Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

            O Papa Francisco inaugurou o dia mundial dos pobres. Este ano comemora-se a sexta jornada com o intuito de incentivo para a prática do amor fraterno, para a caridade e para seguir a Cristo pobre que nos ajuda na missão de dar a vida para o bem de toda a humanidade e ao Reino de Deus. Este dia ocorre sempre no segundo domingo do mês de Novembro, coincidindo no trigésimo terceiro domingo do tempo comum. “Jesus Cristo fez-se pobre por vós” (cf. 2 Cor 8,9)[1]. Este foi o lema que o Papa Francisco colocou para todo o povo de Deus na qual as pessoas são convidadas a realizar algumas ações em favor dos pobres nas comunidades e nas paróquias.

Jesus Cristo foi o pobre por excelência porque ele disse que não tinha onde repousar a cabeça para os seus discípulos (Mt 8,20). Ele disse também que pobres sempre teriam entre eles, mas a ele, nem sempre (Jo 12,8). Sob a ação do Espírito do Senhor, veio Ele para evangelizar os pobres (Lc 4,18). São Paulo afirmou que o Senhor Jesus, de rico que era, tornou-se pobre por causa deles, dos Coríntios, mas também por causa de todos nós, para desta forma nos enriquecer com a sua pobreza (2 Cor 8,9). Sendo Deus, Cristo Jesus assumiu a natureza humana, de modo que se esvaziou a si mesmo para nos elevar até as alturas. Assim de rico que Ele era no seio do Pai, tornou-se pobre, não deixando de ser Deus para nos enriquecer com as suas graças e bênçãos. A afirmação de Paulo colocou a importância da salvação, para que assim todos se salvem pela sua entrada no mundo. A sua humanidade assumida na encarnação tornou-se instrumento de redenção, porque foi a transmissão de sua riqueza divina aos seres humanos.

O Papa Francisco colocou a questão dos pobres no mundo, para serem lembrados e recordados. Em sua mensagem, Ele teve presentes a realidade da pandemia, e o momento presente mostram sinais de recuperação trazendo alivio a milhões de pessoas empobrecidas por causa da perda do emprego. A Guerra da Ucrânia, juntamente com as guerras regionais produzem mortes e destruição. A insensatez da guerra gera muitos pobres. Os mais atingidos são sempre as pessoas indefesas e frágeis. Foram deportadas milhares de pessoas de suas terras, famílias, impondo-lhes outra identidade em outros países, nações. As pessoas que tiveram que permanecer nas regiões de conflitos convivem diariamente com o medo, a carência da comida, água, cuidados médicos e o afeto familiar. Uma multidão de pessoas simples sofre e tem elevado o número de pobres no mundo.

É neste contexto social, mundial que o Papa Francisco convocou a toda a Igreja e ao mundo para o sexto dia mundial dos pobres, tendo presente a palavra de São Paulo onde disse que o Senhor fez-se pobre para todos os seguidores do Senhor para nos enriquecer com a sua pobreza. Ele lembrou que São Paulo fez uma grade coleta para a comunidade de Jerusalém que estava pobre, e passava por situações de fome de modo que os cristãos de Corinto manifestaram-se sensíveis e disponíveis em ajudar os pobres de Jerusalém (1 Cor 16,1). O Papa Francisco lembra que nas celebrações eucarísticas as pessoas colocam em comum as ofertas para ajudar as pessoas pobres, necessitadas. Ele mencionou São Justino de Roma na descrição da comunidade cristã as pessoas traziam as ofertas, entregando-as ao presidente, no caso era certamente o bispo e ele provia, através dos diáconos, aos órfãos, às viúvas, aos doentes, aos encarcerados, aos hóspedes que chegavam de viagem, em outras palavras aos mais necessitados[2]. Ainda que não esteja no texto, mas é também fundamental perceber o depoimento de Tertuliano que afirmou que tinha uma caixa comum onde cada fiel trazia a sua contribuição na medida de suas possibilidades, um dia ao mês, sendo considerados depósitos de piedade, usados para necessitados, famintos, os que eram enterrados, rapazes e moças destituídos de recursos, os náufragos, cristãs nas minas, aqueles que estavam nas ilhas, nos presídios, os que pela causa de Deus eram necessitados[3].

O Papa Francisco lembra também as portas que foram abertas, sobretudo na Europa, mas também em outros países do mundo, para milhões de refugiados proveniente das guerras no Médio Oriente, África Central e ultimamente da Ucrânia. Ele também coloca as dificuldades na continuidade para dar ajuda as famílias e as comunidades sentem o peso da situação que vai além da emergência. Desta forma a solidariedade é partilhar o pouco que se tem para as pessoas que não tem, para que assim ninguém passe por necessidade. Ele pede a partilha de bens para as pessoas que mais necessitam, que são os pobres, os necessitados do mundo inteiro. São Paulo solicitou aos Coríntios para que ajudassem os pobres de Jerusalém, sendo uma ajuda concreta, uma coleta de alimentos (2 Cor 8.8). O Papa lembra também o apóstolo Tiago que afirmava a importância da prática da palavra de Deus (Tg 1.22-23).

Os discursos não servem aos pobres: é preciso a prática, por em prática a fé na qual nós acreditamos em Deus Uno e Trino e envolver-se de uma forma direta, que não pode ser delegada para ninguém. Não ocorrerá a indiferença em relação aos pobres, ficando as pessoas agarradas de uma forma demasiada ao dinheiro e aos seus bens. O dinheiro não pode ser um bem absoluto, mas um meio para a sobrevivência e para ajudar as pessoas mais carentes. O demasiado apego ao dinheiro impede o reconhecimento das necessidades dos outros. O Pontífice também afirma que não se trata de fazer assistencialismo, no sentido somente de dar o peixe, mas também de ensiná-lo a pescar, para que assim a ninguém falte o necessário. Os gestos salvam as pessoas, ajudando-os a viver melhor. É claro que é preciso políticas sociais que ajudam os pobres a sair de sua situação de pobreza. Os governantes olhem com carinho os pobres em vista de emprego, vida digna para todas as pessoas. É preciso que a vida das pessoas e dos seguidores do Senhor seja digna e feliz.

O Papa Francisco também afirmou que a pobreza que mata é a miséria, como conseqüência da exploração, da violência e da falta de distribuição de recursos. É a escravidão que não dá dignidade ao mundo de hoje. No entanto a pobreza libertadora aposta no essencial no sentido de ajuda aos humildes, aos frágeis, aos pobres. A pobreza faz a pessoa rica de sentimentos de paz e de amor porque ela aponta para os outros e o Senhor mesmo torna-se o seu protetor. Por isso a palavra de Paulo diz que a pobreza do Senhor faz a pessoa rica, no sentido de dar a vida para o outro que mais necessita dele. Cristo Jesus fez isso, porque de rico que era tornou-se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza.

O Papa Francisco citou uma passagem de São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V, ao referir-se a palavra de São Paulo que o Senhor Jesus se fez pobre para tornar a gente rica, rica não de meios, mas de compaixão, de paz e de amor a Deus, ao próximo com a si mesmo (Homilias sobre a II Carta aos Coríntios). A sua riqueza foi o seu amor total para a nossa salvação. Ele também fez lembrança da canonização do Irmão Carlos de Foucauld que era rico, mas renunciou para seguir a Jesus, e como Ele tornou-se pobre e irmão de todas as pessoas. O Papa terminou o seu discurso clamando a todas as pessoas para que a sexta jornada mundial dos pobres seja uma oportunidade de graça para meditar a pobreza de Cristo e ajudar as pessoas mais necessitadas que nós.

A Sexta Jornada Mundial dos Pobres seja uma oportunidade para estar com os pobres e com eles viver o amor do Senhor que evangelizou os pobres (Lc 4,18). A ajuda aos pobres é ligada ao Senhor, porque foi a ele que os mais pequeninos o fizeram (Mt 25, 40).

 

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[1] Cfr. JMP.indd (ssb.org.br).

[2] Cfr. Justino de Roma. I Apol 67, 1-6. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 83

[3] Cfr. Tertuliano. Apologético, 39,5-6. São Paulo, Paulus, 2021, pg. 151.