por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB

Na tarde deste sábado (14) a Conferência dos Religiosos do Brasil do núcleo Belém – CRB Belém, realizou o seu primeiro encontro com o Arcebispo Coadjutor da Arquidiocese de Belém, Dom Júlio Endi Akamine, no Centro Social da paróquia São José de Queluz, na paroquia de São José de Queluz.

Após a oração inicial os participantes, cerca de 60 consagrados e consagradas, se apresentaram a Dom Júlio Endi Akamine que resumiu o encontro “como um momento marcado pela presença alegre dos consagrados e pela Esperança, atrelada no Senhor que chama”.

“Depois dessa apresentação, tive a oportunidade de fazer uma meditação sobre o tema e o lema deste ano para a Vida consagrada ‘Sentinelas da Esperança em Tempos de Esperança’ ‘Esperança na Vida Consagrada’, e os convidei a serem “Sentinelas da Esperança” no cotidiano da vida”, contou Dom Julio.

A reflexão, proferida pelo coadjutor da Arquidiocese de Belém, abordou o papel da sentinela como profeta, alertando sobre o perigo e anunciando a aproximação de Deus, mesmo em tempos de exílio. E destacou a importância da esperança e da atenção ao bem no mundo, transformando os anseios humanos em sinais de esperança, especialmente em relação à paz.

A reflexão também mencionou a importância de transmitir a vida, a abertura à maternidade e paternidade responsável, a libertação de prisioneiros, o cuidado com os doentes, jovens, migrantes, idosos e abandonados. E lembrou que os bens da terra são para todos, não apenas para os privilegiados, e mencionou o perdão das dívidas, a dívida ecológica, o Concílio de Nicéia e a busca da unidade.

“Durante o encontro Dom Júlio, nos disse “… a vida consagrada é sentinela dos sinais da esperança, que denuncia as injustiças e anuncia a aproximação de Deus..esperança também significa paz” e essa necessidade da paz interpela a todos e impõe a realização de projetos concretos. E para concluir e celebrar nossa união fraterna de religosos, profetas da esperança, saboreamos uma mesa partilhada de comidas típicas das festas de São João, com um gostoso forró de arrasta pé, vivendo a comunhão e a unidade”, disse Irmã Nazaré Rabelo, do Instituto Irmãs Missionária da Santíssima Trindade, que esteve presente no encontro da CRB.

Para Irmã Ana Tavares, da CRB – Belém, o encontro foi uma confirmação de nossas missões como religiosos “sem dúvida o encontro dos religiosos com Dom Júlio foi um momento de grande fraternidade e a oportunidade de novamente dizermos que a Vida Consagrada está a serviço da missão em seus mais diversos carismas”. Depois da meditação, o encontro prosseguiu e se concluiu com uma festa junina.

Leia a reflexão, de Dom Júlio, na integra, abaixo:

SENTINELAS DA ESPERANÇA EM TEMPOS DE ESPERANÇA NA VIDA CONSAGRADA

A sentinela tem a função de alertar para o perigo que se aproxima. Parece não haver relação alguma entre a sentinela e a esperança. Não podemos esquecer, porém, que a sentinela é o profeta. Afinal o que é um profeta? Ele é a boca de Deus. Para falar ao seu Povo, Deus o faz por meio do porta voz que é o profeta.

Em tempos de exílio, entre os exilados, o profeta é uma Sentinela. Uma vez que o Povo de Deus não tem mais casa, não tem mais cidade, não há mais muralhas, onde a Sentinela deve se instalar? Contra o que a sentinela deve alertar? Qual é o perigo que se aproxima? A Sentinela-profeta alerta contra o próprio Senhor! É um paradoxo da profecia! Foi o Senhor que devastou a cidade e destruiu Jerusalém. O Povo foi castigado e levado ao Exílio, e Deus ainda virá para guerrear contra o seu Povo? Parece que Deus quer continuar sendo hostil contra o seu Povo; parece querer manter o clima de guerra contra o seu povo, um povo de cabeça dura, que não muda de vida e nunca aprende.

E aqui acontece o que é mais estranho. Quando um inimigo se aproxima, normalmente o faz secretamente, sem que seja percebido. Deus não! Ele não se aproxima de repente para surpreender as suas vítimas despreparadas. É o próprio Senhor que estabelece uma sentinela para que avise o seu Povo.

Deus parece constituir um espião contra si mesmo a fim de que previna as pessoas ameaçadas pela vinda de Deus. Trata-se um paradoxo revelador. Assim a ameaça de castigo pelo pecado fica englobada e superada pelo perdão concedido por causa da conversão. A sentinela tem a função de alertar para o perigo do castigo de Deus que provoca a conversão. O paradoxo revela que Deus ameaça para que não aconteça o que Ele ameaça. A ameaça é também um ato de amor. Deus, de fato, não quer a condenação do pecador, mas que ele se converta e viva. Ainda que Ele se aproxime de modo hostil, Deus quer a paz. Assim a guerra que Deus provoca é, na verdade, expressão do seu amor.

A Vida consagrada é sentinela da esperança no sentido de que anuncia a aproximação de Deus. Ele não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva. A Vida Consagrada, Sentinela de Sinais de Esperança. Para não cair na tentação de nos considerarmos subjugados pelo mal, é necessário prestar atenção ao bem que existe no mundo. Os sinais dos tempos, que contêm o anelo do coração humano, pedem para ser transformados em sinais de esperança (Bula Spes non Confundit, 7). Que o primeiro sinal de esperança se traduza em paz para o mundo, mais uma vez imerso na tragédia da guerra. A necessidade da paz interpela a todos e impõe realização de projetos concretos (8).

Olhar para o futuro com esperança equivale a ter também entusiasmo em transmitir a vida. A primeira consequência da perda da esperança é a perda do desejo de transmitir a vida. A abertura à vida, a maternidade e a paternidade responsável é o projeto que o Criador inscreveu no coração e no corpo dos homens e das mulheres, é a missão que o Senhor confia aos cônjuges (9).

Sinal de esperança é a libertação dos prisioneiros. É preciso pensar em formas de anistia ou de perdão da pena que ajudem as pessoas a recuperar a confiança em si mesmas e na sociedade (10). Sinais de esperança serão oferecidos aos doentes (11). Sinais de esperança têm necessidade os jovens. O Jubileu seja, na Igreja, ocasião para um impulso a favor deles: com renovada paixão, cuidemos dos adolescentes, dos estudantes, dos namorados, das gerações jovens! Mantenhamo-nos próximo dos jovens, alegria e esperança da Igreja e do mundo (12)!

Não podem faltar sinais de esperança para os migrantes, exilados, deslocados e refugiados (13). Sinais de esperança merecem os idosos e os abandonados (14). Fazendo ecoar a palavra dos profetas, o jubileu lembra que os bens da terra se destinam a todos e não aos poucos privilegiados. O alimento, a água e o ar não são commodities! (16). O perdão das dívidas dos países que nunca poderão pagá-las. A dívida ecológica (16). O Concílio de Nicéia e o busca da unidade (17)”.

(A reflexão também poder ser lida em https://cnbbn2.com.br/sentinelas-da-esperanca-em-tempos-de-esperanca-na-vida-consagrada/ )