
por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá
Um fazendeiro ganhou um casal de emas. Uma manhã, surpreendeu-se com alguns ovos dispersos no mato. Com receio de os ovos serem devorados por predadores, ele os recolheu no celeiro, esperando que a ema os chocasse ali. Dias se passaram sem que a fêmea fosse cuidar dos ovos que acabaram por se estragar. Decepcionado com a perda, o homem resolveu consultar um amigo veterinário que lhe explicou o ocorrido. Ele disse: – Quando a ema vai chocar os seus ovos, primeiro põe alguns no mato, distribuídos ao redor do local onde fará o seu ninho. Esses ovos não serão chocados pois servirão, posteriormente, de alimento para os futuros filhotes. A mãe ema já sabe onde encontrar os ovos abandonados que, nesta altura, já estarão podres. Ela bica a casca destes ovos e espera a chegada de pequenos insetos, atraídos pelo cheiro. É nesse momento que os filhotes aproveitam para se alimentar desses bichinhos. Com esta explicação o fazendeiro entendeu que a mãe ema não encontrando mais os ovos espalhados e prevendo a falta de alimento para os seus filhotes, não chocou mais ovo algum. Uma lição de planejamento da mãe natureza.
No 32º Domingo do Tempo Comum continuamos a leitura do evangelho de Mateus e encontramos mais uma parábola sobre o Reino dos Céus. Como em outras páginas dos evangelhos, Jesus quer alertar os seus amigos sobre a volta do Filho do Homem para que fiquem atentos e vigilantes. No entanto, ele não define “o dia e nem a hora”. Significa que a espera deve ser constante e ativa. Algo novo, porém, aparece na parábola das dez jovens que aguardam a chegada do noivo para acompanhá-lo na festa de casamento. Logo no início da parábola se diz que cinco daquelas jovens eram “previdentes” e levaram uma reserva de óleo em vasilhas. As cinco “imprevidentes” não se preocuparam com isso. Por causa da demora do noivo, todas cochilaram e dormiram. Finalmente, no meio da noite o noivo chegou e as dez jovens preparam as suas lâmpadas. Surpreendentemente, as jovens previdentes não partilham o óleo que tinham trazido com as demais imprevidentes. Para estas últimas a única possibilidades é ir comprar o óleo que lhes falta com os vendedores. Com isso demoram e, quando elas voltam e querem participar da festa, a porta já está fechada e escutam as palavras duras do noivo-Senhor: “Em verdade eu vos digo: ‘Não vos conheço!’
Podemos dizer, então, que o assunto desta parábola mais do que o fato de ficar vigiando – já que todas as moças dormem – é o “óleo” de reserva que algumas tinham pronto e as outras tiveram que ir atrás para conseguir. Um “óleo” que, misteriosamente, não é possível partilhar porque ficaria “insuficiente” para todas as jovens. O óleo da parábola pode nos dizer, simplesmente, que sempre, nas questões da nossa fé e do nosso compromisso com Deus e com os irmãos tem algo de muito pessoal, uma decisão somente nossa da qual somos responsáveis e da qual teremos que prestar conta. É muito fácil nos esconder atrás dos outros ou até jogar a culpa de certas escolhas em quem nos mandou fazer, nos ensinou, nos iludiu e fez a nossa cabeça. Com certeza podemos ter muitas desculpas e justificativas a respeito do nosso agir, mas afinal cada um de nós é um sujeito único, com personalidade e responsabilidade própria. Acreditamos que Deus dá a todos liberdade e capacidades suficientes para escolher o rumo da própria vida, os valores que considerar mais ou menos importantes, a possibilidade de decidir em quem confiar, a quem obedecer ou desobedecer. A Palavra de Deus chama o conjunto destes saberes, conhecimentos e opções de “sabedoria” que, iluminada pela fé, constitui aquela “bagagem” pessoal que carregamos na viagem da vida. Todos somos tentados de trocar esta “bagagem” com outras diferentes, mais fáceis, mais atrativas porque liberdade e responsabilidade pesam. “Vendedores” de pacotes já prontos de conselhos e soluções têm muitos. Mas quando o noivo-Senhor chegar e abrir a porta teremos ainda a lâmpada acesa e, sobretudo, ele nos reconhecerá? Melhor planejar bem as coisas, como fez a mãe-ema.
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