A APARIÇÃO DE JESUS RESSUSCITADO À SANTA MARIA MADALENA EM SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA

por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá 

No evangelho da Páscoa, a liturgia leu o evangelista São João tendo presentes Maria Madalena, depois Pedro e o discípulo amado, João (cf. Jo 20,1-9). O Evangelista São João colocou dados importantes no seu relato que no primeiro dia da semana, que para os cristãos, católicos e católicas, é o domingo, enquanto ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo e percebeu que a pedra fora removida. Ela foi ao encontro de Simão Pedro e o outro discípulo que o Senhor amava dizer-lhes que tiraram o Senhor do túmulo e não sabiam onde o colocaram. Juntamente com Maria Madalena, Pedro e João foram até ao túmulo e somente o discípulo amado viu e acreditou, porque eles não tinham ainda compreendido a Escritura que o Senhor ressuscitaria dos mortos (cf. Jo 20,1-10). São Cirilo de Alexandria, bispo no século V, elaborou uma doutrina a respeito de Santa Maria Madalena, percebendo-a como uma personagem que seguiu a Jesus e também pela ressurreição do Mestre foi lhe dada a graça da aparição de Cristo Ressuscitado e pela Igreja o título de Apóstola dos Apóstolos. 

Mulher diligente e sabedora das coisas

O bispo Cirilo afirmou que Maria Madalena foi uma mulher diligente, sabedora das coisas do Senhor, de modo que ela não ficou em casa e nem abandonou o sepulcro[1] ainda que os dois apóstolos tivessem voltado para casa. Sabendo que o sábado tinha se esgotado e já na aurora do outro dia, andou de pressa ao sepulcro e vendo que a pedra estava removida, pensou que o corpo de Jesus fora levado embora. A mulher percebeu desta forma as coisas de modo que ela voltou para as pessoas que amavam o Senhor, para fazer com que os dois discípulos a ajudassem na sua procura[2]. Mas como ela alimentava uma fé muito forte e constante não se deixou tomar por sentimentos de desconfiança para com o Senhor Jesus pelo escândalo da cruz, mas o chamou como ela o conhecia de Senhor ainda que estivesse morto, tanto era o afeto que ela tinha para com o Senhor[3].

A Escritura tinha dito a respeito da ressurreição

Ela foi contar aos dois discípulos as coisas vistas por ela. Os dois chegaram ao túmulo, mas não pensavam que Cristo ressuscitou dos mortos. A ressurreição ocorreu no primeiro dia da semana. Por isso foi que o evangelista João disse que Maria Madalena foi ainda de madrugada junto ao sepulcro. Já o evangelista Mateus colocou a ressurreição na noite profunda do primeiro dia da semana(cf. Mt 28,1-2). Mas para São Cirilo, noite profunda e o primeiro dia da semana são as mesmas coisas, conforme a Escritura, para significar a ressurreição do Senhor no domingo[4].

Fora do túmulo, Maria chorava

Enquanto os discípulos voltaram para casa, Maria Madalena permaneceu junto ao sepulcro, chorando pelo lado de fora, São Cirilo disse que se os discípulos se esconderam para não serem vistos pelas autoridades judaicas, devido ao Salvador, Maria Madalena que amava Cristo Jesus não tinha nenhum receio ou medo, nem pensava na violência dos judeus, estava corajosamente junto ao sepulcro, derramando lágrimas e não somente porque o Senhor morreu, mas porque suspeitava que fosse levado o corpo de Jesus embora do sepulcro[5]. Maria Madalena chorou pela sua relação forte com Deus e voltou o seu pensamento sincero ao Senhor, o Salvador e através primeiramente dos anjos, o conhecimento do seu mistério[6].

Os anjos disseram a Maria Madalena de parar de chorar (cf. Jo 20,14). O fato era que a morte fora destruída e também a corrupção do seu corpo, de modo que Cristo, Nosso Senhor ressuscitou dos mortos renovou toda a criação, dando a vida a incorruptibilidade pelo dom da vida eterna. Ela na verdade deveria alegrar-se pelas coisas boas que o Senhor fez pela sua morte e ressurreição. O fato de que os anjos estavam lá o corpo do Senhor não poderia ter sido levado embora com violência porque eles protegeram o corpo do Senhor[7].

A aparição do Ressuscitado dada à Maria Madalena

São Cirilo levantou uma pergunta o fato de que os anjos não se manifestaram aos discípulos mas sim à mulher e falaram com ela. O bispo disse que o Cristo Salvador se faz conhecer às almas de quem o amavam, a plenitude do seu mistério e as almas nas quais dar-se-iam a fé[8]. Maria Madalena respondeu a estas expectativas, pelo seu amor grande ao Senhor. Ela olhou para trás e viu Jesus que estava lá, mas Maria não sabia que era Jesus(cf. cf. Jo 20,14). Como ela não deixava de chamar Cristo, Senhor demonstrando todo o seu afeto pelo Senhor, porque ela acreditava em Jesus, ela gozou da visão das coisas desejadas, a ressurreição de Jesus. Viu Jesus, no entanto ainda não entendeu que lá Ele estava presente (cf. Jo 20,15).

A aparição vizinha a ela

Maria Madalena viu Jesus vizinho a ela e não reconheceu que era Ele, não discernindo o aspecto do corpo e a fisionomia da face, ainda que o Senhor tivesse lhe dito: Mulher, porque choras? (cf. Jo 20,15) Aquelas palavras eram dóceis mas ainda desconhecidas para ela. O fato era que Maria chorava pelo Senhor que sofreu, estava morto e além disso ela suspeitava que as autoridades tinham levado embora o corpo de Jesus. Mas agora o Senhor ressuscitado estava lá, apareceu para ela, transformando o choro em alegria[9]. Para o Bispo de Alexandria, Jesus Ressuscitado enxugou as lágrimas de Maria Madalena e também de todas as mulheres, levando-as do pecado original à graça da vida. Maria tornou-se a sua primícia[10].

Maria: Mestre

O Senhor a chamou pelo nome. Maria Madalena entendeu logo aquela nova presença e o honrou no modo habitual chamando-o de Rabbuni, isto é Mestre e tomada de uma imensa alegria, correu junto dele para tocar o seu santo corpo e para ser bendita pelo Senhor (cf. Jo 20, 16)[11].

O Senhor ainda não subiu ao céu

O Senhor pediu a ela de não abraçar os seus pés porque Ele ainda não tinha subido ao seu Pai (cf. Jo 20,17), Se na encarnação em diversas ocasiões Jesus tocava nas pessoas e as pessoas também tocavam nele, para receberem as curas, agora Ele pediu a Madalena de não tocá-lo. Segundo São Cirilo a explicação dada era porque Ele não tinha ainda voltado para o Pai e também não tinha sido enviado o Espírito Santo por meio dele, do Senhor Jesus ressuscitados dos mortos, sobre as pessoas de modo que era somente em Pentecostes o grande acontecimento da descida do Espírito Santo[12], de modo que Ele disse que ainda não tinha voltado ao Pai para assim enviar o Espírito Santo,

A missão do Ressuscitado a Maria Madalena

O Senhor Ressuscitado deu a Maria Madalena, pela sua forte fé e pelo seu amor um duplo prêmio, porque ela viu o Senhor ressuscitado uma vez que ela estava chorando por Cristo, mas o Senhor transformou a tristeza em alegria. São Cirilo percebeu a nova situação que o Senhor deu àquela mulher superando a antiga condição de pecado na qual o ser humano ouviu a voz da serpente de modo a desobedecer a Deus pela comida do fruto proibido. Agora, novamente num jardim, o Senhor libertou daquela maldição na qual a mulher chorava, desejando que ela, Maria Madalena fosse anunciadora de grandes bens e lhes deu ordens de anunciar a sua volta aos céus, de modo que pela obediência às palavras do Salvador e anunciando aquilo que conduz à vida eterna libertasse do pecado todo o gênero humano[13].

Os pés de Maria Madalena

Ela era desejosa por abraçar os pés do Senhor Ressuscitado, no entanto, ela se tornou uma mensageira, através de seus pés e mente de uma boa noticia (cf. Is 52,7).  Ela foi digna, pelos seus pés especiosos da pregação do Profeta, para anunciar aos outros discípulos, a ressurreição de Jesus[14]. Maria Madalena não era mais expectadora da ressurreição de Jesus, mas sua anunciadora, de uma forma diferente dos judeus que não acreditavam na ressurreição de Jesus[15].

Para São Cirilo, deu o evangelista João uma menção importante a Maria Madalena porque esta mulher amava de uma forma ardente a Jesus e ela foi por primeiro ao sepulcro, buscando por todos os lugares o corpo de Jesus, pensando que algumas pessoas tinham levado o seu corpo embora[16].

A missão do Ressuscitado dada a Maria Madalena para apóstolos

O Salvador deu honra e glória eterna a Maria Madalena, confiando-lhe a missão de anunciar aos irmãos, os apóstolos: “Subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). Para São Cirilo esta afirmação do Senhor buscava referências para dizer para Maria Madalena que o Unigênito Verbo de Deus fez-se semelhante a todo o gênero humano, para que este fosse semelhante a ele, na renovação da graça do Senhor[17].

A missão de Maria foi de proclamar a todas as pessoas que são irmãos e irmãs em Jesus, por graça de Deus, e o Pai de todos, seja de Jesus e todos: “Meu Pai e vosso Pai, mas também que Deus é o seu Pai e Deus nosso (cf. Jo 20,17). O Deus do Universo é Pai de Jesus Cristo e é também o Pai de toda a humanidade. Jesus chama Deus Pai seu Pai pela sua natureza divina e nós, suas criaturas, somos semelhantes a Ele, pela sua generosidade e a sua bondade[18]. Maria Madalena foi anunciar aos discípulos que ela viu o Senhor e contou o que Jesus lhe tinha dito (Jo 20,18). Maria anunciou aos seus irmãos, os apóstolos que Jesus ressuscitou dos mortos, estando fora das relações da morte e levou aos discípulos as palavras da vida e a primícia do evangelho divino[19].

Santa Maria Madalena foi discípula do Senhor Jesus e ela manifestou grande amor a Ele de modo que teve uma graça muito grande, uma manifestação do Ressuscitado para ela. Ela levou o título de apóstola dos apóstolos, por ser uma das primeiras mulheres mensageiras do Ressuscitado, levando aos outros as palavras de vida eterna que vinham de Jesus às outras pessoas e aos apóstolos.

[1] Cfr. Cirillo di Alessandria. Commento al Vangelo di Giovanni/3. (Libri IX-XII)). Traduzione e Indici di Luigi Leone. Roma: Città nuova editrice, 1994.

[2] Cfr. Idem, pgs. 464-465.

[3] Cfr. Ibidem, pg. 465.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 465.

[5] Cfr. Ibidem, pgs. 466-467.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 467.

[7] Cfr. Ibidem, pg. 468

[8] Cfr. Ibidem, pg. 468.

[9] Cfr. Ibidem, pg. 470.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 470.

[11] Cfr. Ibidem, pg. 471.

[12] Cfr. Ibidem, pgs. 473-474.

[13] Cfr. Ibidem, pgs. 474-475.

[14] Cfr. Ibidem, pg. 475.

[15] Cfr. Ibidem, pgs. 475-476.

[16] Cfr. Ibidem, pg. 476.

[17] Cfr. Ibidem, pg. 476.

[18] Cfr. Ibidem, pg. 477. .

[19] Cfr. Ibidem, pg. 478.

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