EPIFANIA – MAIS OFERTA, MAIS ALEGRIA

por Dom Pedro José Conti

Bispo da Diocese de Macapá

Estas palavras foram a propaganda de uma famosa firma internacional para atrair os compradores a participar de um dos maiores “Black Friday” de uma grande cidade ainda nos meses passados. Também nos dias antes do Natal e do Ano Novo, muitas pessoas foram as compras. De repente, parece que em nossa casa esteja faltando tudo: eletrodomésticos, celulares, roupa, sapatos e assim por adiante. Ninguém quer perder as “loucas” ou “insensatas” promoções. Mas, a nossa “alegria” vai depender mesmo das ofertas do mercado e do nosso consumo correspondente? De qual “alegria” estamos falando? Em geral, mas nem sempre, ficamos alegres quando realizamos, finalmente, algum desejo. No entanto, no conjunto de tantos sonhos e projetos, grandes e pequenos, parece que nunca ficamos realmente satisfeitos. A euforia passa, as emoções desvanecem, as luzes se apagam. Os bons momentos ficam na lembrança. Percebemos que a alegria é algo mais complexo, “misterioso”. Experimentamos situações únicas que nos deixam o gosto de um “quero mais” e ao mesmo tempo compreendemos que sempre nos faltará algo. Será esta a sede que todos temos de uma “alegria” plena e verdadeira?

No domingo da Epifania encontramos a bem conhecida página do evangelho de Mateus que, de forma narrativa, nos fala de uns Magos do Oriente que guiados por uma estrela procuraram até encontrar o menino Jesus. A imaginação popular e dos artistas deu nome e cores a estes Magos. Até o número deles parece determinado pelos dons que ofereceram: ouro, incenso e mirra. De fato, pouco ou nada sabemos deles. Igualmente difícil é saber  como esta “tradição” entrou a fazer parte do evangelho de Mateus. No entanto, basta lembrar a acolhida da fé cristã por parte de pessoas que vinham do paganismo e, vice-versa, a rejeição de Jesus articulada pelas autoridades dos judeus, para entender quem os Magos representam. Eles parecem entender e confiar nas profecias das Escrituras mais que os próprios sumos sacerdotes e mestres da Lei reunidos pelo rei Herodes. Mais tarde, serão estes últimos a planejar a morte de Jesus. Continua “misteriosa” a estrela que tinha guiado os Magos e que os conduz ao “lugar onde estava o menino”. É justamente neste momento que, diz o evangelho, os Magos “sentiram uma alegria muito grande” (Mt 2,9-10). Foi por causa desta alegria diferente que se ajoelharam e adoraram o Menino. Foi naquele momento de alegria que: “abriram os seus cofres e ofereceram presentes…”. Não pediram, ofereceram. Talvez, juntando sentimentos e gestos descobriremos de onde pode vir, se acreditamos, a verdadeira alegria.

Primeiramente, esta “alegria” é um dom. Não vamos encontra-la quando ficamos fechados em nós mesmos, nas coisas que acumulamos ou no sucesso que alcançamos. Devemos procurar a fonte desta alegria. Ela está lá, de onde vem a vida, de onde vem tudo o que somos e temos. Se entendemos que tudo é dom aprendemos a agradecer, a adorar Aquele que nos ama sempre, aquele Deus Pai de todos que “deu o seu Filho único” (Jo 3,16)). É a alegria de quem se sente agraciado sem merecê-lo, sem ciúme ou inveja dos irmãos. Esta é a alegria de que recebe e reconhece o dom. Mas tem também a alegria de doar. Os Magos ofereceram presentes. Como não lembrar as palavras do Senhor Jesus relatadas por Paulo em Atos dos Apóstolos 20,35: “Há mais felicidade em dar, do que em receber”? A fonte da verdadeira alegria que nunca acaba só pode estar no amor acolhido e oferecido gratuitamente. Precisamos reconhecer e agradecer a quem nos ama sem pedir nada em troca, a quem nos “aguenta” todos os dias e toda hora, a quem nos perdoa e parece não enxergar a nossa insensibilidade e ingratidão. Este alguém é Deus, com o amor dele sempre “em oferta especial”, mas, talvez, também alguém bem perto de nós e que raramente lembramos. Mas, depois disso, sabemos doar algo de nós e fazer felizes aqueles que encontramos nos caminhos da vida? O amor verdadeiro só funciona nos dois sentidos. Recebemos a vida para doar vida, para torná-la mais alegre e luminosa. Somente seguindo a “estrela” do amor generoso encontraremos a “grande alegria”: Deus Amor.

Artigos Anteriores

O NOVO MISSAL

Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá.

FOLHAS E FRUTOS

Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, bispo da Diocese de Macapá.

O OVO DA EMA

Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, bispo da Diocese de Macapá.

ELE VIVEU COMO UM SANTO E MORREU COMO UM HERÓI

por  Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá No dia 26 de outubro de 2007, Papa Bento XVI proclamou bem-aventurado Franz Jägerstätter que o próprio Papa definiu como um jovem objetor de consciência que lutou contra o nazismo durante a segunda guerra mundial e...

MISTER SMILE

por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá

TEREMOS QUE DESISTIR DE TUDO

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Um rico lavrador entrou impetuosamente em casa e exclamou com voz aflita: - Antônia, há uma história terrível na cidade: o Messias chegou! – O que há de tão terrível nisso? – perguntou a mulher. – Acho o máximo. Por que...

PODERIA DAR CONTA SOZINHO?

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá O santo rei Enrique II da Baviera, junto com a esposa Cunegonda, toda manhã ia na igreja para participar da missa e receber a comunhão. Alguns dos mais importantes membros da Corte disseram para ele: - Majestade, não é...

O AMOR NÃO É AMADO

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Neste domingo realizaremos mais um Círio em honra de Nossa Senhora de Nazaré. De novo Maria nos convoca para rezarmos e cantarmos juntos os louvores a Deus, Pai de bondade, que olhou com especial predileção aquela jovem...

O FILHO MAIS QUERIDO

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Perguntaram um dia a um sábio persa: - Tu tens muitos filhos; a qual preferes? O homem respondeu: - O filho que prefiro é o menor até que cresça; o que está longe até voltar; o que está doente até ficar curado; o que...

DIRETORES EXECUTIVOS

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Eis alguns resultados de pesquisas feitas pela imprensa em 2022. Os 150 Executivos bem mais pagos na Índia receberam 1 milhão de dólares em média no ano passado. Um único executivo...

EU LHE ENTREGO A SUA LIBERDADE

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Hussein estava à mesa do jantar quando um dos seus escravos, acidentalmente entornou uma vasilha quente sobre os joelhos de seu senhor. O escravo, visivelmente aterrorizado, recitou um verso do Alcorão: - O céu pertence...

NÃO POSSO RECEBER A SUA OFERTA

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Um rico senhor ofereceu mil rúpias a um pobre religioso indiano. Este perguntou ao homem rico: - Você está me dando mil rúpias. Quanto é que você tem para si mesmo? - Muitos, muitos milhares de rúpias. – foi a resposta....

COMUNHÃO, MISSÃO E PARTICIPAÇÃO

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Neste final de semana realizaremos em Macapá a 24ª Assembleia Diocesana.  Parece-me correto partilhar um pouco deste acontecimento tão importante para a caminhada da nossa Igreja local. Com efeito, todos os batizados...

A CRIANÇA PULOU DE ALEGRIA

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Santa Teresa de Calcutá, mais conhecida como “Madre Teresa”, queria que todas as irmãs fossem alegres e sorridentes. Ela dizia: - Lembrem-se que, numa comunidade, a religiosa alegre é como o sol. A alegria é o sinal da...

LONGITUDE E LATITUDE

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Durante a aula de geografia, uma criança, em sua simplicidade, respondeu às perguntas da professora e disse: - A vantagem da longitude e da latitude é que quando estamos afogando podemos gritar em que longitude e...

SENHOR, É BOM FICARMOS AQUI

 Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos aponta que aproximadamente nove de cada dez brasileiros (89%) dizem acreditar em Deus ou em um poder superior. O levantamento foi feito em 26 países, com 19.731 entrevistados,...

TINHAM DIREITO AO ALMOÇO

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá (PA) No início do século passado, uma pobre família do Sul da Europa decidiu emigrar para os Estados Unidos. As viagens eram de navio e duravam muitos dias. Levaram consigo bastante pão e queijo; era o que tinham para se...

AS SEMENTES NÃO SELECIONADAS

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Um irmão falou para o antigo Pai Poimen: - Quando dou um pouco de pão ou algo diferente ao meu irmão, os demônios desvalorizam a minha ação: teria sido dado para agradar o ser humano. O ancião disse: - Mesmo que isso...

TOTALITER ALITER

Dom Pedro José Conti Bispo Diocese de Macapá Quando ainda a língua latina era em uso, uma lenda medieval conta que dois monges de nome Rufo e Rufino, fizeram um juramento entre si: o primeiro que morresse devia voltar para dizer ao outro como era Deus. Combinaram que...