Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá

Um rico lavrador entrou impetuosamente em casa e exclamou com voz aflita: – Antônia, há uma história terrível na cidade: o Messias chegou! – O que há de tão terrível nisso? – perguntou a mulher. – Acho o máximo. Por que está tão transtornado? O homem respondeu: – Depois de todos estes anos de suor e labuta, finalmente encontramos prosperidade. Temos mil cabeças de gado, nossos celeiros estão cheios de grãos e nossas árvores carregadas de fruta. Agora teremos que desistir de tudo e seguir o Messias! – Acalme-se – disse a mulher – O Senhor nosso Deus é bom, já enfrentamos tantas dificuldades e perigos. Ele sempre encontrou um meio para lidar com todos eles. Tenha fé, querido. Ele encontrará um jeito de lidar também com o Messias.

No evangelho de Mateus deste 28º Domingo do tempo Comum encontramos mais uma parábola que confirma, claramente, o desgaste de Jesus com os sumos sacerdotes e os anciãos do povo. Desta vez a comparação usada para falar do Reino dos Céus é aquela da festa de casamento nada menos que do filho do rei. Uma festa mais do que farta e caprichada, então. Inesperadamente, porém, os convidados recusaram o convite. “Não deram a menor atenção” diz o texto (Mt 22,5). Os negócios deles foram mais importantes e ainda maltrataram os enviados do rei. Este reagiu com indignação e mandou destruir a cidade daqueles assassinos. A festa estava preparada e, para que a sala ficasse cheia, o rei resolveu chamar todos os que os empregados conseguiriam encontrar nas encruzilhadas dos caminhos, sem distinção: “maus e bons” (Mt 22, 10). Nenhuma exigência particular, portanto, para entrar na festa, a não ser um “traje” adequado. Infelizmente, um dos convidados, chamado de “amigo”, não estava usando este “traje de festa”. Foi expulso e jogado na escuridão. “Por que muitos são chamados, e pouco são escolhidos” são as palavras finais do ensinamento de Jesus (Mt 22,14).

O que chama a nossa atenção nesta parábola, complexa e articulada, são ao menos três coisas: a oportunidade da festa, desprezada pelos primeiros convidados, a abertura para todos e o “traje” cobrado. Para a nossa vida de cristãos, o que está em jogo é, mais uma vez, o que entendemos por “seguimento” de Jesus. Se achamos que, afinal, tudo se reduz a um conjunto de norma a serem obedecidas, seguir o Senhor corre o risco de não ser nada atraente se comparado com outros interesses que se apresentam como mais fáceis, prazerosos e de resultados imediatos. A “cara de Quaresma” de muitos cristãos, como diz Papa Francisco, nem de longe faz pensar que o seguimento de Jesus seja  uma festa cheia de alegria e de fraternidade. No entanto, esta alegria não é de qualquer jeito ou, simplesmente, barata. Quem decide seguir a Jesus e participar da festa agora que o convite é feito a todos, deve, vestir o “traje” correto, ou seja deve estar consciente que a participação já é um grande dom que não deve nunca ser desprezado. O “traje de festa” só se consegue mesmo acompanhando Jesus no mesmo caminho da cruz, por onde ele andou, ou seja, aprender com ele a doar a nossa vida por amor aos irmãos. Esta é a verdadeira novidade da mensagem do Reino: é na gratuidade do amor que se encontra a verdadeira alegria e o verdadeiro sentido de sermos cristãos. Com efeito, cuidar dos nossos interesses ou sempre colocá-los à frente de tudo o que fazemos não nos traz nada de novo. Talvez teremos satisfação, orgulho, sucesso, seremos invejados por muitos, mas a alegria de estar gastando a nossa vida para algo de grande valor somente experimentamos quando conseguimos partilhar um pouco do que temos e somos com os nossos irmãos e irmãs a começar pelos mais pobres e esquecidos. É imprescindível provar que acreditamos nisso com a nossa vida. Não temos nenhum merecimento especial por ter sido chamados e escolhidos. Temos uma missão a cumprir: fazer que a vida de toda a humanidade se assemelhe cada vez mais a uma festa de alegria e de paz: o começo do Reino dos Céus. Mas se preferimos ficar contando o nosso gado, os grãos e as frutas…daremos um jeito também com o Messias verdadeiro. E ainda rezando a Deus.