça humana. Era necessário que o ser humano fosse novamente resgatado pelo desígnio de Deus ao seu primeiro plano de amor[2].
Jesus, o Salvador.
São Leão Magno afirmou que nos tempos pré-ordenados para a redenção dos seres humanos, Jesus Cristo, Filho de Deus veio ao mundo como o Salvador de todos. Ele penetrou na parte inferior do mundo, descendo da morada celeste, sem deixar a glória do Pai, vindo ao mundo de modo novo por um novo nascimento. Ele que era invisível, por natureza, tornou-se visível, incompreensível quis ser compreendido; ele anterior ao tempo, começou a estar no tempo; senhor do universo, tomou a condição de servo, Deus impassível, não se dignou a ser pessoa passível, imortal aceitou as leis da morte, vencendo a morte. Ele sendo o Salvador dos seres humanos, assumiu a natureza humana, estando isento das coisas que mancham a carne humana, o pecado. A palavra de Deus realizou-se quando o anjo disse à Maria que o Espírito Santo viria sobre ela e o poder do Altíssimo a cobriria com sua sombra, de modo que o Santo que nasceria dela será chamado Filho de Deus (cfr. Lc 1,35)[3].
A encarnação do Verbo de Deus.
Santo Atanásio, bispo de Alexandria, século IV disse que o Senhor Jesus fez-se homem para que fossemos deificados. O fato é que com o pecado, o ser humano perdeu a dignidade de filho e filha de Deus. A encarnação veio para dar esta graça perdida, a participação da deificação de todo o ser humano. Desta forma o Verbo tornou-se corporalmente visível, a fim de adquirir uma noção do Pai invisível. Ele suportou ultrajes da parte dos seres humanos, para que todos participassem da imortalidade de Deus[4].
Os profetas anunciaram a vinda do Senhor segundo a carne.
Santo Ireneu, bispo de Lião, séculos II e III disse que o Verbo, nosso Senhor Jesus Cristo, nos últimos tempos, se fez homem entre os homens, para unir o fim ao princípio, isto é, o ser humano a Deus. Os profetas anunciaram a sua vinda segundo a carne e por essa vinda se realizaram a união e comunhão de Deus e do ser humano, conforme a vontade do Pai. A Palavra de Deus colocou que Deus seria visto pelos seres humanos, viveria e conversaria com eles na terra, estaria presente à sua criação para salvá-la e para que ao Espírito de Deus, o ser humano, tivesse acesso à glória do Pai[5].
O Natal está próximo de modo que nós somos chamados à acolhida do Messias, o Salvador da humanidade em nossos corações, na família, na comunidade e na sociedade. Ele veio habitar no meio de nós, para nos elevar até ele e assim nos reconciliou com Deus. Sejamos anunciadores deste mistério no mundo de hoje.
[1] Cfr. Eusébio de Cesaréia. História Eclesiástica. Livro Primeiro, 1-2, 26. Paulus, SP, 2000.
[2] Cfr. Leão Magno. Sermões, XXII Sermão, 1. Segundo Sermão do Natal do Senhor. Paulus, 1996, pgs. 36-37.
[3] Cfr. Leão Magno. Idem, pgs. 37-38.
[4] Cfr. Santo Atanásio. A Encarnação do Verbo, 54,3. Paulus, SP, 2002, pg. 198.
[5] Cfr. Ireneu de Lião, IV Livro, 20,4. Paulus, SP, 1995, pg. 430.