Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

Introdução

Os líderes da Igreja, em todos os níveis, têm como missão comum a promoção do Reino de Deus. A missão de evangelizar da Igreja tem como meta essa única finalidade; portanto, todos os líderes só serão autênticos se cultivarem a mentalidade de convergência com a missão e o dinamismo da Igreja. Quem, no serviço de liderança, em qualquer nível, não cultiva o senso de comunhão, se isola, atrapalha, desafina. A rede de líderes deve formar uma sinfonia harmoniosa.

O líder na Igreja é um fiel que, inspirado na unidade da Santíssima Trindade, não trabalha sozinho. Por isso, toda e qualquer atitude de serviço que não promove o sentido de comunhão e unidade eclesial, contraria o caminhar juntos! O líder portador de mentalidade sinodal, está sempre e, de muitos modos, estimulando o senso de comunhão, o fortalecimento da unidade, do dinamismo do caminho em conjunto.

Atitudes de isolamento, individualismo, negação da diversidade, prepotência, autorreferencialidade (eu, eu, eu), o clericalismo, vaidade, negligência, reducionismo, depreciação dos outros, contrariam o espírito sinodal. Eis aqui um tema muito importante para ser aprofundado; lamentavelmente, muitos líderes acabam mal, em seus vários níveis de liderança, porque são acometidos pela síndrome do heroísmo solitário.

 

  1. Liderança, comunhão e sinodalidade

O mandamento do Amor é o fundamento do dinamismo pastoral da Igreja. Onde há Amor, ou seja, a Caridade, não há espaço para a fragmentação, disputas de poder, discórdia, divisão, agressividade, rupturas, cisma, surdez, isolamento, boicote, desobediência. Tudo isso destrói a Igreja. O próprio Jesus alertou seus interlocutores afirmando que um reino dividido contra si mesmo, fracassa (cf. Mt 12,25; Mc 3,24-25).

A comunhão levada a sério, quando pensada, planejada, organizada e promovida, pode desembocar na cultura do encontro, do diálogo, do discernimento e da obediência. Não há comunhão onde não se obedece. Num mundo profundamente marcado pelo pluralismo, ideologias, grupos radicais, movimentos polarizantes, exaltação exacerbada do indivíduo e atitudes contestatárias, somos chamados, como Igreja, a aprofundar as consequências da mentalidade de comunhão e da sinodalidade.

A comunhão não é uma questão relativa, mas essencial para a vida eclesial; não é uma estratégia para que a Igreja se torne mais forte e vença obstáculos; é a consequência natural da vivência da Caridade Pastoral. A comunhão é experiência de senso de fraternidade e, ao mesmo tempo, uma meta, uma busca, um desafio constante até a plena comunhão eterna dos discípulos de Jesus.

Essa convicção, sentimento, mentalidade e dinamismo devem permear a vida da Igreja em todas as suas dimensões, lugares, instituições, pastorais, atividades eclesiais e sujeitos. A cultura da comunhão sempre desafiará a Igreja em todas as suas expressões pastorais, institucionais, atividades, congregações, Novas Comunidades… Por isso, os autênticos líderes na Igreja são promotores da solidez da sua unidade; são os guardiões da comunhão e da sinodalidade. Um dos critérios mais significativos de eclesialidade é a experiência da unidade e da ação conjunta com diferentes modalidades, em prol do Reino de Deus. Qualquer sujeito eclesial que se isola e, por força de argumentos próprios, prescinde de uma caminhada conjunta, se enfraquece, envelhece, atrapalha e morre!

Quem não leva a sério a necessidade da comunhão e da sinodalidade, não deve assumir nenhuma forma de responsabilidade e liderança na Igreja. “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito” (Lc 16,10-12). Quem não está em comunhão só causa problemas, dispersão, prejuízos pastorais, danos eclesiais! “Aquele que não está comigo está contra mim; e aquele que comigo não ajunta, espalha” (Mt 12,30).

 

  1. Comunhão sinodal e conversão pastoral

A espiritualidade da comunhão eclesial é sinodal, ou seja, não se trata de um intimismo ou mero bem querer onde, ao final cada um faz o que deseja e segue o seu rumo. Mas trata-se de uma comunhão promotora da unidade da Igreja corresponsabilizando todos os níveis de liderança. A liderança sinodal envolve todo o clero, consagrados e os leigos. Dessa forma a sinodalidade é vivida na Igreja a serviço da sua missão de promoção do Reino de Deus. Não pode haver outa forma de evangelizar que não seja em sinodalidade porque acontece sob o impulso do Espírito Santo (Comissão Teológica Internacional. A sinodalidade na vida e na missão da Igreja. Roma, 2018, N. 48,53, 64).

A espiritualidade da comunhão eclesial é um desafio constante, por isso, deve ser manifestação de conversão pastoral. Onde não há conversão pastoral há intrigas, divisão, individualismo, disputas, heroísmo solitário, vaidade. A sinodalidade é sinal de que tomamos consciência da importância de todos e de cada um dentro da Igreja na sua diversidade de vocação, carismas e serviços. Mas todos estão submissos ao único Senhor. Somos todos seus servidores. Por isso, a conversão pastoral nos desafia a abandonar a tudo aquilo que, de diversos modos, agride a vida fraterna e eclesial.

A Espiritualidade da comunhão é dom do espírito que provoca o movimento de unidade da Igreja, mas ao mesmo tempo é esforço que procura promover a convergência sempre. A Espiritualidade da Comunhão é fruto da ação do Espírito Santo em nós.

 

  1. O serviço sinodal da Santíssima Trindade.

A sinodalidade é dom da Trindade. Nela há a diversidade de pessoas, unidade no espírito, convergência na missão… São três líderes, mas servem na unidade do amor, sem conflito, sem paralelismos e nem isolamento. Jesus declarou “eu e o Pai somos um” (Jo 10,30); “o Pai permanece em mim e eu no Pai” (Jo 10,38). Disse a Felipe: “não credes que eu estou no Pai e o Pai está em mim?” (Jo 14,10). Deus é comunidade.

Cada uma das pessoas da Santíssima Trindade participa inteiramente da ação da outra, sem individualismo, sem setorialismo, sem particularismo. “Repleto do Espírito Santo, Jesus voltou do rio Jordão, e era conduzido pelo Espírito através do deserto” (Lc 4,1). Jesus não trabalhou sozinho. O Filho de Deus, formou uma comunidade em vista da promoção do Reino de Deus; chamou colaboradores, os formou e os corresponsabilizou em sua missão (cf. Mt 10,1-11; Mc 6,6-13; Lc 6,12-16).

São Paulo com o seu exemplo de vida e doutrina também nos deixou um grande estímulo sobre a importância da comunhão sinodal e da liderança em rede. Paulo nunca trabalhava sozinho, não foi um herói isolado; tinha equipes de animação pastoral (cf. At 13,13-14) de acordo com o ambiente onde trabalhava.

Quando percebeu que na Comunidade de Corinto havia tendências à divisão foi enfático na correção dizendo: “Quando alguém declara: «Eu sou de Paulo», e outro diz: «Eu sou de Apolo», não estarão vocês se comportando como qualquer um? Quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servidores, através dos quais vocês foram levados à fé; cada um deles agiu conforme os dons que o Senhor lhe concedeu. Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer. Assim, aquele que planta não é nada, e aquele que rega também não é nada: só Deus é que conta, pois é ele quem faz crescer. Aquele que planta e aquele que rega são iguais; e cada um vai receber o seu próprio salário, segundo a medida do seu trabalho. Nós trabalhamos juntos na obra de Deus, mas o campo e a construção de Deus são vocês” (1Cor 3,6-9).

 

  1. Pistas concretas para líderes

Para concluir estes estímulos sobre a necessidade da liderança sinodal lhe apresento alguns importantes critérios sobre os quais devemos pautar o nosso serviço de liderança na Igreja. O distanciamento desses critérios nos leva inevitavelmente, pouco a pouco, a assumirmos atitudes desviantes e contrárias à comunhão eclesial.

Muitas podem ser as estratégias para a manutenção da consciência sinodal e atitudes de convergência tais como: manter-se em sintonia com a Palavra de Deus; conhecer, assimilar e acolher as indicações do magistério da Igreja; seguir as diretrizes pastorais da Conferência Episcopal; colocar em prática o plano pastoral da (arqui)diocese ou prelazia; assumir os projetos e campanhas propostos pelo papa em nível mundial e pelos bispos em nível nacional, regional ou diocesano; trabalhar sempre colegiadamente formando uma equipe; valorizar os conselhos pastorais e comissões ocasionais; estar antenado à agenda pastoral da Diocese, região episcopal e paróquia participando dos eventos evitando atividades paralelas; valorizar as assembleias como importantes momentos de escuta, estudo, reflexão, discernimento e decisão; participar sempre das reuniões convocadas pela autoridade ordinária; fazer-se presente nas experiências de formação.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que são importantes as atitudes de sinodalidade dos líderes?
  2. Qual relação há entre comunhão sinodal e conversão pastoral?

Quais outras pistas concretas você acha importante como exercício de sinodalidade na liderança?