Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá

Hoje os cientistas conseguem quantificar muitas coisas nas quais nem pensamos. Por exemplo podemos saber quanto CO2 – o gás carbónico que tanto preocupa os ambientalistas por causa do aquecimento global do planeta – é produzido quando consumimos a energia necessária para enviar uma e-mail com anexo. São 19 gramas. Todas as vezes que enviamos uma imagem pelo WhatsApp jogamos na atmosfera 50 gramas de CO2. Calcularam que, num ano, 50 milhões de pessoas consomem, no digital, a energia correspondente ao consumo de um milhão e meio de casas. Em geral temos consciência do custo energético das máquinas, dos sistemas de aquecimento ou esfriamento e, por isso, estamos aprendendo a não desperdiçar. No entanto, nem imaginamos quanto consumo de energia e quanta poluição produzem as nossas atividades nas redes sociais. Atrás dos nossos smartphones existem sistemas e aparelhos complexos. Muito cômodos, mas que custarão cada vez mais caros em energia e poluição.

No primeiro domingo de julho celebramos a Solenidade de S. Pedro e S. Paulo. Não é simplesmente “a festa do Papa”. É a festa da Igreja toda, chamada a evangelizar a humanidade ao longo da história. Por isso, celebramos a memória daqueles primeiros apóstolos que, doando suas próprias vidas, abriram caminhos novos para a missão que Jesus lhes tinha entregue chamando-os ao seu seguimento. Os escritos do Novo Testamento não escondem que os dois, S. Pedro e S. Paulo, se entenderam, mas também se desentenderam. Quem inicia uma obra nova é chamado a tomar decisões que marcarão o que virá depois e, se não quer fazer isso sozinho, deve se confrontar com os demais partilhando anseios, preocupações, experiências e, sobretudo, confiança na ação do Espírito Santo. Os tempos mudam, nunca as situações se repetem iguais e a própria humanidade é em constante renovação. A Igreja caminha junto com esta renovação porque é feita de pessoas reais que vivem intensamente o seu momento histórico. Se não fosse assim a Igreja não acompanharia as épocas e se tornaria, como muitos dizem, uma peça de museu, bonita de se visitar, mas distante demais da realidade presente. Isto, bem entendemos, não significa jogar fora o passado, aquilo que foi ensinado e os luminosos exemplos de santidade que herdamos. A Igreja, porém, sempre precisa atualizar a linguagem, perceber os novos desafios, desmascarar os velhos erros que se apresentam com roupa nova e confundem as nossas cabeças. Uma Igreja animada pelo Espírito Santo enxerga onde, como e quem evangelizar. Sempre haverá “novas” periferias onde a Palavra ainda não foi semeada e sempre teremos que pedir ao Senhor da messe que envie operários para a colheita. A amplitude do horizonte da missão exige também missionários diferentes. S. Pedro não foi igual a S. Paulo! Cada um foi chamado a um compromisso próprio, com os dons necessários ao seu ofício, mas ambos foram fiéis até o fim ao único Senhor Jesus Cristo. A unidade e a comunhão na Igreja não nos pedem que façamos todos a mesma coisa, mas que cada um saiba dar o melhor de si, com o seu testemunho, a sua palavra, com a sua ousadia de ir ao encontro de novos irmãos e assim abrir caminhos inéditos de diálogo e esperança para todos.

Se falei da energia que consumimos nas Redes Sociais não foi somente para lembrar que hoje estes meios digitais podem servir também à evangelização. Foi para dizer que, talvez, gastamos mais “energia” para discutir ou disputar entre nós, dentro das nossas comunidades, que para evangelizar de verdade. Às vezes estamos mais preocupados em conservar certos costumes que para avançar mais corajosamente para águas mais profundas (Lc 5,4) enfrentando as novidades do tempo presente. Mas, porque deveríamos todos nos engajar sem medo nesta missão? Porque sabemos que temos para nos ajudar aquela fonte inesgotável de “energia” interior que sempre animou apóstolos e profetas, santos e mártires: o Divino Espírito Santo, força inesgotável com CO2 zero! Talvez sejamos nós, medrosos, que não confiamos nele o bastante.