Introdução
Em todas as dimensões e áreas da vida pastoral da Igreja encontramos grandes desafios. Isso significa que o processo de evangelização não é gratuito. O ato de semear a Palavra de Deus exige esforço do evangelizador para conhecer a realidade em que trabalha, encarnar-se na mesma e acompanhar processos educativos.
Nos últimos meses participei de três grandes eventos pastorais (Santarém, São Paulo e Niterói) e o tema Juventude estiveram presentes em todos eles; o primeiro era de nível amazônico e os dois últimos em nível nacional. O que apresento neste texto é um elenco de grandes temas que constituem verdadeiros desafios para a pastoral juvenil na atualidade. Cada desafio traz consigo muitas expressões e consequências pastorais. Desta vez apresento-lhe somente um breve elenco daquilo que pretendemos aprofundar nos artigos sucessivos. Dez desafios:
- Aprofundar a identidade da Pastoral Juvenil
Estamos em tempos de grandes mudanças, “em mudança de época”; tudo parece que está sendo repensado, relido, reinterpretado, redimensionado, reconfigurado, redefinido. O dinamismo da “cultura líquida” nos convida também a rever nossas ideias, visões, conceitos, estilos, propostas pedagógico-pastorais; a pastoral não pode ser alheia ao contexto mutante; porém ser fiel ao essencial. No Brasil a Pastoral Juvenil, diante de tantas mudanças culturais e eclesiais, também teve que mudar, se repensar, se reestruturar e se redimensionar. Todavia, essa reconfiguração da Pastoral Juvenil ainda não foi suficientemente assimilada.
- Revitalizar a sensibilidade existencial
A Pastoral Juvenil não deve se distanciar da realidade existencial dos jovens. Onde não há encarnação, também não haverá diálogo evangelizador. A evangelização para ser impactante deve ir ao encontro dos mais variados contextos existenciais dos jovens. Temos graves problemas que estão atingindo a vida das juventudes em variados contextos e com diversidade de fenômenos como o vazio existencial, fragilidade psicológica, pobreza, miséria, criminalidade, drogadição, indiferença religiosa, ateísmo… É preciso não ter medo dos jovens e de acolhê-los na situação em que se encontram. A pandemia nos trouxe muitas lições.
- Dar atenção à questão vocacional
A questão vocacional está ficando por segundo plano cada vez mais na vida dos jovens. Estamos na era do presentismo, do imediatismo, das relações descompromissadas; diante da fragilidade da atenção ao matrimônio e do descompromisso com opções de vida, é necessário realçar a sensibilidade para com a dimensão vocacional da Pastoral Juvenil. Isso significa aprofundar a questão do namoro, noivado, acompanhamento, discernimento vocacional, Projeto de Vida.
- Estimular o encontro, conhecimento, amizade com Jesus
Não há verdadeira evangelização sem a apresentação da pessoa de Jesus Cristo. O foco sobre a pessoa de Jesus Cristo deve ser permanente, a catequese não deve se reduzir a alguns meses de preparação aos sacramentos de Iniciação à Vida Cristã. É urgente a superação da ignorância, da superficialidade e da confusão sobre a pessoa de Jesus Cristo. Cresce cada vez mais uma espécie de “visão sincrética” sobre Jesus Cristo, reduzindo-o a um sábio, filósofo, grande homem ou a um mero conceito moral como paz, amor, esperança… A perda do conhecimento do Jesus histórico esvazia a fé do jovem. A prática da Leitura Orante é de fundamental importância.
- Motivar o engajamento socio-eclesial
A autêntica intimidade com Jesus Cristo é inseparável do compromisso com o seu Reino da compaixão, opção preferencial pelos pobres, engajamento eclesial; a Pastoral Juvenil não deve ser restringir a eventos de adoração, vigília e louvores. A assimilação da Doutrina Social da Igreja e experiências concretas de compromisso social são exigências da maturidade do discípulo missionário; em alguns contextos há o perigo de se cair numa pastoral intimista. Todavia, por toda parte as necessidades do Reino de Deus são gritantes.
- Formar Jovens discípulos missionários
O grande desafio do Documento de Aparecida proposto para toda a Igreja na América Latina foi a formação do discípulo missionário de Jesus Cristo. Esse é um dos mais profundos desafios da Pastoral Juvenil. Isso pressupõe processo de formação, percurso de etapas, experiências de vida, formação de convicções. Muitos não tiveram formação cristã. Muitas vezes a relação entre a vida dos jovens (com suas múltiplas experiências em todas as dimensões) e a pessoa de Jesus Cristo é muito frágil; o desafio do discipulado leva os jovens a acolher a pessoa de Jesus Cristo com o Amigo, Mestre e Senhor capaz de influenciar suas vidas. Dessa forma cessa o subjetivismo, a libertinagem etc. Parece quem em algumas dimensões, Jesus Cristo fica de fora.
- Promover a Sinodalidade na Pastoral Juvenil
Não temos no Brasil somente a Pastoral da Juventude; ela é uma das muitas expressões das juventudes organizadas atuantes na Igreja. Isso não pode ser ocultado. Há a necessidade de cada vez mais se estimular um caminho de comunhão entre as expressões juvenis presentes nas paróquias, nas Congregações, nas Novas Comunidades, nos Institutos, nos movimentos eclesiais etc. Essa diversidade carismática é dom do Espírito Santo e por isso ninguém deve se isolar, mas juntos, em clima de amizade fraterna, estarem a serviço do Reino de Deus.
- Estimular uma Pastoral Juvenil Preventiva
A experiência pastoral é remédio contra o veneno dos múltiplos males que massacram as juventudes. Uma Pastoral Juvenil Preventiva busca respostas pastorais ao suicídio, ao vazio existencial, ao desânimo, à prostituição, à criminalidade, à mobilidade religiosa, ao ateísmo, agnosticismo, indiferença social, ao envelhecimento eclesial. Uma pastoral juvenil intimista não será capaz de olhar a realidade juvenil para além da sacristia. Há uma diversidade de dimensões que não devem ser esquecidas, sobretudo, a dimensão lúdica e artística.
- Capacitar para o enfrentamento de ideologias
O ar sociocultural pós-moderno é rico de ideologias de todos os tipos e em todas as áreas. Somente uma profunda formação humana, cristológica, ética e doutrinal dos jovens poderá ajudá-los a não serem reféns do subjetivismo, do voluntarismo, do hedonismo, do consumismo, do tecnicismo, do presentismo, do ateísmo ideológico, do cientificismo, do democratismo, do psicologismo naturalista etc.
- Fomentar a autossustentabilidade da Pastoral Juvenil
Há uma íntima relação entre economia e pastoral; a ação pastoral demanda recursos econômicos: viagens, eventos, recursos técnicos etc; Muitas vezes a Pastoral juvenil fica atrofiada por causa da falta de investimentos econômicos. Sem recursos, os jovens caem na dependência, são alvos de antipatia, rotulados, vistos como peso. Duas questões devem ser aprofundadas: de um lado é a necessária promoção do protagonismo juvenil e por outro o necessário apoio dos líderes, párocos e bispos, capazes de educá-los, orientá-los, desafiá-los, acompanhá-los, ajudá-los concretamente.
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
- Qual desses desafios lhe parecem mais urgentes em seu contexto eclesial?
- Por que a Pastoral Juvenil deve se encarnar no concreto da vida dos jovens?
- Qual realidade sociocultural da atualidade mais desafia a pastoral juvenil?
Foto: Renan Rosário – PASCOM Regional Norte 2