por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá
Um pequeno avião avançava em meio à noite. De repente, caíram os sistemas de comunicação, a orientação da rota e o painel de controle apagou-se. O avião voava às cegas. Os pilotos tentaram inutilmente concertar o defeito. Já estavam em pânico e pediram à aeromoça para descobrir se entre os passageiros tinha algum técnico em eletrônica. Não tinha. Mas uma passageira levantou e foi até a cabine de comando perguntando repetidamente: – Diga-me qual é o problema, talvez eu possa ajudar. Logo perguntaram para ela se entendia de aparelhos eletrônicos. Se não soubesse mexer, devia voltar para o seu assento e não atrapalhar. Mas a mulher insistia e disse que sabia de algo que nunca tinha falhado no passado e que talvez também ajudasse naquele momento. A mulher era astrônoma. Pediu o mapa da viagem, a partida e o destino. Olhou bem para as estrelas que apareciam luminosas no céu na frente deles. Ao lado do piloto, ela conseguiu orientar o voo. Algum tempo depois, o esplendor da aurora anunciou que eles estavam salvos.
O evangelho do Terceiro Domingo da Páscoa é a continuação da página bem conhecida dos discípulos de Emaús. Os dois peregrinos, antes desanimados, após o encontro com Jesus e reconhecendo que lhes ardia o coração quando ele falava, voltaram para Jerusalém. Contaram o que tinha acontecido e como tinham reconhecido Jesus “ao partir o pão”. O evangelista Lucas apresenta assim mais uma “aparição pós-pascal” do Ressuscitado. Desta vez a comunidade está reunida e Jesus age e fala para confirmar a fé dos discípulos e explica qual será a missão deles. Lembramos que o evangelho de Lucas foi escrito para os cristãos da segunda geração, ou seja aqueles que não tinham conhecido Jesus e provavelmente nem os apóstolos. Portanto o que é apresentado vale igualmente para nós porque quer responder àquelas perguntas que sempre aparecem quando queremos entender melhor a novidade da Páscoa de Jesus e aprender a acolhê-la na fé. Com efeito, não temos palavras capazes de explicar algo que não faz parte da nossa experiência comum que passa, necessariamente, pelos nossos sentidos. O Ressuscitado é um fantasma? Alguém irreal? Pura imaginação? A esta questão o evangelista responde com o pedido de Jesus de comer junto com eles. O Ressuscitado é outra pessoas diferente daquele Jesus que morreu na cruz? Os sinais da paixão confirmam que é o mesmo Crucificado que agora está vivo, mas não com a mesma vida mortal anterior. É uma vida diferente porque a morte está vencida pela ressurreição. Como o Ressuscitado ajuda os discípulos a acreditar? Explicando as Escrituras, ou seja lembrando as obras de Deus do passado, as promessas antigas, mas, sobretudo, afirmando que aqueles acontecimentos confirmavam definitivamente o amor de Deus com a humanidade. Este anúncio de conversão e perdão dos pecados deverá ser proclamado a “todas as nações” a começar por Jerusalém. Os discípulos terão que convencer os outros com uma vida “nova”.
Estas palavras de envio para serem testemunhas “de tudo isso”, ou seja do “evento” Jesus, com sua vida, paixão, morte e ressurreição continuam atuais para nós hoje. Não temos condições de explicar a ressurreição a não ser praticando “a conversão e o perdão dos pecados”. Conversão significa vida nova, atitudes novas, capacidade de colocar o bem onde o mal toma conta, a fraternidade onde as divisões causam ódio e morte. O perdão dos pecados é o abraço alegre e misericordioso de Jesus que quer dizer a todos: – Vá em paz e não peque mais! Ser testemunhas com a nossa vida de tudo isso não é um voo no escuro, sem rumo e direção. Não é acreditar num Ser superior qualquer, sem rosto e identidade. Ao contrário, é ter “os olhos fixos em Jesus” luz que vence as trevas. Mais que confiar nas nossas “técnicas” cheias de raciocínios e palavreados é acreditar nele e seguir o seu exemplo. É nos deixar guiar pela novidade da sua Páscoa no dia a dia, semear esperança para salvar do desespero, ser pequenas auroras de amor para salvar da escuridão da indiferença. É ser “astrônomos” de bondade.
Artigos Anteriores
REFLEXÃO SOBRE O EVANGELHO DA SOLENIDADE DA EPIFANIA
por Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, SDV Bispo da prelazia do Marajó Partilho minha reflexão sobre o Evangelho da Solenidade da Epifania: Mateus 2, 1-12 (minha fala completa sobre a Liturgia da Palavra da Solenidade da epifania pode ser ouvida no meu facebook...
O HOSPEDE MAIS IMPORTANTE
por Dom Pedro Jose Conti Administrador Apostólico da Diocese de Macapá Certa noite, quando o Mahatma Ghandi estava em Pretória, na África do Sul, passou perto da casa de alguns amigos cristãos. Resolveu fazer-lhes uma visita. Quando entrou na casa daquela família, viu...
“PEREGRINOS DE ESPERANÇA”
por Dom Pedro José Conti Administrador Apostólico da Diocese de Macapá Estas palavras são o lema do Jubileu 2025 que iniciaremos em nossa Diocese no domingo 29 de dezembro de 2024. O começo oficial do Ano Santo já aconteceu em Roma no dia 24 de dezembro quando o papa...
A CAIXA DE PAPELÃO
por Dom Pedro José Conti Administrador apostólico da Diocese de Macapá Nunes era um humilde motorista de caminhão. Para ele a religião não tinha nenhuma importância e até discutia com aqueles que sobre isso falassem. Mas, para Deus, tudo tem a sua hora. Numa tarde, o...
AOS POUCOS
por Dom Pedro Jose Conti Bispo da Diocese de Macapá Justino era um andarilho bastante conhecido pelo seu vigor físico e mental. Não bebia nada que tivesse álcool. Tinha um amigo de infância que constantemente se embriagava. Certo dia, procurou convencê-lo a...
O PEREGRINO
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá No ano 1000 muitos cristãos tinham medo que o mundo acabasse. As peregrinações se multiplicavam e, quem podia, viajava para Jerusalém ou Roma. Se tornou conhecido um peregrino que, com uma certa idade, por vários...
O GUARDA-CHUVA
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Chovia muito naquele dia. Dois homens, que viviam juntando coisas velhas descartadas, rodavam pela cidade, empurrando um carrinho de mão, em busca de algo jogado fora e que tivesse ainda algum valor. Numa lata de...
PODE SEMPRE DOAR ALGUMA COISA
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Um homem se considerava o mais pobre da terra. Um dia, encontrou outro na mesma situação e lhe disse: - Eu me achava ser o mais pobre de todos, mas agora encontrei você que não tem nem chapéu. O outro respondeu: -...
AJUDAI-ME COLEGA
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá O santo Cura d’Ars recebera de um colega uma carta que começava assim: "Sr. Vigário, quando se sabe tão pouco a teologia, como é o seu caso, nunca se deve entrar no confessionário". O Santo, que nunca achava tempo...
A CICATRIZ
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Amapá Certa tarde uma criança saiu com o pai para passear pelas ruas da cidade. De repente passou um senhor bem forte. Parecia um barril e tinha dificuldade a caminhar. Vendo isso a criança riu tolamente e disse ao pai: - O...
O PORCO-ESPINHO
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Um rebanho de porcos-espinhos pastava na tundra gelada da Sibéria Polar. Cada qual procurava por seus próprios esforços líquens salvos do gelo. De súbito, a tempestade começa e o vento glacial sopra cada vez mais...
O RIO E O OCEANO
por Dom Pedro Jose Conti Bispo de Diocese de Macapá Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente...
CRIANÇAS
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá “Às vezes dizem que as crianças não entendem de política, mas isso não é verdade. Crianças da cidade de xxx, participam ativamente na transformação da cidade. Criado em 2019 o Comitê das Crianças é um espaço...
O LEÃO E O RATINHO
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Ao sair do buraco viu-se um ratinho entre as patas do leão. Estacou, de pelos em pê, paralisado pelo terror. O leão, porém, não lhe fez mal nenhum. – Segue em paz, ratinho; não tenha medo do teu rei. Dias depois o...
O MANDARIM E O ALFAIATE
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá O homem foi nomeado mandarim. Daquele momento em diante seria uma grande autoridade e precisava de um manto adequado ao cargo. Um amigo lhe indicou um bom alfaiate de seu conhecimento. Para poder confeccionar o...
PROCURA-SE
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Procuro homens para viagem arriscada. Salário baixo, frio enregelante, longos meses de completa escuridão, perigo constante, retorno duvidoso. Honra e reconhecimento em caso de sucesso.” – Ernest Shackleton Sir...
O BURRO NA PELE DO LEÃO
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Um burro encontrou uma pele de leão que o caçador tinha largado no mato. Na mesma hora o burro vestiu a pele e inventou a brincadeira de se esconder numa moita e de pular fora sempre que passasse algum animal. Todos...
VESPAS E ABELHAS
por Dom Pedro Jose Conti Bispo Auxiliar da Diocese de Macapá Assim como as abelhas, as vespas também fazem favos. A diferença é que os favos das vespas são vazios e os favos das abelhas são de uma riqueza espetacular. O ditado dos antigos: “as vespas também fazem...
OS DOIS ESCRAVOS
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Um rei tinha dois escravos muito capacitados, obedientes e prestativos. Um dia, por causa da fidelidade deles, quis premiá-los. Chamou o primeiro e lhe disse: - Como recompensa do seu trabalho lhe dou a liberdade e...
ASSUNÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA: A COLHEITA
por Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Dois camponeses trabalhavam em duas roças vizinhas. Passavam os dias a semear e a colher, sempre curvos sobre a terra. Nunca falavam entre si, ocupados demais para perder tempo. Um dos dois, porém, vez por outra, se...