ELE VIVEU COMO UM SANTO E MORREU COMO UM HERÓI

por  Dom Pedro José Conti

Bispo da Diocese de Macapá

No dia 26 de outubro de 2007, Papa Bento XVI proclamou bem-aventurado Franz Jägerstätter que o próprio Papa definiu como um jovem objetor de consciência que lutou contra o nazismo durante a segunda guerra mundial e pagou com a vida a sua não-colaboração com o regime que tinha ocupado a pátria dele, a Áustria. Franz era casado com Franziska e tinha três filhas com ela. Desde o começo ele compreendeu quanto a humanidade fosse ameaçada pelo totalitarismo. Com coragem, decidiu não ter nada a ver com o regime. Por isso votou contra a anexação da Áustria ao Reich, não aceitou o cargo de prefeito da sua cidade, rejeitou todas as contribuições para a sua família e se recusou a fazer parte do exercito nazista. O sacerdote que o acompanhou Franz ao suplício assim comentou a morte dele: “Ele viveu como um santo e morreu como um herói. Tenho certeza que este homem simples é o único santo que tenha encontrado na minha vida”.

Neste primeiro domingo de novembro celebramos a solenidade de Todos os Santos. Mais uma vez somos convidados a assumir com mais coragem e determinação a nossa “vocação”. Todos nós, batizados, somos chamados à santidade ou seja a buscar sempre uma prática melhor da nossa vida cristã. Por isso, é muito bom que a Igreja nos aponte homens, mulheres, jovens e crianças como modelos de santos e santas, nas mais diversas situações da vida. Tudo para nos dizer claramente que o anseio de santidade não deve ser entendido como algo extraordinário, reservados a poucos. O contrário da santidade é a mediocridade, ou seja, a desistência de antemão de acreditar mais nas força e na gratuidade do amor de Deus que nas nossas própria capacidades. Os santos e a santas que a Igreja nos apresenta foram também pecadores cheios de defeitos como todos, mas não ficaram só se lamentando das próprias fraquezas para se fechar numa tristeza improdutiva. De fato, mais ficamos pensando nas nossas dificuldades, mais deixamos de enxergar as situações de tantos irmãos e irmãs que de alguma forma pedem o nosso testemunho. Sem experimentar a solidariedade, a gratuidade, a fadiga de carregar os pesos uns dos outros, murchamos como cristãos. Apesar das nossas manifestações religiosas, deixaremos de entender quão grande foi o amor do Pai que enviou o seu Filho, o qual, por sua vez, assumiu a nossa condição humana até a morte, numa comunhão universal com todas as criaturas viventes.

Muitos santos e santas, também se hoje são famosos, nunca foram valorizados durante as suas vidas. Alguns foram desprezados, outros silenciados, outros suportaram a mais absoluta indiferença. Somente depois – e às vezes muito depois – as pessoas perceberam a coragem deles e delas, a “profecia” que o seu jeito e as suas escolhas representavam. Somente eles e elas encontraram no silêncio das suas consciências e na intimidade com o Senhor, a luz que o Divino Espírito Santo nunca deixa faltar a quem nele confia. Muitos, como o bem-aventurado Franz, perceberam os riscos que corriam, passaram pela amargura do abandono dos demais, foram considerados insanos ou loucos, mas não desistiram daquilo que a sua fé e a sua consciência lhes diziam. Quantos homens e mulheres ainda hoje, em tantos lugares diferentes, continuam sendo os pobres, os aflitos, os mansos, os que tem fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os perseguidos por causa da justiça, os injuriados por causa do nome de Jesus. É deles o Reino dos Céus! Foram, e são, eles e elas que não deixaram, e não deixam, morrer a esperança de uma humanidade melhor. A Igreja nos convida a lembrar Todos os Santos e Santas, não para aplaudi-los simplesmente, mas para reavivar em todos nós o desejo de seguir os seus exemplos. Nenhum deles e delas procurou a fama e o sucesso. Sabiam, como nós sabemos, que o único prémio para o qual vale a pena amar e dar a vida é o próprio Senhor que guarda os tesouros de bondade acumulados quase sempre no silêncio, no escondimento e até na ingratidão. Nunca é tarde para trilhar o caminho da santidade.

Artigos Anteriores

FALAR À TOA

Artigo semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá

O TREM SILENCIOSO

Artigo semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá

O NOVO MISSAL

Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, Bispo da Diocese de Macapá.

FOLHAS E FRUTOS

Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, bispo da Diocese de Macapá.

O OVO DA EMA

Artigo Semanal de Dom Pedro José Conti, bispo da Diocese de Macapá.

MISTER SMILE

por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá

TEREMOS QUE DESISTIR DE TUDO

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Um rico lavrador entrou impetuosamente em casa e exclamou com voz aflita: - Antônia, há uma história terrível na cidade: o Messias chegou! – O que há de tão terrível nisso? – perguntou a mulher. – Acho o máximo. Por que...

PODERIA DAR CONTA SOZINHO?

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá O santo rei Enrique II da Baviera, junto com a esposa Cunegonda, toda manhã ia na igreja para participar da missa e receber a comunhão. Alguns dos mais importantes membros da Corte disseram para ele: - Majestade, não é...

O AMOR NÃO É AMADO

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Neste domingo realizaremos mais um Círio em honra de Nossa Senhora de Nazaré. De novo Maria nos convoca para rezarmos e cantarmos juntos os louvores a Deus, Pai de bondade, que olhou com especial predileção aquela jovem...

O FILHO MAIS QUERIDO

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Perguntaram um dia a um sábio persa: - Tu tens muitos filhos; a qual preferes? O homem respondeu: - O filho que prefiro é o menor até que cresça; o que está longe até voltar; o que está doente até ficar curado; o que...

DIRETORES EXECUTIVOS

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Eis alguns resultados de pesquisas feitas pela imprensa em 2022. Os 150 Executivos bem mais pagos na Índia receberam 1 milhão de dólares em média no ano passado. Um único executivo...

EU LHE ENTREGO A SUA LIBERDADE

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Hussein estava à mesa do jantar quando um dos seus escravos, acidentalmente entornou uma vasilha quente sobre os joelhos de seu senhor. O escravo, visivelmente aterrorizado, recitou um verso do Alcorão: - O céu pertence...

NÃO POSSO RECEBER A SUA OFERTA

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Um rico senhor ofereceu mil rúpias a um pobre religioso indiano. Este perguntou ao homem rico: - Você está me dando mil rúpias. Quanto é que você tem para si mesmo? - Muitos, muitos milhares de rúpias. – foi a resposta....

COMUNHÃO, MISSÃO E PARTICIPAÇÃO

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Neste final de semana realizaremos em Macapá a 24ª Assembleia Diocesana.  Parece-me correto partilhar um pouco deste acontecimento tão importante para a caminhada da nossa Igreja local. Com efeito, todos os batizados...

A CRIANÇA PULOU DE ALEGRIA

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Santa Teresa de Calcutá, mais conhecida como “Madre Teresa”, queria que todas as irmãs fossem alegres e sorridentes. Ela dizia: - Lembrem-se que, numa comunidade, a religiosa alegre é como o sol. A alegria é o sinal da...

LONGITUDE E LATITUDE

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Durante a aula de geografia, uma criança, em sua simplicidade, respondeu às perguntas da professora e disse: - A vantagem da longitude e da latitude é que quando estamos afogando podemos gritar em que longitude e...

SENHOR, É BOM FICARMOS AQUI

 Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos aponta que aproximadamente nove de cada dez brasileiros (89%) dizem acreditar em Deus ou em um poder superior. O levantamento foi feito em 26 países, com 19.731 entrevistados,...

TINHAM DIREITO AO ALMOÇO

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá (PA) No início do século passado, uma pobre família do Sul da Europa decidiu emigrar para os Estados Unidos. As viagens eram de navio e duravam muitos dias. Levaram consigo bastante pão e queijo; era o que tinham para se...

AS SEMENTES NÃO SELECIONADAS

Dom Pedro José Conti Bispo da Diocese de Macapá Um irmão falou para o antigo Pai Poimen: - Quando dou um pouco de pão ou algo diferente ao meu irmão, os demônios desvalorizam a minha ação: teria sido dado para agradar o ser humano. O ancião disse: - Mesmo que isso...

 Dom Pedro José Conti

Bispo da Diocese de Macapá