DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Evangelho que dizer boa notícia, boa nova! E a boa notícia há de chegar aos confins da terra, que vão de nossos corações até a pessoa que estiver mais distante. Até chegar lá, todos devem ser tocados com a Palavra de Vida Eterna que sai da boca de Jesus Cristo. O Evangelho é pregação, milagres, gestos de amor, ambientes em que a vida em Deus e com Deus se espalha, para fazer a todos discípulos de Cristo. E o primeiro espaço em que foi vivido é justamente uma casa, a casa de Nazaré. Jesus é Deus, Maria é Mãe de Deus, José é o homem justo, guardião daquela família tão original. E nós queremos, no Círio de 2021, entrar na Casa de Maria, em Nazaré, para “aprender Jesus” e viver de sua palavra.
O Círio começou a partir da experiência do caboclo Plácido, que levou para casa uma imagem encontrada à margem de um igarapé. Só depois, a partir da casa, surgiu uma capela, depois uma igreja, Paróquia, Basílica, Santuário! Mas tudo começou pequeno, na dimensão da família. A primeira lição do Círio de 2021 é levar Maria conosco, ter sua presença em nossa casa. Aliás, é bom lembrar que, aos pés da Cruz, João recebeu, em nome da humanidade, Maria consigo como Mãe, entre aquilo que lhe é próprio. Por isso todo discípulo autêntico de Jesus leva a Virgem Maria consigo! Por sua vez, em seu coração imaculado, a Virgem acolhe todos os discípulos de seu Filho e cuida deles com amor. A presença das imagens de Nossa Senhora de Nazaré em todas as famílias pode ser símbolo do acolhimento oferecido à Virgem Maria, transformando nossas casas em Casas de Maria!
Se levamos Maria para nossa casa e para nossa vida, haveremos de aprender as virtudes que lhe são próprias, as virtudes familiares. Proximidade e convivência, amor mútuo, capacidade de perdoar e ir ao encontro dos outros, obediência aos pais, fraternidade autêntica, hospitalidade. A Carta de São Paulo aos Colossenses expressa bem estas virtudes: “Mulheres, sede submissas a vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai vossas esposas e não sejais ásperos com elas. Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isto agrada ao Senhor. Pais, não irriteis vossos filhos, para que eles não percam o ânimo. Escravos, obedecei em tudo aos vossos senhores daqui da terra, não servindo apenas diante dos olhos, como quem procura agradara seres humanos. Obedecei-lhes com simplicidade de coração, no temor do Senhor. Tudo que fizerdes, fazei-o de coração, como para o Senhor e não para seres humanos, sabendo que é o Senhor que vos recompensará, fazendo-vos seus herdeiros. Ao Cristo e Senhor é que estais servindo (Cl 3,18-24). E não se assustem as esposas, pois na Carta aos Efésios o Apóstolo tem uma palavra que ajuda a entender esta obediência: “Como a Igreja se submete a Cristo, que as mulheres também se submetam, em tudo, a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo também amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,24-25). São duas formas para dizer que um deve estar pronto a dar a vida pelo outro!
Na casa de Nazaré, cada pessoa tem sua missão e vocação. Esta casa existe por causa de Deus e para Deus. Jesus é Deus, Filho eterno do Pai que se encarnou no seio da Virgem Maria para a nossa salvação. Maria é a humanidade que responde sim ao plano de Deus, para que, em sua pessoa, todos demos nossa resposta positiva ao plano de Deus: “Eis aqui a escrava do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra!” José, como nos fez conhecer o Papa Francisco, foi guardião do Redentor e esposo da Virgem Maria, e recebeu e viveu a missão de ser pai amado, pai na ternura, pai na obediência, pai no acolhimento, pai com coragem criativa, tudo isso vivendo como um pai na sombra!.
Todo paraense que se preze tem a devoção a Nossa Senhora de Nazaré como sustento de sua vida cristã. É como se todos tivessem nascido para a vida cristã nas águas batismais de nossa Basílica Santuário. Para o matrimônio, basta ver a verdadeira fila de casais que desejam ali receber o Sacramento. E os filhos dessa terra que se mudaram para longe, ao voltarem a Belém, a Basílica de Nazaré e as devoções a Nossa Senhora passam na frente até das visitas aos familiares! Nas procissões, que infelizmente nos faltam este ano pelas normas estabelecidas pelas autoridades, as famílias se reúnem para delas participarem ou para verem “a Santa” passar. Praticamente, não existe uma casa sequer sem o cartaz do Círio de cada ano, e multiplicam-se os altares naqueles cantinhos de devoção de nossos lares. E gente às vezes afastada da Igreja, encontra de novo, no Círio, as raízes de sua fé cristã. A devoção entrou primeiro numa casa, ampliou-se para a vida de Igreja, o templo, as ruas, e continua voltando às casas de família! Que nossas famílias se descubram em sua vocação de serem Boa notícia, para que das Igrejas Domésticas que são nossas casas, o Evangelho se espalhe por toda parte.
Rezemos juntos a Oração para o Círio de Nazaré: Senhor nosso Pai, estamos unidos em nome de Jesus, vosso Filho, conduzidos pelo Espírito Santo de Amor. Nós vos agradecemos pelo dom da Fé cristã que nos reúne, e pela Igreja, que nos conduz pelos caminhos da vida feliz, nesta terra e para a eternidade!
Pai eterno, vós nos destes de presente a Virgem de Nazaré, Mãe de Jesus Cristo, Mãe da Igreja e nossa Mãe. Unidos a Maria, pedimos com confiança: envolvei-nos com laços de amizade e cordas de amor, trazei-nos para perto de vós, de Jesus Cristo e do Espírito Santo! (Cf. Os 11,4)
Acendei, ó Pai, em nossos corações, o Círio da Fé, da Esperança e da Caridade. Que o povo de Nossa Senhora de Nazaré, Rainha e Padroeira da Amazônia, seja testemunha fiel do Evangelho de Jesus Cristo, para o crescimento do vosso Reino de paz e justiça, reino de vida e verdade, reino do amor e da graça. Amém!