A FONTE

por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá

Durante as férias, uma família, que morava numa grande cidade, foi passear num bosque. Todos admiravam a altura das arvores, o perfume e a variedade das flores. Depois de uma boa caminhada encontraram uma fonte que brotava da rocha. Na pedra estava esculpido: “Aprendam de mim!”. O pai perguntou: – O que podemos aprender com esta fonte? A mãe foi a primeira a falar: –  Esta fonte ensina a persistência. Não desiste. Nasce na profundidade da terra, brota da rocha e vai seguindo o seu caminho até chegar ao mar. A filha apontou a pureza da água e a sua gratuidade: – A fonte é generosa, se oferece a quem tem sede e nada exige por isso. Para o filho, a fonte servia a todos sem distinção: – Ela serve aos amigos, aos estranhos, às aves, aos animais, aos insetos…Finalmente o pai observou: – Cada um aprende alguma coisa, de acordo com sua experiência e o seu coração. A fonte é a mesma. Os corações é que são diferentes.

Cinquenta dias após a Páscoa chegamos ao Domingo de Pentecostes e celebramos, acompanhando o livro dos Atos dos Apóstolos, o dom do Espírito Santo derramado sobre os discípulos reunidos. O evangelho de João fala do dom do Espírito “ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana” (Jo 20,19) ou seja no mesmo dia de Páscoa. Mas já na cruz, ao morrer, Jesus “entregou o espírito” (Jo 19,30). Cada evangelista tem o seu jeito e as suas motivações para nos comunicar a mensagem: o Divino Espírito Santo é o último “dom” de Jesus aos seus amigos, é o cumprimento da sua promessa de não deixá-los órfãos na tarefa da missão (Jo 14,18). Por isso para o autor do livro dos Atos dos Apóstolos, é o Espírito Santo o protagonista da difusão do Evangelho. É ele que, orienta as decisões, acompanha os apóstolos e os sustenta nas dificuldades.

A solenidade de Pentecostes é sempre a oportunidade para refletir sobre a presença viva do Espírito Santo em nossa vida pessoal e na vida das nossas comunidades. No caminho sinodal, proposto com coragem pelo papa Francisco, somos convidados à escuta uns dos outros e todos juntos à escuta do Espírito Santo. Com efeito, todos nós percebemos que a nossa Igreja deve estar em constante renovação e reavivamento. Numa sociedade que muda rapidamente, métodos e linguagens de outros tempos precisam ser atualizados sem perder, evidentemente, o mais importante: a fidelidade à pessoa de Jesus Cristo e à sua mensagem reveladora e salvadora. Temos uma história milenar de santidade, evangelização e martírio, mas a cada mudança de época somos desafiados a encontrar formas melhores para comunicar a novidade do Evangelho aos homens e às mulheres deste novo tempo. Contamos com grandes exemplos, com a Tradição viva, mas sobretudo devemos dar atenção aos “sinais dos tempos” – situações, pessoas e formas de pensamento – através dos quais, junto com seus “ministérios” e “carismas”, o Divino Espírito Santo continua a sustentar a sua Igreja. Precisamos melhorar no diálogo entre nós, para superar também dentro das nossas comunidades aquelas polarizações que destroem a comunhão e aquelas forma de saudosismos do passado que nos impedem de abrir novos caminhos. A página de Pentecostes do livro dos Atos para apresentar a chegada do Espírito Santo usa as imagens bíblicas do vento e do fogo. Tomo a liberdade de lembrar mais uma imagem do mesmo Espírito, usada por Jesus, aquela da água. Lemos em Jo 7,37-39: “No último e principal dia da festa (das Tendas), Jesus, de pé, exclamou: ‘Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim. Conforme diz a Escritura: Do seu interior fluirão rios de água viva’. Ele disse isso, falando do Espírito que haveriam de receber os que cressem nele; pois não havia ainda o Espírito, porque Jesus ainda não fora glorificado”. Jesus é a única e inesgotável “fonte”. Todos teremos sempre muitas coisas para aprender com ele. No entanto, aqueles que saciarem a sua sede a esta fonte, se tornarão por sua vez fontes capazes de satisfazer a sede de outros. A água-Espírito Santo, corre livremente, nunca cansa de se doar a todos, é generosa e gratuita. É a água do amor, da sabedoria, da comunhão. Talvez sejamos nós a ter pouca sede dela.

Artigos Anteriores

O pastorzinho veio a ser Papa

Um dia, lá pelo ano de 1530, um frade de Áscoli (Itália) perdera o caminho. Encontrando por acaso um pastorzinho, aproximou-se do pequeno e perguntou-lhe: – Por onde é que se vai a Áscoli? – Sei, sim, senhor. Caminhemos devagar, a passo dos meus cordeirinhos, e eu o...

Maria Imaculada

O demônio apareceu a um monge disfarçado de anjo da luz e lhe disse: - Eu sou o anjo Gabriel e fui enviado a ti. O irmão, porém, lhe respondeu: -Tem certeza de que não foi enviado a um outro? Eu não mereço a visita de um anjo. Imediatamente o demônio foi embora. Neste...

O ganhador

Chegou o dia tão esperado dos Jogos da Juventude, uma competição esportiva entre os alunos dos colégios da cidade. João Pedro com os seus 14 anos, alto e forte, sabia que tinha chance de ganhar, na corrida, a prova de velocidade. Mário, seu colega, era, porém, o seu...

Pode ficar com o troco

Tem coisas que todos sabemos, mas que custamos a reconhecer. Por exemplo: quando nos relacionamentos pessoais e familiares começa a entrar o interesse através da troca de favores ou com promessas de dinheiro, algo quebrou. Este é o testemunho de uma mãe: “Certo dia,...

Nos braços de Jesus

Um casal de pessoas sem nenhuma fé tinha uma filha. Nunca tinham falado para ela de Deus. Uma noite, quando a criança tinha cinco anos, brigaram. A violência chegou a tal ponto que ele atirou na mulher e depois cometeu suicídio. A criança viu tudo. Depois de algum...

As rosas que não acabavam

Três amigos, bem diferentes entre si, estavam reunidos na casa de um deles, tomando café, quando apareceu um Gênio, como um daqueles dos quais tinham ouvido falar nas fábulas infantis. – Gênio, o que você nos traz? Perguntaram, agradecendo a oportunidade e esperando...

O REI E O ASTRÓLOGO

Conta-se que Luiz XI, rei da França, consultava os astrólogos. No entanto achava que o astrólogo da Corte o estava enganando e, por isso, estava disposto a condená-lo à morte. Mandou chamar esse astrólogo e disse-lhe:- Vou lhe pedir uma previsão, e, caso você erre,...