O distanciamento social como medida para conter o avanço do novo Coronavírus impôs limites ao trabalho de iniciação à vida cristã que desenvolvem os catequistas no Brasil. Nem por isso eles deixaram de encontrar, observando os cuidados exigidos pelas autoridades sanitárias, diferentes formas de estar à serviço de suas comunidades e paróquias.

Na arquidiocese de Goiânia (GO), na comunidade Nossa Senhora de Aparecida, da paróquia Jesus de Nazaré, no setor Urias Magalhães, o padre David Pereira de Jesus atendeu ao pedido de uma das fiéis idosas para comungar, uma vez que não pode ir às missas por integrar o grupo de risco em função da idade. “Não aguento mais ficar sem comungar. Estou tão triste. Já tem 100 dias que não comungo”, disse a fiel Sebastiana Silva Barros, numa live, ao presbítero da região.

Sob a orientação do padre e observando as orientações sanitárias, duas catequistas, que também são ministras da Eucaristia,  da comunidade Nossa Senhora de Aparecida, Maria Helena e Albigair Gonçalves, ministraram a comunhão, dia 18 de agosto, apenas para o grupo de 12 senhoras todas da terceira. Por integrarem o grupo de risco, um decreto municipal proíbe os idosos de participar das celebrações, orientação seguida pela arquidiocese.

Momento em que a fiel Sebastiana Barros comunga. Foto: arquivo pessoal.

Sebastiana Barros conta que o padre as orientou a assistir, pela tv, uma missa em preparação à comunhão. Seguindo os cuidados sanitários, as duas  catequistas da comunidade ministraram a comunhão às  12 idosas. “Estavam todas tão felizes, foi um momento pleno em nossas vidas. Eu fiquei em estado de ação de graças”, conta Sebastiana. A ideia agora, segundo conta, é que todas as semanas as catequistas levem a hóstia para o grupo da terceira idade.

Catequese e Igreja doméstica

O contexto da pandemia do novo coronavírus trouxe consigo diversas mudanças na vida das famílias, a nova realidade desafiou para um novo contato entre os esposos e também nas relações entre pais e filhos. Na vida de oração, há famílias que aproveitaram para estabelecer novas rotinas, fortalecendo a catequese e a Igreja doméstica.

São famílias que celebram a Palavra em suas casas, grupos de oração via internet, leitura orante da Palavra de Deus, crianças da infância missionária rezando o terço, oração diária dos pais com os filhos e tantas outras experiências de fé em todo o país.

Em Mafra (SC), o professor universitário Eduardo Silva, que é ministro extraordinário da Eucaristia e membro da Comissão de administração econômica pastoral da comunidade Santa Cruz de Avencal do Meio, encontrou uma maneira de animar sua família e sua comunidade:

“Desde que iniciou a pandemia, nos preocupamos em como nossa comunidade, pequena e interiorana, conseguiria se manter ‘conectada’. Embora moremos na área rural, quase todas as famílias têm internet. Dessa forma, constitui um grupo privado no Facebook e convidei as pessoas da comunidade para participar. Fizemos a primeira transmissão ao vivo da celebração da Palavra no dia 22 de março e, de lá para cá, com raras exceções, realizamos a celebração dominicalmente”, conta Eduardo.

A comunidade foi motivada pela instrução da CNBB, que oferece o roteiro “Celebrar em família” para que “vivendo a dignidade de povo sacerdotal que nosso batismo nos conferiu, possamos não só acompanhar, mas CELEBRAR com nossas famílias o Dia do Senhor”.

Celebração é transmitida pelas redes sociais com participação dos filhos e de membros da comunidade | Reprodução: Facebook

Pai de cinco filhos, sendo dois adotados, Eduardo foi seminarista antes de seguir a vocação para a vida familiar. Em sua atuação pastoral, também foi catequista. Neste tempo de pandemia, a experiência tem ajudado na relação com os filhos.

Diariamente rezamos juntos, costumamos fazer algumas novenas durante o ano. Em função da pandemia, passei a dar a catequese aos meus dois filhos que estão em idade de primeira eucaristia. Costumamos também, desde que as meninas (por adoção) chegaram a fazer ‘reuniões’ de auto avaliação, em que cada um tem um momento para falar de si e para dizer ao outro o que não gostou e o que precisa melhorar. Esta prática, aprendida no seminário durante o tempo em que fui seminarista, nos ajudou muito a desenvolver o autoconhecimento e a melhorar o relacionamento e a adaptação de todos no processo de adoção”, partilha.