por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá
Conta-se que os monges do Tibet, nas montanhas da Ásia, procuravam desde séculos reunir em um grosso código todos os nomes com que os homens, pelo mundo inteiro, tivessem designado Deus. Tratava-se de aproximadamente nove bilhões de nomes a ser consignados naquele volume. O trabalho parecia muito lento. Estimavam que fossem necessários 200.000 anos para chegar a concluir a tarefa. Um deles então lembrou-se de uma máquina que podia ajuda-los. Alugaram um computador que trabalhava rapidamente e imprimia os nomes. Os monges mal tinham tempo para colar os nomes no enorme livro. Uma dúvida, porém, começou a surgir: – Por que procuramos reunir todos os nomes de Deus? Eles perceberam que esta era, e ainda é, a busca de todo ser humano: chegar a designar Deus pelo seu nome verdadeiro. A vida não tem outro objetivo a não ser a procura de Deus. Conhecê-lo e encontrá-lo é a maior alegria.
No Quarto Domingo da Páscoa a liturgia da Palavra nos oferece um trecho do capítulo 10 do evangelho de João. Lá encontramos um “nome” com o qual Jesus se apresenta e com este nome podemos reconhece-lo e invocá-lo. Ele disse, dele mesmo: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10,11). Podemos então chamar Jesus assim, sobretudo se, como lemos no evangelho, ele está em contraposição ao “mercenário” ou seja àquele que se importa mais com sua vida e seu lucro que com o bem-estar das ovelhas. Quando chega o lobo, na hora do perigo, o mercenário foge e abandona o rebanho. O verdadeiro pastor, que é o dono do rebanho está pronto a dar a própria vida para defender as ovelhas ameaçadas. O Bom Pastor e as ovelhas se conhecem de uma forma única e extraordinária comparável com a intimidade entre Deus Pai e o Deus Filho que só podemos pensar como uma comunhão perfeita de amor. A missão do Filho é aquela de conduzir ao único redil e ao único Pastor também ovelhas de outros rebanhos sem mais divisões, agressões e disputas entre elas. Para que isso aconteça precisamos escutar a voz do Bom Pastor que chama todos à unidade. Por fim, o Filho entrega livremente a sua vida para a salvação da humanidade porque sabe que é amado pelo Pai, nele confia e a ele obedece.
Todos nós, de tantas formas, somos chamados a “cuidar” de alguém, além, obviamente, de nós mesmos. Quantos pais e mães gastam a própria saúde para cuidar dos filhos quando pequenos e ainda quando crescem se precisam de carinho e ajuda especial. Quantas pessoas generosas criam filhos de outros e conseguem amá-los como se fossem os próprios, apesar de encontrar enorme dificuldades para educá-los. Tem grupos de famílias que “adotam” outras famílias sem recursos ou atribuladas por doenças e calamidades. Cuidar de uma ou mais pessoas idosas que vivem sozinhas é uma verdadeira missão que demanda carinho e fidelidade. Cuidar de alguém que precisa, até de um animal ou de uma planta, faz bem e se tornou hoje uma terapia para curar do desinteresse, da indiferença ou de problemas ainda mais sérios. Não podemos esquecer dos “bons” pastores e pastoras que tomam conta das nossas Comunidade do interior ou das periferias, sobretudo aquelas mais afastadas, de difícil acesso ou de bairros malfamados e perigosos. Muitas vezes, estas pessoas que fadigam nas Comunidades, muito dedicadas e fieis, são vistas com suspeita. São julgadas como interesseiras ou até “mercenárias” porque os que pouco ou nada entendem de vida cristã acham impossível que exista alguém que “trabalhe” de graça para os outros ou mesmo só para a glória de Deus. Ser generosos e dar um pouco do seu próprio tempo, da sua competência, do seu zelo, parece demais fora do comum e, de fato o é, se o avaliamos com a mentalidade gananciosa e calculadora que domina a nossa sociedade. Estes nossos irmãos e irmãs não aguardam o prémio simplesmente para mais tarde no céu. Eles sabem que fazer o bem, cuidar dos necessitados e das coisas de Deus dá gosto e alegria já nesta vida. O que virá depois será gratuidade de Deus. Eles e elas conheceram não só o nome de Jesus “Bom Pastor”, o encontraram e seguiram o seu exemplo.
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