Por Fernando Geronazzo / Jornal O São Paulo

Dos quatro diáconos da Arquidiocese de São Paulo que se preparam para ser ordenados sacerdotes no fim deste ano, três deles realizam uma experiência missionária no estado paraense. O outro diácono faz a mesma experiência no Piauí.
Os diáconos Carlos André Romualdo, Francisco Ferreira da Silva e Luiz Carlos Ferreira Tose Filho passam os meses de julho e agosto nas dioceses de Castanhal e Marabá.
Essa atividade faz parte da última etapa do processo formativo dos futuros padres, o chamado ano pastoral, que é realizado em paróquias da Arquidiocese e em missões fora de São Paulo.
Os futuros padres relataram como foi o início da missão, os desafios pastorais que encontraram e o quanto a experiência tem contribuído em sua formação para o sacerdócio. Confira:

DIÁCONO CARLOS ANDRÉ

O diácono Carlos André está na diocese de Castanhal (PA), na Paróquia São João Batista, no município de São João de Pirabas, a cerca de 100 km da sede da diocese, com uma população de cerca de 30 mil habitantes e 50 comunidades.
O primeiro desafio encontrado pelo diácono é a distância entre as comunidades e a presença de apenas um padre para atendê-las. “Tenho acompanhado o padre nas celebrações nas comunidades, conduzido alguns momentos de adoração eucarística, visitas às casas e oração de exéquias pelos falecidos”, contou.
O diácono afirmou que a experiência tem enriquecido seu ministério diaconal, sobretudo, pelo testemunho de religiosidade do povo. “Percebo outra maneira de o povo manifestar a fé. Aqui, a religiosidade é muito marcada pelo Círio de Nazaré. Tenho certeza de que esta experiência marcará profundamente a minha história vocacional”, afirmou.

O diácono Carlos com a juventude de São João de Pirabas na Caminhada da Juventude deste ano

DIÁCONO FRANCISCO

O diácono Francisco foi enviado para a diocese de Marabá (PA). Ele está na Paróquia de Nossa Senhora das Dores, em Eldorado dos Carajás, com 36 comunidades. “O território paroquial é, na sua maioria, de zona rural e de difícil acesso. São capelas simples, algumas feitas de madeira e, por incrível que pareça, há até capela sem telhado”, observou.
O jovem diácono ressaltou que, na Paróquia, os missionários são sempre bem-vindos, uma vez que lá também há apenas um padre para atender as comunidades.
Sobre os desafios, Francisco chamou a atenção para o grande índice de pobreza e a falta de políticas públicas voltadas para garantir uma vida digna à população.
Do ponto de vista da evangelização, o diácono destacou o crescimento de comunidades evangélicas neopentecostais, o que desafia ainda mais a ação da Igreja para se fazer presente nessas comunidades.

Diáconos Francisco e Luiz com o bispo de Marabá, dom Vital Corbelinni, na Catedral Diocesana

DIÁCONO LUIZ CARLOS 

O diácono Luiz Carlos está na Paróquia Jesus Misericordioso, localizada em Cruzeiro do Sul, local conhecido popularmente como Quatro Bocas, porque dá acesso a quatro outras cidades.
Essa Paróquia, que também pertence à diocese de Marabá, possui 40 comunidades, a maioria em localidades rurais, o que dificulta o acesso. A distância de uma ponta a outra do território da Paróquia é de aproximadamente 200 km.
“As estradas são de terra, esburacadas, com pontes precárias, que algumas vezes caem ou são interditadas. O caminho é sempre uma surpresa pelo fato de essas estradas serem muito acidentadas, principalmente por causa da grande circulação de caminhões que transportam minérios e gado. A dificuldade com o deslocamento consome muito o tempo dos ministros para atenderem todas as comunidades”, relatou o Diácono.
O pároco e o diácono da Paróquia se revezam para atender as comunidades, de modo que elas costumam ter missas uma vez por mês e, em alguns casos, chegam a ficar até três meses sem Eucaristia. “Eu presidi a celebração da Palavra em uma comunidade em que nem o padre nem o diácono conseguiram visitar ainda este ano”, contou Luiz Carlos.
Na semana passada, o diácono visitou a comunidade da Vila Plano Dourado, a mais distante da Paróquia, localizada em uma das extremidades da diocese. Nessa região, a população passa a maior parte do tempo trabalhando nas fazendas e, no início da noite, se reúne na comunidade. O diácono aproveitou essa ocasião para celebrar a Palavra e conduzir encontros de formação sobre a fé e a doutrina.
“Tem sido uma experiência muito positiva, com um povo muito bom e acolhedor. É uma grande oportunidade conhecer uma realidade de Igreja muito diferente da que temos na Arquidiocese de São Paulo. Aqui, há pessoas que só têm oportunidade de participar da missa uma vez por ano”, destacou.