por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

A Igreja toda está em unidade com Roma aonde ocorre a Décima Sexta Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre: Por uma Igreja sinodal, comunhão, participação e missão. Todos os seguidores do Senhor e que amam a Igreja são chamados a rezar pelo Papa Francisco e todas as pessoas participantes do Sínodo. É próprio da Igreja a caminhada em conjunto, sinodal, tornando-a vida de comunhão, de uma maior participação do povo de Deus, a missão de proclamar a todas as pessoas e os povos a palavra de Jesus, que é palavra de libertação, de vida eterna (Jo 6,68). Se a primeira palavra, comunhão indica a realidade da qual vive a Igreja, o dom da comunhão divina nos quais os seres humanos participam da vida com Deus Uno e Trino, a segunda, a participação refere-se ao modo com o qual a comunhão é vivida na história, enquanto a terceira, a missão assinala o motivo pela qual existe a Igreja, não para si mesma, mas para testemunhar o dom da comunhão para as pessoas e aos povos[1]. A seguir ver-se-á a sinodalidade na Igreja primitiva e como esta forma de viver influencia a vida da Igreja no mundo atual, para que em tudo se faça a Vontade de Deus.

São Clemente Romano e os Coríntios

A comunidade dos Coríntios mereceu por parte do Apóstolo São Paulo duas longas cartas, exortando-as à caridade fraterna. No final do século primeiro, o bispo de Roma, Clemente fez uma intervenção na comunidade no sentido da aceitação da autoridade apostólica proveniente do Senhor nos bispos, nos presbíteros, nos diáconos e na vida eclesial do povo de Deus. “Os que foram estabelecido por eles ou por outros homens eminentes, com aprovação de toda a Igreja, e que serviram irrepreensivelmente ao rebanho de Cristo, com humildade, calma e dignidade, e que durante muito tempo receberam o testemunho de todos, achamos que não é justo demiti-los de suas fincões”[2].

Exortação à unidade

O Bispo de Roma exortou a todas as pessoas da comunidade de Coríntios à unidade dos ministros ordenados e do povo de Deus. “Apeguemo-nos, portanto, aos inocentes e aos justos, porque eles são os eleitos de Deus. Para que haver brigas, ódios, disputas, divisões e guerras entre vós? Não temos nós um só Deus, um só Cristo, um só Espírito de graça, que foi derramando sobre nós, e uma só vocação em Cristo”[3].

O clima sinodal

São Clemente especificou a importância de um caminho em conjunto, sinodal através do amor em Cristo. “O amor tudo sofre e tudo suporta. No amor não há nada de banal, nem de soberbo. O amor não divide, o amor não provoca revolta, o amor realiza tudo na concórdia. No amor, tornam-se perfeitos os eleitos de Deus; sem o amor nada é agradável a Deus. É no amor que o Senhor nos atraiu a si. É por causa de seu amor para conosco, que Jesus Cristo nosso Senhor, conforme a vontade de Deus, deu o seu sangue por nós, sua carne pela nossa carne, e sua vida por nossa vida”[4].

A vivência da unidade na vida eclesial e social

Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir no final do século I afirmou a necessidade da unidade eclesial e social para quem segue o Senhor. “Procurai manter-vos firmes nos ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, para que prospere tudo o que fizerdes na carne e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no princípio e no fim, unidos ao vosso digníssimo bispo e à preciosa coroa espiritual formada pelos vossos presbíteros e diáconos segundo Deus”[5]. Ele pedia à comunidade dos Magnésios a vivência da unidade entre os seus membros, para que assim a mensagem de Jesus fosse melhor compreendida e acolhida para todas as pessoas, sobretudo aquelas que ainda não tinham o conhecimento de Jesus Cristo.

A participação dos cristãos no Império romano

A vida comunitária do fiel cristão foi dada também na vida social, pela participação na vida imperial. Isto manifestou sinal de sinodalidade. São Justino de Roma, filósofo, mártir após a metade do século II afirmou que os cristãos eram fieis aos tributos e contribuições, procurando pagá-los antes de todos aqueles que estabeleceram para isso em todos os lugares, assim como os cristãos foram ensinados por Cristo[6].

A adoração dada a Deus e o serviço dado às autoridades

São Justino continuou os seus argumentos em relação às autoridades, afirmando que a adoração é dada somente a Deus pelos fieis cristãos e em tudo eles servem a eles, “confessando que sois imperadores e governantes dos homens e rogando que, junto com o poder imperial, também se encontre que tenhais prudente raciocínio”[7].

A valorização da comunhão e da missão

Santo Ireneu de Lião, bispo nos séculos II e III afirmou à comunhão dos gentios, dos pagãos, à vida eclesial e comunitária, por meio do Verbo de Deus que se encarnou e morou com os seres humanos, como disse o discípulo João: “O Verbo se fez carne e veio morar entre nós (Jo 1,14). Por isso a Igreja gera um grande número de salvos, porque não é mais um intercessor, Moisés, ou um envaido Elias, que nos salvam, mas o Senhor mesmo, que gera mais filhos à Igreja”[8].

Sinais de sinodalidade

Tertuliano, Padre da Igreja de Cartago, nos séculos II e III disse que a comunidade estava unida pela Palavra de Deus e pelas exortações de seus dirigentes. “É nessas reuniões, também, que se fazem as exortações, as correções e as que Deus haverá de censurar. Com efeito, aí também os julgamentos são feitos com grande ponderação, como aqueles que têm a certeza de estar junto à presença de Deus: e enorme é o preconceito do julgamento futuro, se alguém cometer, assim, uma falta tal de modo que seja excluído da comunhão de orações e da assembléia e de toda a relação com as coisas santas”[9]

A refeição, a eucaristia

Tertuliano tinha presentes que a refeição mostrava a sua razão de ser por seu nome, tendo o significado de caridade, de amor. “Quaisquer que sejam as despesas que ela custe, é lucro fazer esta despesa em nome da piedade: com efeito, por meio deste refrigério, ajudamos os desprovidos, não que nós os tratássemos como vossos parasitas que aspiram à glória de ver sua liberdade ser subjugada, na condição que eles possam encher sua barriga em meio às afrontas, mas porque, diante de Deus, os humildes gozam de uma consideração maior”[10].

Os santos padres colocaram a importância da sinodalidade, por uma Igreja comunhão, participação e missão. O Espírito Santo ilumine a todas as pessoas participantes do Sínodo dos Bispos em Roma e ajude a todo o povo de Deus a viver o espírito sinodal, de serviço a Deus, ao próximo como a si mesmo.

 

[1] Cfr. Riccardo Battocchio, Gianni Genre, Basilio Petrà. Sentieri di sinodalità. Prospettive teologiche interconfessionali. Milano, San Paolo, 2022, pg. 52.

[2] Clemente Romano, 44,3. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 55.

[3] Idem, 46, 4-6, pg. 56.

[4] Idem, 49, 5-6. pgs. 58-59.

[5] Inácio aos Magnésios, 13,1. In: Padres Apostólicos, idem, pg. 95.

[6] Cfr. Justino de Roma. I Apologia, 17,1. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 34.

[7] Ibidem, 3, pg. 35.

[8] Irineu de Lyon. Demonstração da Pregação Apostólica, 94. In: São Paulo, Paulus, 2014, pg. 134.

[9] Tertuliano. Apologético. 39,4. São Paulo, Paulus, 2021, pg. 150.

[10] Idem, 39,16. pg. 154.