Neste mês de Agosto, o Mês das Vocações, a Pastoral da Comunicação do Regional Norte 2 coletou alguns relatos da vivência das vocações neste período de pandemia do novo coronavírus (COVID-19), a fim de contar boas histórias, motivados pela mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano, cujo tema foi “Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2). A vida faz-se história.

A segunda matéria, elaborada pelo seminarista Leonardo Monteiro, ex-articulador regional da Pascom e membro da atual coordenação, conta sobre as vocações dos ministros ordenados, celebrada no primeiro domingo de agosto. 

A pandemia do novo coronavírus trouxe consigo a (re)descoberta de um novo estilo de vida. Na Igreja Católica, por sua vez, não foi diferente. Os ministros ordenados – padres, diáconos e bispos – se depararam com novos desafios, e também estratégias, para continuar sua ação pastoral. Na mais nova Prelazia do Regional Norte 2, Alto Xingu, em Tucumã (PA), o bispo prelado, dom Jesús María Mauléon, viu a pandemia chegar e impossibilitar a extensa agenda planejada para conhecer seu território, onde chegou em fevereiro deste ano. “Foi uma mudança radical, ninguém esperava, todos ficamos sem saber como fazer as coisas e eu, aqui novo, sem conhecer nada, tive de ficar em casa e suprimir algumas visitas, mas celebramos todos os dias a Missa em nossa casa e, aos domingos, transmitimos a celebração direto da Catedral de Nossa Senhora Aparecida, pelas redes sociais, em dois horários”, explicou.

Dom Jesús Mauleón preside Santa Missa, transmitida online, em Tucumã (PA)

A possibilidade de celebrar a Eucaristia com a presença virtual dos fiéis trouxe-lhe estranheza, mas foi o modo de manter a comunidade unida e orante, segundo ele: “é um desafio a Missa pela internet; aprendemos a escutar-nos e a guardar silêncio quando estamos habituados a ouvir a comunidade. Mas há também o fator positivo de abranger um maior número de fiéis, tínhamos a presença de pessoas de vários lugares e estados. Importante também foram as lives, tivemos várias com os padres da prelazia e com pastorais, como a Pastoral Vocacional, a Semana da Família com a Pastoral Familiar, e sobre a Iniciação à Vida Cristã com os responsáveis por este início da vida cristã nas comunidades da prelazia”, afirmou. “Dá para ver que muitas viagens, muitos encontros e muitas distâncias podem ser superadas com a internet, nas lives. É um desafio, mas é também uma conquista”, pontuou.

De outro lado, dom Jesús afirma que a presença virtual jamais supera o encontro físico entre as pessoas. Para ele, “apertar a mão, dar um abraço, um sorriso e contagiar-se pela experiência de fé são necessários”.

Aula em vídeo de Padre João Paulo Dantas para a Faculdade Católica

O padre João Paulo Dantas, vigário paroquial da Catedral Metropolitana de Belém, também teve de se reinventar nesta pandemia. O sacerdote é responsável pela catequese da Paróquia-Catedral e coordena o setor de extensão e pós-graduação na Faculdade Católica de Belém.

Lecionando Teologia há quase dez anos, o sacerdote ficou preocupado com suas atividades formativas. “As plataformas digitais, pra mim, tem sido uma experiência nova. Começamos a preparar vídeos para as crianças da catequese, depois pedia para elas assistirem desenhos que eu indicava no YouTube e passava uma atividade. E elas retornavam, foi muito legal ver a receptividade das crianças. Os pais, em recente reunião, pediram que continuemos com esta dinâmica”, disse.

Quanto à faculdade, Pe. João Paulo criou um canal no YouTube onde criou playlist’s de acordo com suas disciplinas e disponibiliza suas aulas. “Precisei encontrar um meio para que meus alunos acessassem as aulas. Descobri que, em algumas plataformas eram difíceis manter a aula ao vivo, porque alguns alunos tinham problemas com a conexão, então achei um lugar para deixar minhas aulas permanentemente”, explicou. O canal do padre já possui, hoje, mais de mil inscritos. “Foi muito interessante, de repente vi que tinha gente de Fortaleza, de Brasília, de São Paulo, professores e leigos amigos, teve até um protestante da Igreja Presbiteriana que acompanhou minhas aulas de Cristologia e me agradeceu bastante”, contou.

Sobre a importância da presença da Igreja nestes novos meios, Pe. João Paulo destaca que, “é um campo que tem muitas possibilidades, mas que exige de nós a formação. Nada pode substituir o contato pessoal entre aqueles que testemunham o Cristo”. Avaliando a caminhada da Igreja nos últimos meses, o sacerdote diz: “notei um grande impacto na vida pastoral durante esta pandemia no nosso país. O brasileiro tem esta capacidade de ser criativo e se adaptar com facilidade aos problemas e dificuldades que surgem, bem diferentes de outros países onde as pessoas são incapazes de lidar com as situações extraordinárias. Aqui tivemos muitas lives, terços no zoom, surgimento de Pastorais da Comunicação e, onde já havia a Pascom, neste tempo tornou-se uma pastoral estratégica, e notei que muitos padres se esforçaram heroicamente, movidos pelo amor de pastoral, buscaram mesmo à distância estar perto de suas ovelhas”, finalizou.

Diácono Hilário em Celebração Litúrgica transmitida em sua conta de Instagram

Outro exemplo de ministro ordenado que reinventou sua ação evangelizadora em tempos de pandemia vem da Paróquia Coração Eucarístico de Jesus, em Belém. O diácono permanente Hilário Costa, ordenado há pouco mais de um ano, criou conta no Instagram no dia 22 de março. “Começamos com dois propósitos, o de rezarmos juntos em família, e de eliminar o ócio com a ajuda tecnológica da minha família. Minha filha ajudava com os equipamentos e minha esposa com as músicas e leituras da Celebração da Palavra que eu presidia direto da minha sala de estudo”, contou.

O diácono ainda pontuou que a pandemia reacendeu na humanidade uma luz para os problemas que ela já enfrentava. “Para mim, vivemos muitas pandemias: na saúde, na política, na ética e moral. Na minha opinião, a pandemia não criou um nada, apenas aflorou o que já existia ou estava escondido em nosso interior ou sublimado no cotidiano de cada um. Percebemos que o isolamento não era um castigo, mas um redescobrir de nós mesmos e das pessoas mais próximas e amadas por nós. Reavaliamos o que dávamos importância. Toda crise proporciona criatividade e readaptação à nova realidade”, concluiu.

 

Seminarista Leonardo Monteiro
Membro da Coordenação Regional da Pascom Norte 2