
por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá
Com o Primeiro Domingo de Advento iniciamos o novo Ano Litúrgico. No Brasil, a partir deste domingo iniciaremos a usar, em nossa missas, o novo “Missal”. Para quem não sabe este é o nome que damos àquele “livro” grande do qual o padre que celebra a missa tira as palavras que pronuncia proclamando algumas e falando em voz baixa outras. Diferente é o livro do qual são lidas as leituras da Palavra de Deus, este é chamado de “Lecionário”. Todo padre deve seguir o que está escrito no Missal, não por mera obrigação, mas porque ele não está celebrando um ritual fruto de sua própria criatividade. Ele está dizendo palavras que, apesar de ser traduzidas e adaptadas para as diversas línguas do mundo inteiro, são as mesmas para todos os cristãos representando assim a mais firme unidade e a mais sólida comunhão. De fato tudo começou com uma edição do Missal, chamada “típica” (escrita em latim!), ou seja, de referência para todos, depois coube a cada Conferência Episcopal a tradução e a escolha daquelas partes que serão próprias daquele pais. Por exemplo, depois dos Santos e Santas que são venerados no mundo inteiro, têm Santos e Santas propriamente brasileiros, que são conhecidos somente por aqui. Outra questão são certas expressões da linguagem que assumem sentidos diferentes também se os países falam e usam a mesma língua. Toda língua viva, ou seja falada por um povo, vai se modificando e se torna necessário introduzir palavras novas, justamente porque as mais antigas caíram em desuso e não expressam mais como deveriam o seu rico sentido. No entanto, o que é fundamental para a celebração permanece igual para todos em qualquer lugar. Poderíamos dizer que o novo Missal é mais uma atualização necessária da nossa maneira de rezar para que continuemos a vivenciar com participação ativa e alegre as nossas celebrações litúrgicas e assim sermos confirmados em nossa fé, conforme o antigo ditado: “Lex orandi, lex credendi”, o que rezamos é o mesmo que acreditamos. Rezar diferente, poderia parecer que cremos também diferente!
Quis explicar um pouco tudo isso porque ouviremos muitos católicos dizer que “agora a Missa mudou”. Nada disso. As novas formulas de oração e de respostas foram introduzidas para ajudar a rezar melhor e, esperamos, entender melhor o que estamos dizendo e fazendo. Com certeza serão estas novas palavras a chamar a nossa atenção e precisaremos de um tempo para nos adaptar. A Liturgia católica, porém, não é feita só de palavras, ela é um conjunto de muitas outras formas de participação do povo fiel que nunca deve ser um mero expectador de uma representação ou encenação feita pelo presidente da celebração mais alguns ministros e cantores em destaque. Papa Francisco no n.42 de sua Carta Apostólica sobre a Liturgia “Desiderio desideravi” apresenta um breve elenco destes “elementos que são exatamente o oposto de abstrações espirituais: pão, vinho, óleo, água, perfume, fogo, cinzas, pedra, tecido, cores, corpo, palavras, sons, silêncios, gestos, espaços, movimento, ação, ordem, tempo, luz”.
Talvez alguns se perguntem se vai ter espaço para a criatividade das pessoas ou dos diversos grupos. Vai ter sim, porque alguns momentos, gestos e palavras são deixados sob a responsabilidade do presidente da celebração. No entanto, a Missa não pode ser pensada como algo a ser construído “a gosto do freguês” porque o que estamos celebrando não é propriedade nossa, é de toda a Igreja, dela a recebemos e em comunhão com ela a realizamos. Por reservada que seja, nenhuma Missa é “particular” ou privativa, ela é sempre o memorial da Páscoa de Jesus Cristo, o evento daquela salvação que é oferecida e alcança a todos. Limitar a própria criatividade não quer dizer celebrar as Missas de forma mecânica, fria e impessoal. Significa acolher com confiança aquilo que nos é proposto no Missal dando ênfase às expressões que lá estão, preparadas por quem, com certeza, fez isso para nos ajudar a rezar melhor. Espero que o uso atencioso do novo Missal seja uma excelente oportunidade para todos, para redescobrir e valorizar mais a beleza e a alegria das nossas celebrações litúrgicas. Porque junta vai sempre a nossa fé.
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