A Assembleia do Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia se aproxima, e é preparada com muita atenção e com as orações de todos nós. Ao rezar a oração para o Sínodo, ficam bem claros seus objetivos, ajudando muitas pessoas a superarem as interpretações duvidosas e até maldosas sobre sua realização. Rezamos assim: “Deus Pai, Filho e Espírito Santo, iluminai com a vossa graça a Igreja que está na Amazônia. Ajudai-nos a preparar com alegria, fé e esperança o Sínodo Pan-Amazônico: ‘Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral’. Abri nossos olhos, nossa mente e coração para acolhermos o que vosso Espírito diz à Igreja na Amazônia. Suscitai discípulas e discípulos missionários, que, pela palavra e o testemunho de vida, anunciem o Evangelho aos povos da Amazônia, e assumam a defesa da terra, das florestas e dos rios da região, contra a destruição, poluição e morte. Nossa Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia, intercedei por nós, para que nunca nos faltem coragem e paixão, lado a lado com vosso filho Jesus. Amém!”
O Sínodo dos Bispos é evento da Igreja Católica, celebrado no Vaticano, presidido pelo Papa Francisco e a participação dos nove países que fazem parte da Amazônia. Não é um parlamento, nem reunião de representantes de governos ou de entidades ambientalistas. Estamos procurando novos e adequados caminhos para a Evangelização, pois a Amazônia é o campo de missão que nos foi confiado pela Providência Divina. E quando nos referimos às questões socioambientais, não nos cabem as soluções técnicas, mas os argumentos éticos e morais, justamente nossa responsabilidade missionária, pois se trata da vida de nossos povos e as consequências para todo o planeta.
Temos refletido nos artigos recentes à luz da Exortação Apostólica Verbum Domini (Números 103-108), de Bento XVI, chegando agora a algumas consequências quanto à prática da caridade e o compromisso cristão dentro do mundo. De fato, o compromisso pela justiça, a reconciliação e a paz, encontra a sua raiz última e perfeição no amor que nos foi revelado em Cristo. Estamos atentos à ligação que há entre a escuta da Palavra de Deus e o serviço desinteressado aos irmãos. Que todos os fiéis, ensinou Bento XVI, compreendam a necessidade de traduzir em gestos de amor a palavra escutada, porque só assim se torna credível o anúncio do Evangelho, apesar das fragilidades humanas que marcam as pessoas. Escutando a Palavra de Deus na Igreja, desperta-se a caridade e a justiça para com todos, sobretudo para com os pobres. Quem quer desfazer-se do amor, prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem. Por isso, somos todos convidados a meditar com frequência o hino à caridade escrito pelo Apóstolo Paulo, deixando-nos inspirar por ele: “A caridade é paciente, a caridade é benigna, não invejosa; a caridade não se ufana, não se ensoberbece, não é inconveniente, não procura o seu interesse, não se irrita, não suspeita mal, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade nunca acabará” (1 Cor 13,4-8).
Atenção particular seja dada ao anúncio da Palavra às novas gerações. Muitas vezes encontramos nos jovens uma abertura espontânea à escuta da Palavra de Deus e um desejo sincero de conhecer Jesus. Às questões levantadas na juventude sobre o sentido da vida, só Deus sabe dar verdadeira resposta. Esta solicitude pelo mundo juvenil, insistiu Bento XVI, e queremos assumir como programa para a Amazônia, implica a coragem de um anúncio claro. Devemos ajudar os jovens a ganharem familiaridade com a Sagrada Escritura, para que seja como uma bússola que indica a estrada a seguir. Para isso, precisam de testemunhas e mestres, que caminhem com eles e os orientem para amarem e por sua vez comunicarem o Evangelho sobretudo aos da sua idade, tornando-se eles mesmos arautos autênticos e credíveis. E é preciso que a Palavra divina seja apresentada nas suas implicações vocacionais, para ajudar e orientar os jovens nas suas opções de vida, incluindo a consagração total. Autênticas vocações para a vida consagrada e para o sacerdócio encontram o seu terreno propício no contato fiel com a Palavra de Deus.
A Sagrada Escritura manifesta a predileção de Deus pelos pobres e necessitados (Cf. Mt 25,31-46). O anúncio evangélico e o empenho dos pastores e das comunidades se dirijam a estes nossos irmãos. Com efeito, os primeiros que têm direito ao anúncio do Evangelho são precisamente os pobres, necessitados não só de pão, mas também de palavras de vida. O serviço da caridade, que nunca deve faltar nas nossas Igrejas, tem de estar sempre ligado ao anúncio da Palavra e à celebração dos santos mistérios.
Enfim, outro compromisso requerido pela Palavra divina impele-nos a ver com olhos novos todo o universo criado por Deus e que traz já em si os vestígios do Verbo, por quem tudo foi feito (Cf. Jo 1,2). A revelação, ao mesmo tempo que nos dá a conhecer o desígnio de Deus sobre o universo, leva-nos também a denunciar os comportamentos errados do homem, quando não reconhece todas as coisas como reflexo do Criador, mas mera matéria que se pode manipular sem escrúpulos, quando falta ao homem aquela humildade essencial que lhe permite reconhecer a criação como dom de Deus que se deve acolher e usar segundo o seu desígnio. Ao contrário, a arrogância do homem que vive como se Deus não existisse, leva a explorar e deturpar a natureza, não a reconhecendo como uma obra da Palavra criadora. O fato de acolher a Palavra de Deus atestada na Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja gera um novo modo de ver as coisas, promovendo uma ecologia autêntica, que tem a sua raiz mais profunda na obediência da fé, e desenvolvendo una renovada sensibilidade teológica sobre a bondade de todas as coisas, criadas em Cristo. O homem precisa de ser novamente educado para se maravilhar, reconhecendo a verdadeira beleza que se manifesta nas coisas criadas. Daí se entende o nosso propósito de contribuir para uma ecologia integral, à luz da Palavra de Deus.
Dom Alberto Taveira corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém-PA