Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém

Neste final de semana a Igreja inteira se volta para Lisboa, tendo à frente o Papa Francisco, Sucessor de Pedro, participando, de perto ou de longe, da Jornada Mundial da Juventude. Assim nos explicam os organizadores da Jornada (Cf. Site da Jornada Mundial da Juventude): “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39) é a citação bíblica escolhida pelo Papa Francisco como lema da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa. A frase bíblica dá início ao relato da Visitação, um episódio que se segue à Anunciação, que foi o tema da última Jornada Mundial da Juventude. Na conversa que tem com Maria, na Anunciação, o anjo diz-lhe também que a sua prima, de idade avançada e considerada estéril, estava grávida. É então que Maria, depois de afirmar ao anjo “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38), se põe com presteza a caminho de uma povoação perto de Jerusalém, onde vivia Isabel que esperava o nascimento de João, que viria a ser São João Batista. Maria de Nazaré é a grande figura do caminho cristão, que nos ensina a dizer sim a Deus. No episódio bíblico da Visitação, a ação de levantar-se apresenta Maria como mulher de caridade e mulher missionária. Partir apressadamente é a atitude com a qual se sintetizam as indicações do Papa Francisco para a Jornada. Dirigindo-se particularmente aos jovens, desafiando-os a serem missionários corajosos, o Papa escreve na Exortação Apostólica Christus Vivit: “Onde nos envia Jesus? Não há fronteiras, não há limites: Ele envia-nos a todos. O Evangelho não é para alguns, mas para todos” (Christus vivit). Ainda que Lisboa esteja no estuário do Rio Tejo e abrindo-se para o mar, de onde partiram as naus que aqui aportaram, torna-se nestes dias um alto monte, para que a juventude e a Igreja descortinem o horizonte aberto para a missão, abrindo suas velas para a navegação dirigida a todos os mares e recantos do mundo, levando a perene novidade do Evangelho, com toda presteza.

Com a companhia do sucessor de Pedro, com Tiago e João, estes representantes da multidão de jovens que acorrem a Lisboa, toda a Igreja se reúne. Através da leitura do Evangelho (Mt 17,1-9), com o episódio da Transfiguração de Jesus, desejamos identificar algumas características do pequeno grupo conduzido pelo Senhor e meditar juntos. Os três eram pescadores, homens rudes, peles queimadas pelo vento ou pelo sol, trabalhadores das noites e madrugadas, depois vendedores no mercado, certamente parecidos com os vendedores de peixes que conhecemos em Belém no Ver-o-Peso e em tantos outros portos e trapiches. Contadores de suas próprias aventuras, certamente ligados às próprias famílias, pois os Evangelhos nos falam do pai de Tiago e João e da sogra de Simão Pedro. A normalidade da vida, com seus desafios, calmarias ou arroubos temperamentais, muito parecidos conosco. Simão Pedro, que se disse pecador e negou Jesus, Tiago e João, “filhos do trovão”, pretenciosos de posições antes de entenderem Jesus e sua missão, o Senhor os escolheu gratuitamente. O chamado de Jesus é universal, sem excluir quem quer que seja, ou a história e eventuais problemas ou defeitos. Há lugar para todos, também para nós!

Os três discípulos escolhidos estiveram muito unidos a Jesus, como amigos, em tempos de alegria, como milagres que assistiram, e em desafios, se pensarmos na agonia de Jesus no Getsemani. Um deles, João, com um gesto carregado de afeto, nos legou a expressão “amigos do peito”. Estar juntos, não se isolar, este é um dos segredos do conhecimento de Jesus e uma das condições para experimentar sua presença em nosso meio.

Uma das narrativas da Transfiguração diz que eles foram à montanha para rezar, e nós oramos com eles. Chamados gratuitamente, unidos como irmãos e amigos, na busca sincera da comunhão com Deus na oração. Parece preparado o ambiente e Jesus não se faz de rogado! Como se não bastasse, mostra-lhes as Escrituras, a lei e os profetas em Moisés e Elias, coisa que também nós temos à disposição. E o máximo das alturas do Tabor, a nuvem do Espírito que os envolve e a voz do Pai! E mostra-lhes seu segredo, sua face gloriosa, para entenderem, e nós com eles, que o fruto das labutas cotidianas e da batalha da fé será sempre a luz da Ressurreição. Também nós podemos contemplar o rosto de Cristo!

A Virgem Maria teve sua experiência do chamado de Deus, deu sua resposta corajosa em nome da humanidade inteira. “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Os jovens da Jornada já traziam no coração a experiência de Maria. E Nazaré se faz Lisboa, montanha que se ergue do alto da Cruz, para abrir nossos olhares ao mundo inteiro, mesmo que este mundo seja nossa rua, nosso Bairro, nossa Paróquia ou nossa cidade. Os jovens de todas as idades, mesmo o jovem ancião que hoje lhes envia estes escritos, são chamados à mesma aventura, pois há espaços aos quais o Evangelho só chega através de algum irmão ou alguma irmã que os acolhem!

Apelos para nossa resolução e ação, hoje e sempre! Olhar para o alto, onde Cristo está sentado à direita do Pai. Enxergar o bem, olhar a história com o otimismo da fé, sem derrotismo, gostar do que é melhor, do que é puro e santo, vencer a mediocridade, desacostumar-se do pecado, não dar desculpas nascidas dos próprios defeitos. Todos somos chamados, e na casa do Pai há moradas para todos, desde já! Em seguida, estabelecer redes de amizade, parceria e fraternidade autênticas, superar o isolamento, gostar de viver em comunidade. Parecidos com os discípulos do Tabor, contemplar Jesus quando ele nos mostra sua face, deixar-se envolver pelo Espírito Santo, ouvir a voz do Pai. Para ajudar-nos, ter em mãos, para ler, meditar, rezar e viver a Bíblia, a lei de Deus, os profetas, a oração dos salmos o de modo especial o Novo Testamento. Evangelho nas mãos, Atos dos Apóstolos para aprender a ser Igreja, as Cartas, o sonho de um mundo novo com o Apocalipse!

No Monte da Transfiguração, ler, meditar, rezar, contemplar e agir! Assim munidos do que é essencial, podemos descer à planície do dia a dia. Coloquemo-nos com presteza a serviço de todos, para que nossa vida seja um canto, um Magnificat, à obra maravilhosa que Deus realiza em nós e no mundo. No horizonte de Maria, está nossa vida de Igreja e com a Igreja, nosso horizonte, nosso futuro.

Foto: Vatican News