
por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar na Arquidiocese de Belém do Pará
Todos os anos na Arquidiocese de Belém do Pará, no terceiro sábado de outubro, acontece um grande evento voltado para os jovens: trata-se da Romaria da Juventude. Esse evento faz parte do conjunto de celebrações da festividade de Nossa Senhora de Nazaré. O Círio de Nossa Senhora de Nazaré é a maior manifestação religiosa católica do mundo realizada num só dia. Dele participam, todos os anos, mais de dois milhões e meio de fiéis católicos.
As multidões são provenientes da capital do Estado, do interior paraense, de outros estados e até do exterior. Esse mar de fiéis é composto por homens e mulheres, de todas as faixas etárias: bebês de colo, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Todavia, com muita clareza, logo percebemos a predominância da massa de jovens. Isso é muito significativo e consolador.
É verdadeiramente digno de reflexão constatarmos a presença de dezenas de milhares de jovens participando da procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré pagando suas promessas. Os jovens pagadores de promessas nos falam do seu forte senso de gratidão, pois assim reconhecem que as graças recebidas, por intercessão de Nossa Senhora de Nazaré, não devem nos deixar indiferentes.
Os exercícios de piedade do processo de pagamento das promessas pelas graças alcançadas são muitos e variados de acordo com os benefícios recebidos. Alguns fazem duros exercícios de caminhar carregando objetos, outros se movem de joelhos por kilômetros, outros ainda perseveram na procissão segurando a corda sem soltá-la a duras penas, há ainda aqueles que passam, a manhã toda, servindo água para os fiéis ou sendo voluntários de outras formas. Os jovens manifestam no Círio, não somente senso de gratidão, mas também sua solidariedade.
Por isso, vale a pena refletirmos sobre a significatividade da presença dos jovens no Círio e na Romaria da Juventude. Antes de tudo, merece ressaltar, que não se trata de uma participação qualquer, como pura presença, mas profundamente marcada pela alegria, entusiasmo, envolvimento, senso de piedade, respeito pelos outros, reverência religiosa, espírito de sacrifício, manifestação de gratidão, sensibilidade humana, exercício de solidariedade etc.
No terceiro sábado de outubro, acontece a Romaria da Juventude que é uma longa caminhada com dezenas de milhares de jovens recheada de orações, reflexões, músicas, danças, coreografias, repetição de refrões, palavras de ordem, animada por bandas musicais católicas e pregadores. Em geral, o roteiro se inicia com a celebração Eucarística numa Igreja paroquial e se conclui nos arredores da basílica de Nossa Senhora de Nazaré. Todos os jovens católicos são convidados, mas também desse eventos participam muitos jovens evangélicos, curiosos e outros sem opção religiosa definida.
O forte aspecto lúdico desse evento estimula a congregação de muitas categorias de jovens; todavia, especial participação assumem os jovens de expressões juvenis como as de grupos paroquiais, de movimentos eclesiais, associações, congregações, Novas Comunidades etc. Mas também participam muitos jovens que não tem nenhuma forma de engajamento na Igreja, mas sentem-se convocados por seus amigos e participam desse evento.
A Romaria da Juventude é uma celebração preparada pelos jovens e para os jovens; esse evento é uma expressão viva do protagonismo juvenil; são eles mesmos que fazem o processo de preparação, organizam a celebração Eucarística, preparam o processo de animação e o conteúdo da romaria do início até o seu final.
Merece atenção o forte senso comunitário juvenil dessa Romaria porque quase sempre, os jovens chegam e participam em grupos. Às vezes, são grupos de comunidades, carismas, serviços, parentes, amigos… Dezenas de grupos são identificados por suas cores, sinais, uniformes, músicas, danças etc. Esse fato evidencia a importância da experiência de grupo na vida dos jovens.
A Romaria da Juventude é expressão concreta e evidente da jovialidade da Igreja presente na Arquidiocese de Belém. Por outro lado, a transcende porque, na verdade, da Romaria da juventude, participam também milhares de jovens provenientes das Dioceses vizinhas.
Essa viva, criativa e efusiva participação dos jovens tanto no Círio, quanto na Romaria da Juventude, nos diz que os jovens são profundamente atraídos pelo mistério, que são portadores do dom da fé, vivem a experiência de serem Igreja, conservam no coração uma grande paixão por Deus e deixam-se envolver facilmente por atividades pastorais quando estas são marcadas pela leveza, sendo dinamizadas por uma metodologia em sintonia com a psicologia juvenil.
Demos graças a Deus pela sensibilidade religiosa das nossas juventudes e façamos todo o possível para que a chama da fé, que dá sentido à vida, se mantenha sempre acesa!
Artigos Anteriores
DOM ANTÔNIO ASSIS: O ESPÍRITO SANTO DEFENDE, EDUCA, REJUVENESCE A IGREJA
Introdução A celebração da Solenidade de Pentecostes nos estimula a revisitar e meditar o mistério da identidade do Espírito Santo e sua missão. É Ele quem impulsiona a Igreja e a mantém em permanente estado de missão para ir ao encontro das Galileias nos tempos...
DOM ANTÔNIO ASSIS: PASTORAL JUVENIL E SINODALIDADE.
Introdução O tema sinodalidade tem sido objeto de constante e de mais intensa reflexão nos últimos anos. Na Constituição Apostólica Episcopalis Communio o Papa Francisco afirma que Cristo fala através de todo o povo de Deus, na totalidade dos fiéis, que receberam a...
DOM ANTÔNIO ASSIS: A EDUCAÇÃO CATÓLICA E PREVENTIVIDADE (Parte 20 – Final)
Introdução O conceito de “educação preventiva” foi gestado a partir da reflexão crítica sobre muitos dramas humanos começando na Europa. No final do século XIX havia de modo geral em alguns países europeus uma grande preocupação para com a assimilação de lições...
DOM ANTÔNIO ASSIS: a educação católica no ensino superior (Parte 19).
A EDUCAÇÃO CATÓLICA NO ENSINO SUPERIOR (Parte 19) Introdução O perfil do Ensino Superior Católico está vinculado ao conceito de educação que a Igreja traz consigo, focado na dignidade da pessoa, na ciência em prol do desenvolvimento humano integral, inspirado nas...
Dom Antônio: Educação Católica: A DIMENSÃO ÉTICA DA EDUCAÇÃO CATÓLICA (Parte 18)
Introdução A identidade da educação católica traz consigo um modo próprio de se expressar; uma das suas mais profundas características é a dimensão ética. Na verdade, há uma natural relação entre educação e ética porque o desenvolvimento humano pressupõe...
Dom Antônio: Educação Católica: A ESCOLA CATÓLICA E A PROMOÇÃO DAS SADIAS RELAÇÕES HUMANAS (Parte 17)
Introdução O contexto sociocultural em que vivemos desafia profundamente a educação católica para que não perca o seu fervor, brilho e identidade. O forte pessimismo nas múltiplas dimensões da vida pessoal e da sociedade constituem grandes desafios a serem...
Dom Antônio: Educação Católica: O Pacto Educativo Global e o impacto social da educação (Parte 16)
Introdução Continuemos a nossa reflexão sobre o Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco. Esse desafio nos estimula a aprofundar a dimensão social da educação que brota da consciência da missão de promoção do Reino de Deus. A educação católica tem um...
Dom Antônio: Educação Católica: o Pacto Educativo Global e seus horizontes (Parte 15)
Introdução A Igreja, desde a sua fundação, sempre se mostrou muito sensível para com a educação. O ser humano é vocacionado, ou seja, chamado ao desenvolvimento integral e sem a promoção da educação, isso não é possível. A Igreja é educadora e sempre...
DOM ANTÔNIO ASSIS:EDUCAÇÃO CATÓLICA: Educar para o humanismo solidário (Parte 14)
Introdução Continuemos a nossa reflexão sobre o documento “Educar para o humanismo solidário”. Recordemos as principais ideias apresentadas anteriormente para podermos assim, continuar a reflexão sobre o referido texto. A base inspiradora desse documento é a...
DOM ANTÔNIO ASSIS:EDUCAÇÃO CATÓLICA: Educar para o humanismo solidário (Parte 13)
Introdução Em 2017, por ocasião da celebração dos 50 anos da encíclica Populorum Progressio (PP), sobre o desenvolvimento humano dos povos, escrita pelo Papa Paulo VI em 1967, a Congregação para a Educação Católica lançou um documento com o título...
DOM ANTÔNIO ASSIS: EDUCAÇÃO CATÓLICA: O educador, Bom Pastor dos seus educandos (Parte 12)
Introdução Encontramos na Sagrada Escritura uma abundância de referências sobre a figura do pastor e das ovelhas. A economia dos povos da bíblia era baseada na agricultura e na pecuária. Daí se entende a abundância de referências à figura das ovelhas,...
DOM ANTÔNIO ASSIS: EDUCAÇÃO CATÓLICA: Fraternidade e Educação – Texto Base Agir (Parte 11
Introdução A terceira parte do texto-base da Campanha da Fraternidade nos estimula a traduzir em ações concretas as provocações da realidade contida na primeira parte (o Ver) e as inspirações presentes no discernir (II parte). Por se tratar de uma realidade...
DOM ANTÔNIO ASSIS: FRATERNIDADE E EDUCAÇÃO: Texto Base – Discernir (Parte 10)
Introdução O exercício da escuta é importante para a tomada de decisões em nossa vida. Mas para que o discernimento seja seguro, precisamos ser formados, pois a formação nos proporciona a assimilação de critérios e parâmetros que nos possibilitam analisar com...
DOM ANTÔNIO ASSIS: CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2022 “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Parte 9)
Introdução Estamos iniciando mais um tempo quaresmal e, com ele, somos chamados a promover a Campanha da Fraternidade (CF). O tempo quaresmal nos estimula à conversão, à melhoria de nós mesmos, e isso não é possível sem revermos a qualidade da nossa relação com os...
DOM ANTÔNIO ASSIS: Educação católica – Fundamento Cristológico. Jesus educador, por excelência (Parte 8).
Introdução Continuemos nossa reflexão sobre a identidade da educação católica centrando o nosso olhar sobre a pessoa de Jesus Cristo. O fundamento cristológico é determinante para a educação católica, porque Jesus Cristo é a pedra angular, o Mestre e o Senhor...
DOM ANTÔNIO ASSIS – EDUCAÇÃO CATÓLICA: fundamento bíblico, a contribuição dos profetas (Parte 7)
Introdução Foi muito significativa a contribuição dos profetas para a saúde religiosa, moral e política do povo de Israel. Eles foram profundamente sensíveis aos temas sociais; não só denunciaram problemas, mas foram propositivos nos ensinamentos, alertando,...
DOM ANTÔNIO ASSIS: Educação católica – Fundamento bíblico (parte 6).
Introdução A concepção de educação do ponto de vista bíblico depende do período histórico, do contexto sociocultural e de sujeitos específicos considerando suas responsabilidades. Há uma profunda relação entre a consciência de fé, com seus múltiplos...
DOM ANTÔNIO ASSIS – Educação católica: fundamento ético e antropológico (parte 5).
Introdução Para que possamos compreender a sensibilidade da Igreja Católica para com o mundo da educação precisamos mergulhar no universo da identidade do ser humano: quem é o homem, qual é a sua origem, qual é a sua vocação, em que consiste a sua dignidade, qual é a...
DOM ANTÔNIO ASSIS – Educação católica: princípios de fidelidade da educação católica (parte 4).
EDUCAÇÃO CATÓLICA: PRINCÍPIOS DE FIDELIDADE DA EDUCAÇÃO CATÓLICA (Parte 4) Introdução A Igreja Católica se interessa pela educação porque ela faz parte do processo de evangelização. Como já refletimos no primeiro artigo desta série, não existe profunda evangelização...
Dom Antônio Assis- Educação Católica: a identidade do educador (Parte 3)
Educação Católica: a identidade do educador (Parte 3) Introdução Refletindo sobre o binômio inseparável “evangelização e educação” nos deparamos com sérias consequências que devem caracterizar a educação católica. Sem esse cuidado não seremos capazes de...