Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)
Desde o dia dois de fevereiro do presente ano está em vigor o novo Plano Arquidiocesano de Pastoral. Daqui para frente, chegue a todas as instâncias pastorais de nossa Igreja ao conhecimento e à prática do que planejamos juntos! Desejamos oferecer a todos reflexões e propostas concretas indicadas em nosso Plano de Pastoral. A Arquidiocese de Belém, nas comemorações do terceiro centenário de sua criação como Diocese, realizou o primeiro Sínodo Arquidiocesano, escutando o povo de Deus e a sociedade civil, em seus questionamentos e esperanças, diante do tempo presente e dos desafios dos tempos vindouros.
Cada batizado, em seus diferentes ministérios e carismas, participa da vida e da missão da Igreja, num espírito de comunhão e participação. “A participação é uma exigência da fé batismal” (Papa Francisco). É pelo Batismo que todos são chamados a participar na vida da Igreja e na sua missão. Ser discípulo de Cristo é ser discípulo missionário! Não é possível permanecer inertes diante do desafio da Boa Nova a ser levada até os confins da terra!
Nosso caminho foi percorrido com o envolvimento do povo de Deus, em seus estudos, escutas e colaboração nas paróquias e Regiões Episcopais, em Assembleias específicas e por fim, a Assembleia Geral, tendo por tema “Belém, Igreja de portas abertas” e o lema “A cidade se encheu de alegria” (At 8,8), um verdadeiro apelo à conversão pastoral, para uma igreja em saída, toda missionária, atenta aos problemas eclesiais e dos males que acometem a sociedade, não ficando alheia à realidade do Povo de Deus. Todas as pessoas que se abriram à participação foram acolhidas e encontraram seu espaço, nos níveis comunitários, paroquiais, regionais, das Pastorais, Movimentos e Serviços.
Queremos caminhar a partir dos trabalhos sinodais, iluminados pelo Evangelho de Mateus 28,16-20: “Os discípulos voltaram à Galileia, à montanha que Jesus lhes tinha indicado. Quando o viram, prostraram-se; mas alguns tiveram dúvidas. Jesus se aproximou deles e disse: ‘Foi me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazei discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos'”.
A Igreja de Belém assume sua vocação, de ser “uma Igreja que olha para a frente e para o alto, com a missão de evangelizar, a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como comunidade discípula e missionária, profética e misericordiosa, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia” (Papa Francisco, Mensagem pelo Terceiro Centenário de Criação da Diocese de Belém, Vaticano, 6 de fevereiro de 2019), de modo que estabelece os princípios norteadores de sua ação pastoral, como Igreja sinodal, para o triênio de dois mil e vinte e três a dois mil e vinte e cinco.
Se a Igreja existe para evangelizar, sabemos muito bem que ainda estamos distantes da meta, pelo que assumimos de novo, como na primeira hora da Igreja, a responsabilidade da missão: “Ide, pois, fazei discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado”. Olhar ao nosso redor e descobrir as fronteiras do mundo, que podem estar perto de nós. Ninguém passe em vão ao nosso lado!
Por sua natureza, a Igreja é missionária. Assim como Cristo é o primeiro enviado, ou seja, missionário do Pai (cf. Jo 20, 21) e, enquanto tal, sua “Testemunha fiel” (Ap 1, 5), assim também todo o cristão é chamado a ser missionário e testemunha de Cristo. Todo batizado é chamado à missão na Igreja e por mandato da Igreja, e esta missão se realiza em conjunto, não isoladamente. Testemunhar Cristo é a essência da Igreja, isto é, sua vida, paixão, morte e ressurreição por amor do Pai e da humanidade. É Cristo, e Cristo crucificado e ressuscitado que devemos anunciar e cuja vida devemos partilhar. Os missionários de Cristo não são enviados para comunicar-se a si mesmos, mostrar as suas qualidades e capacidades persuasivas ou os seus dotes pessoais. Em vez disso, têm a honra sublime de confessar Cristo, por palavras e ações, anunciando a todos a Boa Nova da sua salvação com alegria e ousadia, como os primeiros apóstolos. São conduzidos pelo amor recebido de Jesus, aquela experiência de ser salvos por ele e que nos impele a amá-lo cada vez mais (cf. Evangelii Gaudium, 264).
O mandato do Senhor, “Ide”, deverá interpelar os discípulos de Jesus de cada tempo, impelindo-os sempre a ir mais além dos lugares habituais das paróquias e comunidades para levar o seu testemunho. Por outro lado, não existe qualquer realidade humana que seja alheia à atenção dos discípulos de Cristo, na sua missão. A Igreja de Cristo sempre esteve, está e estará “em saída” rumo aos novos horizontes geográficos, sociais, existenciais, rumo aos lugares e situações humanas, anunciar Jesus Cristo e seu amor a todos os homens e mulheres. A missionariedade deverá ser a grande mística e a chave da vida da Igreja de Belém, na direção de concretizar sempre mais o sonho do Papa Francisco: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação” (Evangelii Gaudium, 27).
Os desdobramentos de nossa vocação missionária virão à tona nos próximos meses, com o aprofundamento do Plano Arquidiocesano de Pastoral. Entretanto, o primeiro impulso a ser dado é o da mística missionária. Trata-se de um élan capaz de unificar as ações da Igreja numa mesma direção. Missionária será aquela pessoa que descobre em sua vizinhança as necessidades das pessoas, quem se empenha na prática das Obras de misericórdia (Corporais: Dar de comer a que tem fome, dar de beber a quem tem sede, dar pousada aos peregrinos, vestir os nus, visitar os enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos; Espirituais: Ensinar os ignorantes, dar bom conselho, corrigir os que erram, perdoar as injúrias, consolar os tristes, sofrer com paciência as fraquezas do próximo, rezar a Deus pelos vivos e defuntos). Missionária será a família que dá exemplo de unidade e amor, com respeito e valorização das diversas gerações que a compõem. Missionário é aquele que acolhe a proposta da Paróquia e lidera um grupo de reflexão e de oração em seu bairro. Será atitude missionária levar à Paróquia a realidade de áreas nas quais falta a presença da Igreja e, quem sabe, dar o primeiro passo. Pode ser missionária a pessoa que doa o que lhe é possível em bens materiais para o serviço da Igreja, as construções de templos ou outras obras, que serão necessárias à vida de Igreja. E cada um de nós faça crescer esta lista de possibilidades missionárias! Uma mística que unifica toda a ação pastoral, levando nossa Igreja a olhar para frente e para o alto!