Introdução:

Considerando as peculiaridades, beleza, riqueza e potencialidades da Amazônia, em diversas dimensões, ela é lugar de contemplação de Deus! Todavia, como refletimos no artigo anterior, analisando seus muitos problemas humanos e ambientais, a Amazônia é também um coro que emite gritos clamorosos, tornando-se uma verdadeira orquestra de lamentações por causas de tantas ameaças à vida!  

Nesta reflexão nosso olhar se volta para a própria Igreja. Também a Igreja Católica na Amazônia está grávida de desafios e tem suas fragilidades. Um olhar para os desafios externos, socio-ambientais, sem considerar as fragilidades internas eclesiais poderia soar um discurso hipócrita.

  1. O necessário olhar para dentro

É necessário, honestamente, um sincero olhar interior. Caso contrário, corremos o grave perigo do desvio da nossa identidade e missão, enquanto Igreja. Uma das grandes e mais fortes tentações do próximo Sínodo, pode ser aquela de uma exagerada atenção aos problemas socio-ambientais, deixando a desejar a reflexão sobre a identidade e a missão da Igreja na Amazônia.

O Sínodo é também uma ocasião para um maior avivamento da consciência de identidade da Igreja na Amazônia, para aprofundar sua consciência vocacional, sua sensibilidade, princípios fundamentais, seus valores, atitudes ético-pedagógicas e fragilidades internas. 

Diante de sua vocação, a Igreja deve ser honesta consigo mesma, e levar a sério aquilo que, especificamente depende dela (guiada pelo Espírito), mas sem perder a visão da totalidade da missão e nem seu dinamismo profético.

  1. Caminhos novos para a Igreja

O tema do Sínodo pede a busca de “novos Caminhos para a Igreja”; portanto, deve retomar a reflexão sobre a sua identidade e missão. Por isso, é importante evidenciar os diversos desafios internos que temos como Igreja na Amazônia. Não podemos negá-los!

A frase “caminhos novos para a Igreja” nos leva a pensar no dinamismo e na qualidade da vivência da sua missão e identidade; perseguir “caminhos novos para a Igreja” requer a consciência do dever da honesta auto-avaliação.

A busca de “caminhos novos para a Igreja na Amazônia” nos estimula a pensar na necessidade da ousadia encarando, em primeiro lugar, os desafios internos; os “caminhos novos para a Igreja” nos pedem a capacidade de reconhecimento de métodos e meios obsoletos que exigem mudanças.

Os “caminhos novos para a Igreja” é uma necessidade apontada pelo Espírito (cf. Ap 3,6); Ele é o portador das autênticas novidades para a fidelidade a Jesus, seu Senhor (cf. Jo 14,26). O Espírito da Verdade faz novas todas as coisas (cf. Ap 21,5).

  1. Alguns desafios internos

Com olhar crítico percebemos uma significativa lista de fragilidades internas na Igreja presente na Amazônia, que deve ser analisada com sabedoria no próximo Sínodo. Vejamos alguns:

  • A fragilidade do sentido de pertença dos católicos, por isso se fala de uma grande massa de “católicos não praticantes” (não é só na Amazônia);
  • A ignorância bíblica que revela um enorme percentual de católicos (acima dos 80%), que nunca leram os evangelhos, não conhecem a Jesus Cristo e são enganados;
  • O desconhecimento da doutrina católica gerando um forte sincretismo religioso no catolicismo e a grande maioria não se faz problemas;
  • A fragilidade da catequese que, tradicionalmente, não consegue promover uma séria Iniciação à Vida cristã; ainda temos uma forte pastoral de eventos;
  • Há entre os católicos uma grande superficialidade na compreensão das exigências batismais, e quase ausência da percepção de nexo com as questões morais e sociais;
  • É sentida uma insuficiente e quase inexpressiva consciência missionária por parte da grande maioria dos batizados católicos;
  • Ainda é muito frágil a cultura da formação dos leigos, na capacitação teológica e liderança; temos pouquíssimos leigos preparados e disponíveis para a pregação;
  • As comunidades católicas precisam crescer na promoção de uma verdadeira cultura da acolhida e do envolvimento comunitário fraterno;
  • Em diversos níveis de contextos eclesiais e institucionais, há grave fragilidade da pastoral de conjunto que favorece a fragmentação das iniciativas pastorais;
  • Há um grande déficit de sacerdotes na Igreja da Amazônia; isso provoca a ausência da Eucaristia na maioria das comunidades católicas; há muitas questões relacionadas a esse tema: a pastoral vocacional, a formação sacerdotal, a solidariedade missionária entre as dioceses, a promoção dos ministérios laicais;
  • A questão da sustentabilidade financeira da evangelização é outra questão séria, que exige promoção da corresponsabilidade dos católicos (dízimo);
  • Há de modo geral, um gradual envelhecimento dos tradicionais movimentos eclesiais, como por exemplo, o Apostolado da oração, Legião de Maria etc;
  • Ainda é frágil, entre as lideranças de base das comunidades, movimentos, pastorais a assimilação do Documento de Aparecida, da Evangelii Gaudium e da Encíclica Laudato Si;
  • O crescimento do neopencostalismo se deve, em grande parte, à ausência (ou esparsa e frágil presença) Católica organizada, nas periferias, vilas do interior e novas ocupações habitacionais nas cidades; somos demasiadamente lentos!
  • Conflitos de pensamentos, sensibilidade, linguagem, posturas, mostrando falta de sinergia em certos casos envolvendo lideranças de diversos níveis eclesiais (isso também se deve ao não conhecimento da diversidade dos nossos contextos e influxos ideológicos).
  1. Perene renovação interior

Seria profundamente incoerente pensarmos numa “Igreja profética e guerreira” diante dos problemas sociais, mas internamente frágil. Isso não é possível! A promoção da conversão das estruturas sociais nos compromete, antes de tudo, na conversão eclesial.

A Igreja se renova a partir da sua fidelidade a Jesus Cristo, pois a sua Igreja significa antes de tudo, crescer na fidelidade à sua própria vocação (cf. EG, 26-27). Como peregrina neste mundo a Igreja é chamada por Cristo a estar em perene processo de renovação. (continua!)

 

REFLEXÃO:

  • Para você o que significa a expressão “caminhos novos para a Igreja na Amazônia”?
  • Em sua opinião quais são as três fragilidades mais graves, dentre aquelas citadas ?
  • Quais outras fraquezas eclesiais você elencaria?

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA