Muitas vezes, com certeza, ouvimos a frase de Jesus transmitida no evangelho de Mateus: “Não ajunteis para vós tesou­ros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração” (Mt 6, 19ss). O sentido parece claro. A preocupação dos discípulos deve ser procurar os tesouros do céu que o ladrão não pode roubar, nem a ferrugem e a traça corroer, tendo o coração desprendido das riquezas materiais. Assim o amor do cristão deve estar colocado em Deus e no serviço da comunidade eclesial. O nosso amor indica o que escolhemos, porque não podemos servir a dois senhores ao mesmo tempo (Cfr. Mt 6,24).

Em outros textos, Jesus nos fala da riqueza e nos alerta do perigo de apegar-nos a ela e não poder entrar por causa dela no Reino do Céus (Mc 10,24s). Nesta mesma linha de pensamento entendemos que é preciso confiar sempre na providência divina e buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça (Mt 6, 33). Jesus não é contra a riqueza, mas contra o perigo que ela representa para o cristão que não está totalmente centrado em Deus e nela coloca a sua exclusiva confiança. Os apóstolos e discípulos da primeira comunidade de Jerusalém entenderam perfeitamente o pensamento de Jesus sobre a riqueza e o perigo que ela pode ser para quem não tem como riqueza o próprio Deus e tudo o que possuíam o colocavam em comum (Cfr. At 2,44). Desta forma, encontraram um meio de suprir as necessidades de todos sem o perigo de se apegar à riqueza. Resumindo, poderíamos dizer que Jesus não rejeita a riqueza, embora reconheça o perigo que representa para o discípulo, mas quer que a utilizemos bem no serviço próprio, da comunidade e dos pobres.

O cristão de hoje, especialmente aquele que tem responsabilidade na manutenção de uma família deve ter presente duas atitudes que Jesus expressou em diversas ocasiões. Por um lado, a confiança em Deus e na sua providencia (Lc 12,22) para não se preocupar excessivamente com aquilo que amanhã irá comer ou precisar, mas sim exercitar a própria fé em Deus confiando n’Ele. Por outro lado, Jesus quer que sejamos proativos e não fiquemos só esperando cair do céu. A Parábola das Virgens prudentes (Mt 25,1-13) mostra que é preciso ser precavidos e ter sempre uma reserva seja de óleo para as lâmpadas ou de outros recursos. Na parábola, cinco das virgens entraram na festa porque tinham uma reserva de óleo; as outras perderam a festa porque na última hora tiveram que sair para comprar o óleo e chegaram tarde.

Nos primeiros dias da pandemia do coronavírus, ante o fechamento dos templos ao público, para evitar aglomerações de pessoas e dificultar a transmissão do vírus, recebi alguns telefonemas de irmãos sacerdotes diocesanos preocupados com a economia da própria paróquia. Eles me perguntavam como iriam pagar os funcionários, a energia elétrica e os outros gastos fixos que toda paróquia tem. As colocações eram coerentes e a preocupação própria de quem tem uma responsabilidade institucional. Foi nessa hora que eu tomei consciência da realidade de algumas de nossas paróquias que vivem ao dia, com um dízimo apertado, que não tem reserva financeira e que, em alguns casos estão esperando as primeiras entradas do dízimo mensal para ir pagando contas e boletos, em ocasiões com atraso. E pensei na lição das virgens prudentes!

É verdade que, algumas paróquias chegaram a este momento, envolvidas em obras de construção e reformas que normalmente consomem uma boa fatia de recursos paroquiais. E ninguém poderia prever a pandemia que estava para chegar. Mesmo assim, não podemos nunca esquecer alguns princípios da boa administração, como por exemplo, antes de começar uma obra sentar-nos para ver com que recursos contamos, não fazer obras com o dinheiro procedente do dízimo, não gastar mais do que temos e, principalmente, ter uma poupança para os gastos emergenciais e imprevistos.

A atitude de poupar não está em conflito com o Evangelho, nem é contrária ao pensamento de Jesus. Cada paróquia ou comunidade eclesial deve, portanto, trabalhar para ter sempre uma reserva econômica para os casos emergenciais. O mesmo pode-se dizer em nível pessoal com o objetivo de assegurar uma digna e tranquila aposentadoria. Não se trata de acumular, mas de sermos previdentes.

Alguém poderia me questionar dizendo que o recurso do dízimo é tão apertado que não dá para guardar nada. E eu respondo: sempre dá para poupar algum dinheiro, mesmo que seja pouco. O segredo de um bom poupador não está na quantia que ele pode guardar, mas na atitude poupadora de sempre reservar uma parte, inclusive privando-se de algum gasto legítimo, embora não essencial. O olhar do poupador não se fixa na quantia já acumulada, mas na decisão firme de continuar sempre a guardar recursos financeiros. Esta é mais uma lição que a pandemia nos deixa e que nós temos que aprender.

Tenho a certeza de que nossos párocos encontrarão saídas e soluções ante a falta de recursos. Entretanto, não posso deixar de pensar na situação de muitos pais e responsáveis que, nestes momentos de inatividade e desemprego, enfrentam sérias dificuldades para assegurar a alimentação das suas famílias. O auxílio do governo é só uma ajuda que serve para passar alguns dias, mas não resolve o problema. A verdade é que muitas famílias vivem ao dia e não tem nenhum tipo de poupança ou reserva financeira à qual possam recorrer nos momentos difíceis. Essa é a realidade da maior parte das famílias do nosso Estado do Pará, da nossa diocese. Pela intercessão de São José, peço a Deus que proteja nossas famílias!  

POR Dom JESUS MARIA CIZAURRE BERDONCES, OAR

Bispo de Bragança-PA