TEMA DO CÍRIO 2023: “Maria, sinal de esperança para o povo de Deus em caminho”

por Dom Antônio de Assis Ribeiro

Bispo Auxiliar na Arquidiocese de Belém do Pará

Introdução

Todos os anos o Círio de Nossa Senhora de Nazaré em Belém ganha um tema específico. O sentido do tema é evidenciar um aspecto do perfil de Maria que possa ser objeto de reflexão catequética para o enriquecimento do povo de Deus. Portanto, o tema do Círio de cada ano, é sempre uma pista de aprofundamento da beleza e largueza da mariologia.

Além desse aspecto teológico de aprofundamento da mariologia, ainda há outros dois fatores que estimulam a escolha do tema do Círio de cada ano. Trata-se do dinamismo da vida pastoral da Igreja e da sociedade na atualidade. Dessa forma, a palavra central do tema do Círio deste ano é “esperança”; essa virtude tem uma íntima relação com a vida de Maria, do dinamismo da Igreja e a atual situação da era contemporânea profundamente tentada pelo pessimismo, desânimo, cansaço, derrotismo, desespero, depressão, carência de sentido para vida. Brevemente aprofundemos o sentido do tema do Círio deste ano: “Maria, sinal de esperança para o povo de Deus em caminho”.

  1. O tema do Círio deste ano nos convida a olhar para “Maria como sinal”. Então, somos convidados a refletir sobre a pedagogia dos sinais. O que é um sinal e para que serve? Os dicionários da língua portuguesa nos apresentam muitos significados da palavra “sinal”. Em síntese nos falam de uma realidade visível que comunica, informa, adverte, orienta, informa, confirma, consola, tranquiliza, indica, comprova, demonstra, preanuncia algo etc. “Maria é sinal de Esperança” porque nos estimula a olhar para o futuro a partir da sua vida e da Vida de Cristo. Olhando para a vida de Maria, com seus gestos e palavras, a partir dos Evangelhos, encontramos muitos sinais estimulantes para o nosso caminho de Peregrinos da Esperança: Maria é a mestra da escuta da Palavra de Deus, ela traduz em atitudes de serviços a sua experiência de intimidade com Deus, é corajosa e ousada, rica de espírito de iniciativa, testemunha zelo para com a sua família, está firme na hora do sofrimento etc.
  2. A Igreja é povo de Deus peregrino. A Igreja é o povo formado pelos discípulos de Jesus Cristo que estão a caminho da pátria definitiva, a plenitude do Reino de Deus, à glória eterna. Essa noção de peregrinação ou caminho, quer indicar o dinamismo da Igreja neste mundo. A Igreja não é uma realidade estática, mas viva; é a dinâmica comunidade de Jesus Cristo movida pela fé, a esperança e a caridade. Por ser formada por pessoas a Igreja tem uma fase terrena profundamente encarnada na história, essa é a Igreja peregrina; mas ao mesmo tempo, a Igreja transcende a história e chega a sua plenitude formando a comunidade Celeste, que é a Igreja Triunfante. A Igreja enquanto caminha neste mundo tem seus olhos voltados para o alto, aspirando as coisas celestes, onde está Cristo em sua plenitude (cf. Cl 3,1-2). O mesmo apóstolo afirma que “a nossa cidadania é dos céus, de onde aguardamos com grande expectativa o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fl 3,20). Dessa forma a nossa habitação terrena é passageira (cf. 2Cor 1,5; 1Pd 1,1), porque somos peregrinos. Alicerçados na fé, animados pela esperança e comprometidos na prática do amor, estamos em busca da nossa pátria celeste (cf. Hb 11,14).
  3. Maria é a peregrina da Esperança por excelência porque se fez serva de Deus para a Salvação do mundo (cf. Lc 1,38). Na solene definição do dogma da Assunção, o Papa Pio XII em 1950, afirmou: “A Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre foi assunta (elevada) em corpo e alma à glória celestial.” Portanto, para nós ela é sinal de estímulo, esperança, consolo. A ideia de peregrinação, porque estamos em movimento rumo ao santuário eterno, sintetiza o dinamismo da Igreja que testemunha a promoção do Reino de Deus. Maria é modelo da peregrina fiel que, tendo vivido plenamente a vida terrena, agora é nosso modelo e intercede pelos discípulos do seu Filho.
  4. Maria, é Mãe e esperança da humanidade. Toda mãe é naturalmente fonte de esperança e segurança para seus filhos, sobretudo, enquanto estes vivem na condição de total dependência e menoridade. Maria é sinal de esperança para a humanidade porque Ela nos gerou o Filho de Deus na humanidade, possibilitando a nós a visibilidade, aproximação e encontro com o Messias, o Salvador. A maternidade está profundamente vinculada à esperança.
  5. Como mãe da comunidade dos discípulos do seu filho, ela é a intercessora por excelência, como toda mãe diante das necessidades dos seus filhos em suas aflições. Essa condição de intercessora é reconhecida na ladainha de Nossa Senhora com seus diversos títulos relacionados à intercessão, como por exemplo, Maria é invocada como a Mãe da Divina Graça, Virgem poderosa, Virgem clemente, Porta do céu, Refúgio dos pecadores, Consoladora dos aflitos, Auxílio dos cristãos, Rainha da paz, Senhora do Bom Remédio, Advogada, mãe do Perpétuo Socorro etc. Todos esses títulos confirmam o papel de intercessora, sinal de esperança e consolo para seus filhos.
  6. Maria é sinal da vivência das virtudes teologais. Na vida de Maria há uma profunda síntese de fé, esperança e caridade. A sua intimidade com Deus, a levou a ser profundamente aberta, sensível, criativa, solidária com as pessoas durante a sua vida. Ela foi sinal da ternura da bondade Divina para com a humanidade aceitando ser a mãe do Emanuel, o Deus conosco; sua presença na casa de Isabel foi sinal concreto da sua sensibilidade, espírito de iniciativa e fé traduzida em obras; foi o mesmo que aconteceu em Caná da Galileia, quando seu espírito de percepção e corajosa iniciativa tornou-se o ponto de partida da esperança para os jovens noivos para que a festa não viesse ao fracasso.
  7. Maria é sinal de esperança por sua plena realização vocacional em Cristo. Como peregrinos neste mundo, vulneráveis aos múltiplos condicionamentos terrenos, somos passivos de erros, desvios, desânimo. Contemplamos na sociedade o drama da frustração vocacional sofrido por muitas pessoas. Maria é sinal da pessoa plenamente realizada, que testemunhou com generosidade o sentido da sua vida. Tendo já alcançado a meta definitiva da sua existência, está junto ao seu Filho, no céu, gloriosa. Também nós somos chamados à glória; mas ainda vai se manifestar o que seremos (cf. 1Jo 3,2). Do Céu, Maria nos acompanha e intercede junto a Deus por nós, seus filhos a caminho pela nossa plena realização em Cristo. A mãe nunca quer ver seus filhos infelizes, frustrados, fracassados.
  8. Maria é sinal de Esperança porque é a mulher vestida de sol (cf. Ap 12,1), cheia de Graça, portadora da trindade Santa (cf. Lc 1,28-28). Portanto, onde está Maria, está Cristo Nossa Esperança. Muito significativo foi o gesto de Jesus no alto da Cruz apontando Maria como sua mãe e o discípulo compreendendo tudo, levou Maria para a sua casa. Maria é sinal de proteção, de intercessão e de esperança para as famílias. Onde há sinais da presença de Maria, ali há compromisso com a defesa da vida indefesa e inocente (cf. Mt 2,13-15).
  9. Maria é sinal de esperança porque foi a educadora do Mestre e Salvador. Há uma profunda relação entre educação e esperança. Por isso, em Caná da Galileia, Maria assumiu a missão de zelosa educadora dos serventes para a obediência ao Senhor e, assim, se garantiu a esperança da boa festa para o noivos. No compromisso com a educação há um claro sinal de quem acredita no futuro, no pleno desenvolvimento humano, na justiça e na Paz. Maria educa a humanidade para o sentido da vida, que está na vivência da obediência ao mandamento do Amor, de onde brota a esperança do Bem viver, da Alegria e da Paz Interior, bondade e realização humana.
  10. Maria é sinal de esperança por sua firmeza no Calvário. Ela é a consoladora dos aflitos e a desatadora dos nós que anima e consola seus filhos nos momentos dramáticos. Por estar sofrendo serenamente junto à cruz de Jesus, Maria é sinal de firmeza e estímulo para quem está sendo tentado ao desespero e ao desânimo no sofrimento. Não são poucos aqueles que, ao fazer a experiência do sofrimento, entram em crise de fé e se desesperam. Ela é referência de quem é portador de solidez espiritual e por isso, mantém-se íntegra nos momentos dramáticos da existência.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que não podemos considerar uma “esperança sem sinais”?
  2. Quais dos sinais (atitudes) de Maria mais lhe educam?
  3. Quais são as consequências de um viver sem a Esperança?

 

 

Artigos Anteriores

AMOR E VERDADE NA COMUNICAÇÃO

Dom Antonio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Todos os anos a Igreja Católica dedica uma jornada de reflexão sobre as Comunicações Sociais que acontece no IV domingo do mês de maio, e tem um tema específico cada ano comentado numa mensagem do...

PECADOS CAPITAIS DA LIDERANÇA (Parte 16)

Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução Há vícios que inviabilizam plenamente a possibilidade de uma liderança efetiva e eficaz, tornando-a estéril, amarga, opressora, injusta e assim o líder, às claras se torna “persona...

LÍDER: SEMEADOR DE ESPERANÇA E OTIMISMO (Parte 15)

Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém LÍDER: SEMEADOR DE ESPERANÇA E OTIMISMO (Parte 15) Introdução: O autêntico líder não é aquele que simplesmente manda, mas sobretudo, é quem alimenta esperança e nutre o otimismo nos seus...

LIDERANÇA E SENSIBILIDADE HISTÓRICA (Parte 14)

Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução Em muitas ocasiões tenho encontrado, em diversos contextos pastorais, líderes messiânicos, aqueles que manifestam através de suas atitudes que chegaram ilusoriamente para resolver...

ZILDA ARNS: HEROÍNA DA PÁTRIA

Dom Antônio de Assis Ribeiro, SDB Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém   No dia 20 de abril foi divulgado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.552, que colocou o nome da Dra. Zilda Arns Neumann, médica pediatra, sanitarista e fundadora...

LIDERANÇA E ESPIRITUALIDADE (Parte 12)

Dom Antônio de Assis Ribeiro, SDB Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução A exigente missão de liderança proporciona, muitas vezes ao líder, o enfrentamento de sérios desafios e problemas. Se ele não tiver uma forte estrutura espiritual, nessas...

 TERNURA E FIRMEZA NA LIDERANÇA (Parte 11)

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução “O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, quando vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e sai correndo. Então o lobo ataca e...

A LIDERANÇA ÉTICA (Parte 10)

por Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução Uma das mais importantes exigências que recai sobre um líder é aquela que diz respeito a sua dimensão ética. Quando Jesus disse aos seus apóstolos: “entre vocês, não deve ser assim....

APROFUNDAMENTO DO SENTIDO DA CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Na Bíblia a Páscoa aparece pela primeira vez no capítulo doze do livro do Êxodo, dentro do contexto de vida nova, como memória da libertação da escravidão no Egito (cf. Êxodo 1-3). A Páscoa judaica...

LIDERANÇA, INQUIETUDE E VISÃO EMPREENDEDORA (Parte 9)

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução O líder tem a missão de cuidar das pessoas, estimulá-las, animá-las, promovê-las, envolvê-las, corresponsabilizá-las na missão fomentando a busca de respostas a desafios e problemas....

LIDERANÇA e SINODALIDADE (Parte 8)

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução Os líderes da Igreja, em todos os níveis, têm como missão comum a promoção do Reino de Deus. A missão de evangelizar da Igreja tem como meta essa única finalidade; portanto, todos os...

LIDERANÇA E TEOLOGIA DO SERVIÇO (Parte 7)

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução Na Igreja, mesmo se não somos todos líderes e com funções de coordenação, somos servidores. Mas liderar os outros é servir. É uma das mais significativas e exigentes formas de serviço...

LIDERANÇA: A SÁBIA HORA DA SUCESSÃO (Parte 6)

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução A Sagrada Escritura nos diz que há um tempo para cada coisa. Então é preciso saber discernir o momento certo de cada uma; quando iniciar e também quando terminar. “Debaixo do céu há...

LIDERANÇA E SENSIBILIDADE ESTRATÉGICA (Parte 5)

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução A diversidade de desafios a serem administrados por um líder, em qualquer áreas de serviço, lhe exigem algo a mais, além da boa vontade e da generosidade. Para que sua missão seja cumprida...

LIDERANÇA E ESPÍRITO DE INICIATIVA (Parte 4)

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução Outro grande desafio que percebemos em nossas paróquias, comunidades, grupos, movimentos e, entre tantas outras, em relação aos líderes, é a questão da carência de espírito de iniciativa....

LIDERANÇA E FORMAÇÃO HUMANA (Parte 3)

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução Muitas são as condições necessárias para que haja um bom líder, a primeira delas talvez, seja a formação humana. O líder é gente que trabalha com gente, e por isso, precisa conhecer o ser...

QUAL É A SUA ATITUDE DIANTE DO SOFRIMENTO ALHEIO?

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém A pandemia da COVID-19 ainda permanece entre nós promovendo centenas de milhares de mortes no Brasil e milhões no mundo; enquanto isso, novos dramas se abatem sobre a humanidade como a guerra na...

CARACTERÍSTICAS E SINAIS DE LIDERANÇA  (Parte 2)

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução Parece uma questão desnecessária, mas na verdade, os fatos que contemplamos na sociedade e na vida pastoral da Igreja nos dizem que o conceito de liderança não é bem claro para muitas...

LIDERANÇA: NECESSIDADE E IMPORTÂNCIA (Parte 1)

Dom Antônio de Assis Ribeiro Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém Introdução Um dos grandes temas pastorais que precisamos estar continuamente refletindo, aprofundando e ressignificando é aquele da “liderança”. Esse assunto não é importante somente para a Igreja,...

Dom Antônio: PAZ E A CONFRATERNIZAÇÃO UNIVERSAL

Introdução No dia 1º. de janeiro, estreando o ano novo, comemoramos também o dia da Confraternização Universal. Esse grande sonho só é possível se for consequência da paz; não há fraternidade onde não se vive a paz. A condição para a experiência da fraternidade, do...